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Paulistanos iniciam 2021 sem receber auxílio de R$ 100 prometido por Covas

O dinheiro da Renda Básica Emergencial, criado na pandemia, ainda não foi pago para 18 mil famílias

atualizado

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Fábio Vieira/Especial Metrópoles
Bruno Covas (PSDB), candidato à reeleição, visita o comércio da Estrada M’ Boi Mirim, zona sul de São Paulo
1 de 1 Bruno Covas (PSDB), candidato à reeleição, visita o comércio da Estrada M’ Boi Mirim, zona sul de São Paulo - Foto: Fábio Vieira/Especial Metrópoles

Na manhã de 10 de dezembro, Gabriela Firmino, 32 anos, saiu de casa para sacar o dinheiro da Renda Básica Emergencial, auxílio financeiro da prefeitura de São Paulo lançado na pandemia de Covid-19. Ao chegar à agência da Caixa, foi surpreendida ao ouvir de um funcionário que não havia pagamento depositado.

Em seguida, mostrou uma imagem de tela do seu celular que mostrava a confirmação, mas foi informada que sua documentação precisava ser atualizada. 

Ao ligar no 156, central de ouvidoria do município, inseriu os dados de RG e CPF, só que o seu caso apareceu “em análise” e assim permaneceu por duas semanas, mesmo após repetir o processo incontáveis vezes. Gabriela planejava usar o dinheiro do auxílio para fazer uma ceia de Natal para os filhos de 16 anos e 6 anos. Ela mora com eles em uma casa emprestada por sua ex-cunhada na Vila das Mercês, zona sul da capital. 

“Eu fiquei feliz da vida quando vi a confirmação, falei para os meus filhos que ia comprar uma lasanha e um peru, mas não consegui. Acabei fazendo macarrão com carne moída e queijo para dar uma ‘enganada’. É de cortar o coração não poder me dar ao luxo de comer algo diferente. As crianças estavam muito animadas”, desabafa. 

Auxílio para vulneráveis

A Renda Básica Emergencial foi sancionada por Bruno Covas (PSDB), prefeito reeleito de São Paulo, às vésperas do primeiro turno das eleições municipais. É voltado para pessoas em situação de vulnerabilidade inscritas no Bolsa Família até setembro de 2020.

Vale também para ambulantes que atendam aos critérios do Bolsa Família e que possuam Termo de Permissão de Uso (TPU) vigente ou que tenham cadastro no sistema Tô Legal! para o comércio ou prestação de serviços ambulantes. 

A gestão Covas prometeu pagar três parcelas de R$ 100 – outubro, novembro e dezembro – de uma só vez em uma conta da Caixa até 31 de dezembro de 2020 para 480 mil famílias – a prefeitura solicitou a abertura de uma conta digital para quem não é cliente do banco. O calendário de pagamento foi iniciado em 9 de dezembro, a partir do número final do NIS (Número de Identificação Social).   

Gabriela tem direito a receber R$ 900 de auxílio – seus dois filhos estão cadastrados no Bolsa Família – e acompanha seu caso diariamente pelos aplicativos do 156 e Caixa Tem. Ao atualizar o app do banco, viu que o pagamento havia sido aprovado, mas a mensagem foi substituída por “não há lançamentos futuros”.

Desempregada, ela faz bicos de faxineira em uma loja para complementar a renda com os R$ 270 do Bolsa Família. No entanto, o pagamento varia de acordo com os pedidos de trabalho da patroa, entre R$ 200 e R$ 800 por mês. 

“Tem hora que bate o desespero, pois não sei o que fazer. Eu me viro, dou um jeito, mas tenho minhas crianças, que são a minha maior preocupação. Meu filho maior vê como estão as coisas e pede para eu deixá-lo vender água no farol, mas não posso arriscar em uma pandemia. Graças a Deus não pago aluguel, senão não sei o que seria de mim e dos meus filhos.” 

