Pastor “ex-travesti” é denunciado após morte de fiel em “destransição”
Pastor estaria acompanhando o processo de “destransição” e “cura gay” da jovem. Erika Hilton e Amanda Paschoal (ambas do PSOL) acionaram MP
atualizado
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São Paulo — Um pastor evangélico que se identifica como “ex-travesti” foi denunciado ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) após a travesti Letícia Maryon, de 22 anos, tirar a própria vida. Ela era acompanhada pelo religioso e passava por um processo de “destransição”.
Em nota ao Metrópoles, o Núcleo de Direitos Humanos do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) informou que recebeu representação da deputada federal Erika Hilton (PSol) abordando a situação.
A vereadora de São Paulo e correligionária de Hilton, Amanda Paschoal (PSol), também assinou o documento. Elas destacam que a jovem passava por um processo de “destransição” e “cura gay” promovido pelo líder religioso.
“O MPDFT requisitou a instauração de inquérito policial à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) para apurar, inclusive em relação às postagens do Instagram do pastor, em que há indícios de discurso de ódio contra as pessoas transexuais e LGBTs em geral”, diz a nota.
Tensão nas redes sociais
Após a representação, o Instagram do pastor foi desativado, mas, pelo buscador, é possível ver que sua biografia na rede social dizia “Homem de Deus… vida transformada pelo poder do evangelho de Cristo”.
No Facebook, o líder religioso se identifica como “missionário e pastor, liberto da homossexualidade! Casado e muito bem casado”.
Na rede social, Flávio expõe outros casos de jovens trans que estão “destransicionando”. Ele chama esses jovens de “TRANSformados por Cristo”.
Hilton publicou sobre o tema no Instagram, dizendo que denunciou o religioso por LGBTfobia e tortura.
“O pastor, que diz ser capaz de fazer a ‘cura gay’ e a ‘destransição’ de pessoas trans, afirmou nas suas redes que ‘homossexualidade mata’, chamou pessoas trans de ‘abominações’ e assumiu que submeteu Letícia à situações degradantes, como jejum forçado”, disse a deputada.
Flávio repostou a fala de Hilton em seu Facebook, dizendo que a “destransição existe sim”. “Cura gay? Saiu da boca de vocês. A briga será feia na Câmara dos Deputados e nos tribunais, mas vamos pra cima. Eu não sou obrigado a nada. Deus me fez macho e graças a JESUS consegui sair dessa vida miserável”, respondeu o pastor.
Em nota enviada ao Metrópoles, no entanto, a defesa de Flávio diz que o pastor entende que a orientação sexual do próximo, qualquer que seja sua escolha, não deve ser classificada ou rotulada como doença. “Ademais, qualquer ação neste sentido [de cura] estaria próximo até da prática de ‘charlatanismo’, algo que é frontalmente rejeitado por Flávio”.
Os advogados Jean Paulo Pereira e Florentino Rocha Conde dizem que o pastor “defende a liberdade de expressão e o respeito à diversidade, e que entende ser a sociedade atual uma sociedade plural, que não pode conviver ou tolerar qualquer prática discriminatória relacionada à orientação sexual de outrem. E, com a sua vocação religiosa, auxilia pessoas oriundas de um grupo extremamente vulnerável socialmente, mas sem qualquer espécie de imposição ou prática de condutas ‘vexatórias'”.
“Estamos comprometidos em buscar a verdade e a justiça neste episódio”, concluem.