PCC: morto pela Rota já fingiu ser policial para assaltar na Marginal
Com passagens por roubo e tráfico de drogas, Ildo Gonçalves do Nascimento, suposto membro do PCC, foi morto a tiros pela Rota em SP
atualizado
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São Paulo – Ildo Gonçalves do Nascimento, de 49 anos, suposto integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC) morto por policiais militares das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) na última quinta-feira (6/6), já esteve envolvido em assaltos, tráfico de drogas e motins dentro de cadeias de São Paulo.
Com passagens pelo sistema prisional desde o início da década de 1990, Ildo respondeu a pelo menos 15 processos e fez parte de um bando acusado de se passar por policial para praticar roubos na Marginal Tietê, uma das principais vias da capital paulista, em julho de 2013. Por esse crime, foi condenado a 11 anos, 2 meses e 22 dias de prisão.
Uma das vítimas era um taxista que levava um casal de passageiros que mora fora do Brasil. Segundo relatou à polícia, ele foi abordado pelo condutor de um Volkswagen Gol, equipado com um giroflex, que apresentou um distintivo da Polícia Civil, deu ordem de parada e trancou o táxi.
Após a vítima parar o carro, um Fiat Tempra e uma Fiorino estacionaram à sua traseira para impedir a fuga. Armados, dois criminosos desceram do Gol, dois da Fiorino e outros quatro do Tempra. O grupo, então, anunciou o assalto.
Assalto
Os bandidos, que chegaram a algemar a mulher durante o assalto, roubaram celulares, joias e malas das vítimas. Segundo depoimento do taxista, o grupo se preparava para sequestrar as vítimas. “Eram violentos e proferiam ameaças a todo momento”, diz o registro.
Um policial que estava de folga, no entanto, estranhou a abordagem e chamou reforço. Com a aproximação dos PMs, parte dos ladrões conseguiu fugir.
Ildo, no entanto, que estava com uma pistola calibre 9 mm e tentava tirar o motorista de dentro do táxi naquela hora, foi preso em flagrante. Dois comparsas também foram pegos.
Em interrogatório, Ildo admitiu o crime. Então foragido do regime semiaberto, ele alegou que havia realizado o assalto porque estava desempregado, era pai de seis crianças e “estava com necessidade”.
Prisões
No sistema penitenciário paulista, Ildo já havia passado por diferentes cadeias de Ribeirão Preto, Lavínia, Mirandópolis, no interior, além da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau – conhecido reduto do PCC.
Há faltas consideradas graves na sua ficha criminal. Entre elas, estão a apreensão de chip de celular e tentativa de burlar a vigilância. Também fugiu da cadeia ao menos quatro vezes.
Outro procedimento contra Ildo foi instaurado na prisão após ele ser pego com uma lima (instrumento usado para serrar), além de faltas por dano ao patrimônio (rasgou o colchão da cela) e por desobediência.
Essa última foi assinalada após ele e outros presos se recusarem a voltar para a “tranca” porque as visitas haviam sido suspensas.
Após cumprir parte da pena e passar por exame psicológico, o criminoso conseguiu progressão de regime e voltou para as ruas.
Mochila com R$ 140 mil
Ildo seria pego, mais uma vez, em março de 2022. Na ocasião, ele foi detido em flagrante por repassar uma mochila, recheada com R$ 140.410,00, em dinheiro vivo, para um traficante.
Segundo o inquérito do Departamento Estadual de Investigações sobre Entorpecentes (Denarc), o valor era oriundo do “recolhe” em biqueiras, como são chamados os pontos de venda de drogas, pelo qual Ildo seria responsável.
No endereço do comparsa, os policiais encontraram mais R$ 30.630,00, também em dinheiro vivo, além de dois cadernos com anotações do tráfico.
A Polícia Civil diz que o esquema envolvia lavagem de dinheiro resultado do tráfico de drogas na região de Heliópolis, a maior favela paulista, na zona sul de São Paulo. A investigação que resultou na denúncia contra o grupo durou mais de um ano.
Em setembro de 2023, Ildo foi condenado a 4 anos e 1 mês de prisão por tráfico. O regime inicial estabelecido pela Justiça foi o semiaberto.
Morto pela Rota
Na tarde da última quinta-feira (6/6), Ildo foi morto a tiros de fuzil e pistolas por policiais da Rota, a tropa de elite da PM, na Avenida Eduardo Sabino de Oliveira, na zona leste da capital. No carro dele, um Renault Sandero, os agentes encontraram três cartuchos de emulsão explosiva, duas espoletas pirotécnicas e um segmento de estopim.
Os policiais afirmam que receberam, naquele dia, uma denúncia anônima sobre um assaltante, envolvido em roubos a carro forte no interior de São Paulo, que estaria a caminho de uma reunião em Guarulhos, na Grande São Paulo, para planejar novos ataques.
Segundo a versão dos PMs, a equipe montou campana e esperou o carro do suspeito aparecer. “Neste momento, o condutor do veículo apontou uma arma de fogo [da marca] Glock e [calibre] 9mm na direção deles, que então reagiram efetuando seis disparos”, diz o boletim de ocorrência.
Baleado no rosto e no peito, Ildo foi levado ao Hospital Geral de Guarulhos, onde teve a morte constatada. Ao analisar o corpo, peritos encontraram um ferimento na nuca, outro no rosto e mais dois no tórax.
PCC
De acordo com a denúncia anônima recebida pelos PMs, Ildo seria aliado de Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, liderança histórica do PCC, que é apontado como um dos pivôs do racha na facção.
A mesma denúncia também dizia que o suspeito era um dos participantes de roubos a carros-forte em Cordeirópolis, no interior do estado, em abril. Na ocasião, os bandidos explodiram veículos que transportavam valores na Rodovia Washington Luís.
Entre os policiais, há suspeita de que o assaltante tenha sido delatado por alguém do próprio bando.