Fila longa para (não ter) o auxílio

Fila na agência da Caixa Econômica na cidade São Paulo (Arquivo Pessoal)

A autônoma Cristiane Dias, 32, tentou receber a renda emergencial no dia 14, porém esbarrou em outro problema. Ela ligou para o 156 e não foi atendida por ninguém. “Eu tentei direto e a ligação caía depois de três toques. Só consegui falar com uma atendente dias depois, já eram 2h da madrugada”, recorda. Cristiane vive com o marido e os quatro filhos em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo. 

Por isso, decidiu ir a uma agência da Caixa para tratar o seu caso. Depois de passar seis horas na fila, descobriu que tinha direito a R$ 1.800, entretanto, o valor não estava em sua conta. “Eu cheguei às 10h e só recebi uma senha duas horas depois. ‘Ganhei’ uma insolação que me deixou com febre na cama por dois dias.”  

Na antevéspera do Natal, Cristiane retornou à mesma agência a pedido de uma funcionária da Caixa, na contramão do que recomenda a prefeitura, que pede para que os casos sejam acompanhados online para evitar aglomeração. Uma trabalhadora do banco disse a ela que os pagamentos estavam em atraso e que a prefeitura teria até 90 dias para fazer o depósito. 

Sem o dinheiro da renda básica, a autônoma sobrevive com R$ 212 do Bolsa Família e a venda de bolos caseiros. Mas o faturamento caiu de R$ 1.500 no ano passado para R$ 50 no fim de 2020.

Mesmo desacreditada, Cristiane ainda acredita que ganhará o auxílio. Ela criou um grupo no WhatsApp que conta com mais de 50 pessoas que estão vivendo o mesmo impasse. “Fui despejada na pandemia porque não consegui pagar o aluguel. Hoje eu moro de favor em um cômodo no fundo da casa da minha mãe. Esperança e fé eu tenho, mas esmoreço com os políticos.” 

“Não consigo dormir direito”

Quem passa pela mesma dificuldade é a diarista Isabel Estradiote, 32, moradora de São Mateus, extremo leste da capital. “O site do 156 informava que meu RG precisava ser atualizado. Eu liguei na central e a funcionária me informou que a prefeitura abriria uma conta social para mim, só que não deu em nada depois de 15 dias. Abri um protocolo na ouvidoria do município e agora tenho que esperar 30 dias”, informa. 

Em meio à incerteza, ela se desdobra para conseguir comprar fralda e leite para seu filho de dois anos. A despesa em casa ficou mais cara desde que a pandemia impossibilitou a criança de estudar na creche e, por conta disso, não se alimenta mais na escola. Isabel recebe o auxílio de R$ 130 por mês do Bolsa Família e não consegue arrumar trabalho.

“Tem dia que eu não consigo dormir direito porque fico pensando vou conseguir trabalhar. Se a creche voltasse ao normal, eu poderia sair para procurar emprego. Eu vou continuar ligando e reclamando porque a prefeitura não me ajuda”, diz. 

O que diz a prefeitura   

A prefeitura de São Paulo informou o Metrópoles que 462.585 famílias receberam a Renda Básica Emergencial até 15 de dezembro, beneficiando 1.246.866 pessoas. Ao todo, depositou R$ 385.421.200,00. Mas cerca de 18 mil famílias ainda estão à espera das parcelas que não foram depositadas até 31 de dezembro. 

“Ainda há casos de contas que não foram abertas automaticamente de pessoas com documentação ou CPF irregulares ou alguma informação incompleta no cadastro. Para esses casos, a prefeitura e a Caixa estão tomando as ações necessárias para que essas contas sejam abertas o mais breve possível”, disse, em nota. 

A gestão Covas garante que realizará os pagamentos do auxílio para as 18 mil famílias restantes a partir de janeiro deste ano, mas não deu um prazo para finalizar os casos. 

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