PCC impõe lei do silêncio em bairro que viralizou com “beijo grego”
Bairro de Araraquara ganhou projeção nacional após história de triângulo amoroso envolvendo genro e sogro viralizar nas redes sociais
atualizado
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São Paulo – A repercussão nacional de um inusitado triângulo amoroso envolvendo genro e sogro provocou reação imediata do braço da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) em Araraquara, interior de São Paulo, após a filha traída expor nas redes sociais, na semana passada, a situação.
Conforme apurou o Metrópoles, o interesse da imprensa pela vida íntima dos moradores do bairro Valle Verde foi identificado como um fator que poderia atrapalhar os negócios de traficantes locais — a tal ponto que a ordem sobre a “lei do silêncio” correu rapidamente pela vizinhança.
“O disciplina [do PCC] da região proibiu [entrevistas sobre o caso]”, disse um morador, que pediu para ter seu nome preservado. Fontes da polícia, também ouvidas em sigilo, confirmaram que a facção atua na região, assim como em outros pontos periféricos do município.
Os disciplinas são membros da organização criminosa responsáveis pelo cumprimento das “regras de conduta” do PCC, que, como já foi mostrado pelo Metrópoles, são ao menos 45.
Tribunal do crime
Além das normas registradas por escrito, os disciplinas podem determinar condutas dos moradores de uma determinada área para que o tráfico de drogas não seja prejudicado — porque a venda de drogas é a principal fonte de renda da organização.
Como o caso do “beijo grego” ganhou o noticiário e chamou a atenção das pessoas para a região, o crime organizado determinou que o assunto não fosse mais comentado. Quem descumpre uma ordem pode ser punido em um tribunal do crime.
“Todo mundo precisa obedecer à cartilha de conduta, não só o PCC. A facção cobra de toda a periferia, de toda a comunidade em que está presente”, afirmou ao Metrópoles, em junho deste ano, o promotor de Justiça Leonardo Romanelli, coordenador do Núcleo de Inteligência e Gestão de Conhecimento do Ministério Público de São Paulo (MPSP), sobre as normas estipuladas pela facção.
Faixa com alerta de espancamento
Entre o fim de 2021 e início de 2022, o PCC proibiu que motos fossem empinadas em comunidades da capital, da Grande São Paulo e do interior. A prática é conhecidas nas periferias como “chamar no grau” e “tirar giro”.
Uma dessas faixas foi colocada no bairro Valle Verde, o mesmo no qual está decretado o silêncio sobre o caso do “beijo grego”.
As faixas espalhadas pelo estado, incluindo Araraquara, alertavam que, quem descumprisse a determinação, estava “sujeito a cacete”.
No livro “Cobras e Lagartos“, do jornalista Josmar Jozino, Araraquara é mencionada como a cidade em que o PCC iniciou seus batismos, após a facção ser fundada na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, o “Piranhão”, em agosto de 1993.
Relembre o caso do “beijo grego”
Uma moradora de Araraquara, no interior de São Paulo, postou nas redes o caso amoroso entre seu marido e seu pai. Assim que descobriu a traição, ela resolveu compartilhar toda a história e ainda postou um vídeo no qual aparece quebrando os vidros do carro do marido.
Mais tarde, o pai dela ateou fogo no veículo, que, segundo ele, teria sido um “mimo” para o amante. No meio da confusão, o sogro, aparentemente descontrolado, foi agredido pela população.
De acordo com os posts feitos pela mulher no Facebook, ela descobriu o caso no último dia 19, um domingo, após olhar o celular do pai e encontrar mensagens íntimas dele com seu marido. Ela encontrou e também postou vídeos dos dois juntos em um motel da cidade, incluindo a cena do “beijo grego”.