Padre Júlio sobre CPI: “Criminalizar pessoas é forma de desviar foco”
Padre Júlio Lancellotti, que atua em defesa da população de rua no centro de SP, é alvo de vereadores da Câmara Municipal, que querem CPI
atualizado
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São Paulo — Alvo de um pedido de CPI articulado pela base do prefeito Ricardo Nunes (MDB) na Câmara Municipal de São Paulo, o padre Júlio Lancellotti disse, nesta quinta-feira (4/1), que os vereadores querem “criminalizar” seu trabalho na Pastoral do Povo de Rua, da Igreja Católica, para “desviar o foco” do problema envolvendo a população sem-teto e os usuários de drogas da Cracolândia.
“Criminalizar as pessoas é uma forma de desviar o foco do problema em vez de atacar a causa”, disse padre Júlio ao Metrópoles, nesta quinta. “Quem está ao lado de quem incomoda, também incomoda”, completou.
O padre disse que recebeu uma série de mensagens de apoio após a divulgação da proposta de criação de uma CPI na Câmara para investigar “ONGs” que atuam na Cracolândia. Entre os alvos definidos pelo autor do pedido, o vereador Rubinho Nunes (União), está o padre Júlio, que acolhe moradores da região pela pastoral da Igreja Católica.
“É importante a gente saber que não está só. Se fica sozinho nessa, ninguém tem cabeça para aguentar”, disse padre Júlio.
Ex-integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), o vereador Rubinho Nunes chama o padre de integrante da “máfia da miséria”. Segundo ele, a comissão tem como objetivo investigar o que as organizações não governamentais que atuam na região da Cracolândia, no centro da cidade, fazem com o dinheiro e as doações que recebem.
O pano de fundo é a disputa entre a base conservadora do prefeito Ricardo Nunes e os partidos de oposição na cidade, que dão apoio ao trabalho social feito pelo padre. O religioso é amigo e apoiador do deputado federal Guilherme Boulos (PSol), que é pré-candidato a prefeito da capital na eleição deste ano.
Em entrevista à Globonews, o padre Júlio Lancellotti destacou também que muitas pessoas o associam à Cracolândia, mas que a aglomeração de pessoas na região ocorre independentemente de suas ações.
“Quando dizem que a Cracolândia existe por causa de mim, sempre penso: ‘Se eu morrer hoje ou amanhã, a Cracolândia vai desaparecer?’ Se eu sou a causa, é tão fácil de resolver. É só eu morrer que acabou a Cracolândia. Não tem mais”, disse.