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Pais em licença relatam conexão maior com os bebês e rotina exaustiva

Pais que tiraram a licença parental, que chega a seis meses, para cuidar dos filhos relatam os melhores momentos e as ansiedades do período

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renan abre
1 de 1 renan abre - Foto: Arquivo Pessoal

São Paulo – “Eu acho cinco dias um absurdo. Não dá nem para ter noção do que vai acontecer na nossa vida. E depois deixamos as mães desamparadas!” É assim que o publicitário Ric Lebre, de 41 anos, define a licença paternidade garantida pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Empresas que também avaliam o período como insuficiente estão criando a licença parentalidade, que concede mais tempo para os funcionários homens que tiveram filhos ficarem em casa. Ela também pode ser usufruída por outros formatos de família que não envolvam apenas um casal heterossexual.

Na farmacêutica Sanofi, por exemplo, a licença parental permite afastamento de até seis meses, independentemente do gênero e construção familiar. De janeiro de 2020 a dezembro de 2021, 48% dos colaboradores homens aproveitaram o benefício. Em julho de 2022, essa adesão chegou a 82%.

“Acho que vai mudar a forma como os homens enxergam a responsabilidade que eles têm perante seus filhos e filhas”, afirma Ric sobre a licença parentalidade.

O publicitário trabalhava no banco Neon quando o Vicente nasceu. O novo papai teve o benefício de se afastar do trabalho por um mês para se dedicar exclusivamente ao primeiro filho.

Demissão após a licença parental

Ric foi demitido um mês depois que retornou ao trabalho. Ele afirma que a dispensa não teve “relação direta” com a licença. Na avaliação do publicitário, o desligamento apenas ocorreu devido a um corte de funcionários, prática que está ocorrendo com frequência nas companhias de tecnologia.

“Rolou uma daquelas demissões em massa na empresa, então foram 10% dos colaboradores demitidos e eu estava no meio. No final das contas foi ótimo, porque eu me recoloquei no mercado em dois meses e acabei curtindo esse tempo com o meu filho. Hoje eu conheço bem o meu filho, eu sei a diferença do choro de fome, para o choro de sono ou coisa do tipo. Também ajudou a melhorar ainda mais a relação com a minha esposa”, diz o papai do Vicente.

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Renan Umbelino e a filha Nina
Renan Umbelino, Nina e Aline Vigna
Arthur Fücher e a filha Laura
Arthur,  Mayara Alves da Silva Laura e o cachorro Larica
Ric Lebre, Vicente e Tamires Vilela
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Ric e o seu primeiro filho, o Vicente

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Ric e o pequeno Vicente

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Daniel, Michael e Lívia

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Daniel, Michael e Lívia

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Entre tantos aspectos positivos da licença parental, o desafio acaba sendo as noites mal dormidas, o que faz parte da paternidade e também aconteceria sem o afastamento do trabalho. “Quando o neném vem você muda completamente a sua rotina de sono, porque o ‘bichinho’ começa a acordar a cada duas horas mais ou menos para mamar”, conta Ric.

“Jornada exaustiva”

Arthur Fücher, de 32 anos, também faz parte do clube dos papais com sono. “É uma jornada muito exaustiva. Eu não tinha noção do quanto é exaustivo ficar 100% dedicado cuidando de um bebê”.

Laura, primeira filha do engenheiro de software do Nubank, nasceu em março do ano passado. Nessa época, ele se ausentou do trabalho por 20 dias, período concedido aos pais que trabalham em companhias que integram o programa do governo federal Empresa Cidadã.

Em outubro, quando acabou a licença de sua esposa, Arthur tirou o afastamento concedido pelo banco digital. A licença parentalidade do Nubank é de 120 dias, pode ser dividida em dois períodos, e é válida para todos os tipos de família.

Não é férias, mas é mágico

Fücher retornou para as atividades profissionais há menos de um mês. “Meus amigos perguntavam como foram as férias. Não foram férias! Eu estava cuidando dela, eu trabalhei bastante isso na minha cabeça. Se enquanto ela estava tirando uma soneca, eu conseguia fazer alguma coisa minha, era um bônus”, afirma o papai da Laura.

