PCC: como foram os outros rachas na cúpula em 30 anos de facção
Em meio a assassinatos bárbaros e acusações entre líderes, PCC vive quarto racha desde a sua fundação em 1993
atualizado
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São Paulo – O Primeiro Comando da Capital (PCC) trava a sua quarta guerra interna em 30 anos de existência. Assim como os rachas anteriores, a crise atual é marcada por assassinatos bárbaros e troca de acusações entre lideranças da mais alta cúpula da facção criminosa.
Considerado o maior grupo criminoso do país, o PCC nasceu dentro da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, presídio conhecido como Piranhão, no interior paulista, em agosto de 1993. Inicialmente, apenas oito presos faziam parte da facção, cuja existência era negada pelas autoridades públicas.
O grupo tinha entre seus objetivos denunciar abusos sofridos pela população carcerária. Com estatuto que pregava “lealdade, respeito e solidariedade” entre os integrantes e morte sumária aos opositores, rapidamente a facção se espalhou pelas cadeias de São Paulo e de outros estados brasileiros.
Primeiro racha
O primeiro racha na facção, no entanto, aconteceu ainda nos seus primeiros anos. Em 1999, dois fundadores – Ademar dos Santos, do Dafé, e Antônio Carlos dos Santos, o Bicho Feio – decidiram sair do grupo e fundar a facção rival Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade (CRBC) por desavenças com outros líderes.
Dafé e Bicho Feio acabariam executados e decapitados durante um motim do PCC no ano seguinte. As cabeças foram atiradas para fora da cadeia.
A guerra de Marcola
Já o racha que transformaria toda a estrutura do PCC e faria a facção criminosa se voltar para o tráfico de drogas aconteceu no início dos anos 2000. O episódio também marca a ascensão de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, ao posto de chefão do grupo criminoso.
Um dos primeiros presos a ser batizado pelo PCC, Marcola venceria uma disputa contra os dois fundadores que continuavam vivos na ocasião: José Márcio Felício, o Geleião, e César Augusto Roriz Silva, o Cesinha.
Essa guerra interna ficaria evidente com a morte de Ana Maria Olivatto Herbas Camacho, 45 anos, a mulher de Marcola, executada a tiros por homens encapuzados, em outubro de 2002. Cesinha seria acusado do crime.
Para vingar o assassinato da esposa, Marcola ainda teria vazado a informação de que Geleião era condenado por estuprar uma jovem durante um roubo – crime proibido pelo estatuto do PCC. Os fundadores foram expulsos da facção.
Cesinha seria assassinado a estocadas na Penitenciária de Avaré, no interior paulista, em agosto de 2006. Já Geleião fez uma espécie de delação premiada, ainda antes de esse termo jurídico existir, em troca de proteção policial. Ele morreu de Covid-19 em 2021.
Emboscada e retaliação
Com os antigos líderes depostos, Marcola escalou sete “homens de confiança” para compor o primeiro escalão do PCC, a chamada Sintonia Final Geral, para quem todas as células passaram a responder. Foi com essa estrutura que a facção viveu seu maior período de paz interna.
O cenário só voltaria a estremecer em fevereiro de 2018. Apontado como homens de confiança de Marcola e integrantes da Sintonia Final Geral, Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, foram vítimas de uma emboscada e mortos a tiros em uma reserva indígena em Aquiraz, na Grande Fortaleza.
O crime não ficaria barato. Acusado de ser o executor, Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, então líder do PCC na Baixada Santista, foi assassinado a tiros de fuzil na semana seguinte.
Integrante da ala liderada por Cabelo Duro, Cláudio Roberto Ferreira, o Galo Cego, também foi morto em uma área badalada do Tatuapé, na zona leste da capital paulista, no mesmo ano. Cerca de 70 tiros de fuzil foram disparados pelos atiradores.
Ex-aliados
No racha de agora, que já é considerado histórico, a liderança de Marcola é contestada por três antigos aliados: Roberto Soriano, o Tiriça, e Abel Pacheco de Andrade, o Abel Vida Loka, que faziam parte da alta cúpula desde 2002, além de Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho.
O principal motivo do conflito seria um diálogo gravado entre Marcola e policiais penais federais, na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO). Na ocasião, o líder máximo do PCC afirma que Tiriça seria um “psicopata”.
A declaração foi usada por promotores durante o julgamento de Tiriça, que foi condenado a 31 anos e 6 meses de prisão, em 2023, por ser o mandante do assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo. A fala de Marcola teria sido interpretada pelos antigos aliados como uma espécie de delação.
Desde então, o conflito tem deixado rastro de sangue em cidades paulistas e preocupado as autoridades. Pelo menos três pessoas já foram mortas.
Mortes
Duas execuções ocorreram na terça-feira passada (12/3). Apontado pela polícia como “tesoureiro do PCC” na região de Atibaia, no interior de São Paulo, Luiz dos Santos Rocha, o Luiz Conta Dinheiro, foi fuzilado quando chegava de carro em casa, por volta das 17h, após ser beneficiado com uma saidinha temporária.
Horas mais tarde, Cristiano Lopes da Costa, o Meia Folha, foi morto a tiros em uma lanchonete no bairro Vicente de Carvalho, no Guarujá, litoral paulista. Ele era considerado um dos líderes do PCC na região e, segundo testemunhas, foi baleado por um pistoleiro que passou de moto pelo local atirando.
A primeira morte ocorrida após o racha na cúpula do PCC a se tornar pública foi a do traficante Donizete Apolinário da Silva, de 55 anos, aliado de Marcola. Ele foi morto a tiros quando caminhava com a esposa, de 29, e com a enteada, de 10, em Mauá, na Grande São Paulo.