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“Parecia fake news”, diz dirigente do atletismo sobre trator em pista

Presidente da CBAt diz que trator removendo pista de atletismo de estádio do Ibirapuera, em SP, parecia “fake news” e “algo insano”

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1 de 1 Imagem mostra trator removendo pista de atletismo no Ibirapuera - Metrópoles - Foto: Reprodução

São Paulo — O presidente da CBAt, Wlamir Motta Campos, diz que estava no aeroporto quando viu em redes sociais que o estádio Ícaro de Castro Mello serviria a um evento de drift. “Parecia fake news. Na cabeça de quem passa fazer uma prova de automobilismo no templo maior do atletismo brasileiro, em um espaço que está tombado? Algo insano”, afirma.

Campos diz que no plano de governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) consta a revitalização do espaço, com a recuperação da pista. “Estávamos aguardando, mas jamais imaginaríamos que seria liberada para a realização de uma prova automobilística. Isso, para a gente, é algo descabido”.

A revolta foi grande e envolveu, até mesmo, campeões olímpicos. “As posições firmes do Joaquim Cruz pesaram muito também, tiveram um impacto muito forte”, afirma. Nem o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional) ou o Conpresp (equivalente municipal) autorizaram qualquer intervenção.

Embora os fãs de drift tenham repetido em redes sociais que o evento de automobilismo colaboraria com o processo de reforma da pista, ao remover a borracha e deixar “a base pronta”, Campos ressalta que não seria bem assim. “O caro da pista é a base, que seria comprometida com a prova de automobilismo. Não foi feita para isso”, afirma.

Na quarta-feira (14/2), houve uma reunião entre integrantes da CBAt, Federação Paulista de Atletismo e governo estadual. “Informaram que o evento seria cancelado, que o governador Tarcísio teria determinado que fossem feitas as obras e que toda intervenção no Ibirapuera começaria pela pista de atletismo”, diz Campos.

Situação

Segundo o presidente da CBAt, o cenário ainda é cinzento, mesmo após o encontro da semana passada. “Me parece que há uma falta de alinhamento e diálogo interno no governo”, diz.

O governo estadual pediu a derrubada do tombamento, mas não reconheceria, no próprio pedido, a importância histórica do complexo, que inclui a pista. “Querem derrubar o tombamento para quê?”, questiona Campos. “O tombamento é uma garantia que o espaço não vai ser concedido à iniciativa privada ou ter outro uso”, diz.

O temor da comunidade do atletismo é o de que caia o tombamento sem a garantia de que o local seja destinado novamente ao esporte. Se fosse no revezamento 400 x 100 m, é como se o corredor soltasse o bastão sem a certeza de que colega tenha agarrado com firmeza.

A preocupação tem sentido. Em 2022, o governo solicitou ao Iphan intervenções pontuais que não contemplariam o atletismo, como autorização para a substituição dos refletores, retirada da pista e troca por gramado sintético. O prazo para as intervenções, de dois anos, termina agora, sem que nada tenha sido feito.

A confederação espera a confirmação oficial do convite feito na quarta para a participação de um grupo de trabalho que defina o futuro do complexo.

Informações preliminares apontam que um projeto de reformulação total do complexo sairia por algo em torno de R$ 800 milhões, o que é visto como uma barreira para a execução, algo que jogaria todo o espaço nas mãos da iniciativa privada, até por críticas que esse investimento receberia da sociedade em geral —é o custo de um parque olímpico.

Como comparação, uma obra mais singela, a licitação de uma pista oficial de atletismo, com certificação internacional, em Pindamonhangaba, interior paulista, foi feita em janeiro por R$ 10 milhões. Ou seja, para que o Ícaro de Castro Melo voltasse a receber eventos de grande porte, mesmo sem uma reforma generalizada, não seriam necessários centenas de milhões de reais.

O que diz o governo estadual

Em entrevista na sexta (16/2), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que a recuperação do Complexo Constâncio Vaz Guimarães, onde está o Estádio Ícaro de Castro Mello, é prioridade número um da Secretaria de Esportes.

Segundo Tarcísio, a intenção é a de que o local receba competições esportivas e, caso se consiga reverter o tombamento, será feito um projeto “mais moderno”. “Na minha visão, não porque ficar preso em uma arquitetura que já está obsoleta. Podemos fazer uma arena do porte, do tamanho, da envergadura que São Paulo merece, muito mais moderna para acomodar competições, para ser templo do esporte”, disse.

O governador afirmou na entrevista que não quer reverter o tombamento para promover exploração imobiliária ou dar outra destinação que não o esporte.

“Se a gente não consegue reverter o tombamento, vamos fazer as reformas e as melhorias no complexo como ele está, respeitando o tombamento e o projeto arquitetônico como está hoje. De qualquer maneira, vamos fazer a reforma”, disse.
Tarcísio também afirmou também que a realização de uma PPP, revertendo ou não o tombamento, é uma possibilidade.

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