O profissional de tecnologia mudou de equipe três meses antes da data em que estava marcada sua licença parental e teve dúvidas se era o melhor momento para se afastar do trabalho. Com o apoio dos gestores, ele superou a insegurança e conseguiu se desligar dos compromissos do emprego. No período que ficou afastado, Fücher curtia as tardes na praça perto da sua casa com a filha.

“Foi chocante ver que eu era o único homem com criança na praça, isso me fez valorizar muito a licença parental. Abria a canga ali na grama e ficava lá sem preocupação com o horário. Eram mágicos esses momentos”, afirma o engenheiro.

Medo de ser o pai que ajuda

Renan Umbelino, de 38 anos, é gerente regional de vendas na farmacêutica Sanofi, onde a licença parental é uma escolha do funcionário. No entanto, quando soube que se tornaria pai de sua primeira filha, a Nina, rapidamente aderiu ao programa.

“Sempre tive o sonho de ser pai. Mas um dos meus grandes receios era que minha esposa, família, amigos próximos me me rotulassem como ‘um pai que ajuda’. Aquele pai que, de fato, tem algumas tarefas, porém tem mais um papel coadjuvante de ajudar e não exatamente exercer o papel que de fato cabe para um pai na minha visão”, diz Renan.

O executivo acredita que a licença permitiu que ele assumisse esse protagonismo. “A conexão que eu tive tanto com a bebê, como poder dar suporte para a minha esposa foi extremamente valioso. Tenho amigos que tiveram filhos recentemente e ficaram em casa cinco ou no máximo 20 dias. Eles me contam que os filhos só querem as mães quando estão chorando ou precisando de alguma coisa. Aqui em casa não tem isso, justamente, por causa dessa proximidade e conexão que eu criei desde o começo com a filha.”

Por considerar que trabalha em um “mercado extremamente dinâmico e volátil”, o profissional teve momentos de dúvidas sobre o afastamento da empresa. “Talvez essa insegurança seja exatamente igual ao que todas as mulheres têm. Uma certa ansiedade, um frio na barriga em relação a volta. Então, se eu tenho a chance de ter esse benefício, nada mais justo que eu também tenha essa insegurança em algum momento de como seria minha volta.”

Além de ficar perto da família, durante a licença parental Umbelino foi promovido e pode assumir o novo cargo três meses depois, quando retornou ao trabalho.

Mesmo trabalhando em outra área, o analista imobiliário da Loft Michael Bernardo, de 32 anos, concorda com Umbelino. “As empresas de tecnologia, principalmente, tiveram muitos desligamentos recentemente. Então, eu pensava ‘como vai ser quando eu voltar? Será que o meu time ainda vai estar do mesmo jeito? Eu vou ter minhas demandas de volta? Quais serão minhas atribuições? Mas eu conversei bastante com a minha gestora e ela me deixou tranquilo.”

Sem terceirizar

Bernardo se afastou no dia 5 de janeiro, quando a Lívia nasceu e tem a expectativa de retornar ao escritório em março. Na Loft a licença parental é obrigatória de dois meses e os papais podem tirar mais quatro meses até os filhos completarem um ano de vida, o que significa um benefício de se ausentar por seis meses ao todo. O analista imobiliário ainda pretende pegar mais um período de licença quando a esposa retornar ao trabalho.

“É bem corrido. A bebê não tem horário para dormir, ela acorda de madrugada e nós temos que acordar junto. Mesmo sem estar trabalhando é difícil, porque tem que conciliar com outras tarefas, fazer mercado, fazer feira, arrumar a casa. Mas o bom é que eu estou em casa há dois meses”, afirma Bernardo.

Ele também está aproveitando o tempo para pensar e discutir sobre paternidade e até criou o perfil Papai Sem Filtro. “Está tudo muito cru ainda para a figura masculina. Tem muita coisa para mulher e para homem não tem. Então, nós temos tentado, de alguma forma, trazer o senso de paternidade, a responsabilidade do pai de ser uma figura presente, de estar na educação dos filhos para que não seja necessário terceirizar”, diz o analista.

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