O patrimônio do ex-diretor da Vai-Vai suspeito de chefiar o PCC
Investigação aponta que Beto Bela Vista, ex-diretor da escola de samba Vai-Vai, é suspeito de chefiar o PCC e praticar lavagem de dinheiro
atualizado
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São Paulo – Luiz Roberto Marcondes Machado de Barros (foto em destaque), conhecido como Beto Bela Vista, está na mira da Polícia Civil em investigações que apuram a suposta relação entre a escola de samba Vai-Vai e o Primeiro Comando da Capital (PCC) e um suposto esquema de lavagem de dinheiro.
Em processo judicial obtido pelo Metrópoles, a polícia lista bens em nome de Beto Bela Vista e de pessoas ligadas a ele que “levantaram suspeita” por incompatibilidade com as rendas declaradas. Ex-diretor financeiro da Vai-Vai, ele é apontado como líder do PCC fora dos presídios, a chamada da “célula externa”. Ele nega envolvimento com a facção.
Segundo o Departamento de Investigações Criminais (Deic), ele “ostenta grande patrimônio oriundo de atividades ilícitas”, com itens que seriam “ocultados em nome de laranjas e empresas de fachada”. Beto deixou a prisão em 2014 e o irmão dele, Luiz Eduardo, conhecido como Du Bela Vista, está detido no presídio federal de Mossoró (RN).
As investigações também indicaram que pessoas próximas a Beto “mantêm diversas transações financeiras em espécie, em valores vultuosos” e enumeraram sete empresas de fachada em nome dele e de sua mulher, Ana Cláudia Cantor Sitriniti.
Isso inclui um apartamento de dois quartos em um condomínio de luxo na rua Bitencourt Sampaio, na Vila Mariana, adquirido por Berenice Barros, mãe de Beto. O imóvel, onde ele reside, foi comprado à vista por R$ 1,3 milhão.
Em depoimento à polícia, Berenice afirmou que possui renda média mensal de R$ 18 mil há mais de 20 anos e que os valores representam a soma de uma pensão e de aluguéis de imóveis adquiridos em heranças.
Atualmente, o imóvel está no nome de um dos filhos de Beto. O ex-diretor da Vai-Vai alegou às autoridades que o rapaz possui transtorno do espectro autista e, por isso, decidiu deixar um bem em seu nome de forma a resguardá-lo no futuro.
Em 2021, foram realizadas buscas e apreensões em 12 endereços, residenciais e comerciais, ligados a Beto e pessoas próximas a ele. Isso incluiu imóveis fora da capital paulista, como uma casa na Praia Grande, no litoral paulista, e outra em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
Lancha de R$ 2,4 milhões
Outro bem citado nas investigações foi uma lancha adquirida em 2019 por Ana Cláudia, mulher de Beto, por R$ 2,4 milhões, “incompatíveis com seu rendimento”. A embarcação é um modelo Fly 500 da Schaefer, avaliado em R$ 5 milhões, segundo a polícia.
Em depoimento aos policiais do Deic, Ana Cláudia disse que fez a compra de forma parcelada, com pagamentos em valores variados por 13 meses, mas que vendeu a lancha antes de terminar de pagar.
Um dos maiores ativos na mira da polícia, atualmente, é o imóvel situado em dois terrenos na rua Almirante Marques Leão, na Bela Vista, região central de São Paulo, negociado para abrigar a futura sede da escola de samba Vai-Vai.
Os terrenos pertenciam a Beto e foram vendidos por R$ 6,8 milhões, em meio à suspeita de superfaturamento e lavagem de dinheiro.
O terreno da Vai-Vai
O local foi adquirido pela agremiação em meio às negociações com a concessionária Acciona para a desapropriação da antiga sede da escola de samba, onde está sendo construída a estação 14 Bis da Linha 6-Laranja do Metrô.
Em depoimento à polícia, Clarício Gonçalves, atual presidente da escola de samba, disse que a Acciona fez a compra diretamente com Beto e que a identidade do proprietário só foi conhecida pelo conselho da Vai-Vai após a compra do local.
Segundo a investigação, Beto adquiriu os dois terrenos por R$ 2,8 milhões e pagou tudo em dinheiro vivo. Um ano depois, vendeu ambos por R$ 6,8 milhões para a Acciona, no acordo feito pela empresa espanhola para providenciar uma nova sede para a Vai-Vai.
Após vender o terreno à agremiação, Beto também teria emprestado R$ 300 mil à escola de samba para que ela desfilasse no Carnaval de 2022.
Segundo a polícia, o valor não foi quitado pela agremiação, mas a Vai-Vai alega ter pagado uma parte em espécie, e a outra em forma de publicidade.
Procurada pelo Metrópoles, a Vai-Vai disse que o empréstimo foi feito por meio de contrato, com registro em cartório, e afirmou que está à disposição das autoridades.