PCC usa até criança como laranja em hotéis do tráfico na Cracolândia
Operação Downtown, da Polícia Civil, mirou rede de hotéis do PCC, apontada como o coração do esquema de tráfico de drogas na Cracolândia
atualizado
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São Paulo – Inquérito do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) aponta que o Primeiro Comando da Capital (PCC) usa laranjas, incluindo crianças, para manter a rede de hotéis na Cracolândia, no centro de São Paulo, considerada o coração do tráfico de drogas na região.
Ao todo, o Denarc lista 90 endereços que seriam usados pelo PCC para armazenar drogas, abastecer os traficantes nas ruas e lavar o dinheiro obtido pela venda, principalmente do crack. Os locais investigados incluem hotéis, pensões, bares e prostíbulos.
Ao se debruçar sobre as empresas, a Polícia Civil descobriu que a propriedade desses locais troca de mão em mão entre os investigados. O esquema foi alvo da Operação Downtown, deflagrada na quinta-feira (13/6), que terminou com 15 presos e R$ 27,6 mil, em dinheiro vivo, apreendidos.
Na rede investigada, há casos em que a mesma pessoa, que é registrada como funcionário de um dos hotéis, também figura no quadro de sócios de outras hospedagens. Também há local em que o responsável formal é, na verdade, menor de idade.
Hotéis do PCC
Uma dessas pensões fica em um sobrado da Rua dos Andradas, via que atualmente compõe o quadrilátero com a maior concentração de usuários de drogas na Cracolândia.
Segundo a polícia, apesar de apenas uma hospedaria funcionar, na prática, no local, o imóvel possui duas numerações. Em uma delas, o indicado como responsável formal era uma criança de 11 anos.
A descoberta foi feita ao analisar um boletim de ocorrência, registrado pela Sabesp em maio de 2018, sobre furto de água no imóvel. Atualmente, o jovem tem 17 anos.
Outro indício do uso de laranjas para registrar as empresas envolve o investigados Edinilson Santos, de 44 anos, e Ubiraja Magela da Costa, 54, que trabalham como porteiro em diferentes hotéis do centro de São Paulo. Segundo a polícia, a remuneração do segundo citado é inferior a R$ 1,5 mil.
Edinilson e Ubirajara, no entanto, já fizeram parte do quadro societário do Hotel Tupy, um dos maiores estabelecimentos citados na investigação, com capital social de R$ 200 mil. Hoje, essa hospedaria está registrada no nome de Marcelo Carames, o Mau, apontado pela polícia como um dos líderes do esquema.
Operação
Segundo a investigação, os hotéis eram usados, ainda, para reunião de traficantes e “tribunais do crime”. Em um desses episódios, o PCC chegou a decretar a “internação compulsória” de um dependente químico.
O uso de laranjas e a troca de propriedade entre os investigados seriam parte da estratégia da facção para dificultar investigações e conseguir manter o esquema, segundo a polícia.
A terceira fase da Operação Downtown cumpriu 140 mandados de busca e apreensão em 28 hospedagens da Cracolândia. Com 400 policiais mobiliados, o objetivo era desmantelar a rede de hotéis usada pelo PCC.
Na ação, os policiais apreenderam 80 gramas de dry, 110 gramas de crack, 6 quilos de skunk e 22,6 quilos de cocaína. Também recolheram um revólver calibre 38, 73 munições e 38 celulares.