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Ouvidor vê ação da PM para evitar perícia: “Levam morto para hospital”

Após um mês de operação da PM no litoral de São Paulo, ouvidor Claudinho Silva aponta possível estratégia para dificultar investigação

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Foto colorida do ouvidor da polícia de São Paulo, Claudio Aparecido da Silva - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida do ouvidor da polícia de São Paulo, Claudio Aparecido da Silva - Metrópoles - Foto: Divulgação/Ouvidoria

Santos — O ouvidor da Polícia de São Paulo, Claudinho Silva (foto em destaque), afirma que algumas práticas adotadas por policiais militares durante a Operação Verão III na Baixada Santista, que completa um mês neste domingo (3/3), indicam um trabalho orquestrado para dificultar investigações sobre as ações que terminam com mortes de civis em supostos confrontos com a PM.

Na semana passada, a Ouvidoria e entidades ligadas aos direitos humanos entregaram um relatório ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) no qual listam uma série de irregularidades na conduta de PMs durante a operação no litoral sul paulista. Até o momento, 39 pessoas morreram em supostos confrontos desde o início de fevereiro, segundo a contagem da Secretaria da Segurança Pública (SSP).

Em entrevista ao Metrópoles, Claudinho Silva afirma que, em muitos casos, em vez de preservar a cena do crime, os corpos das vítimas são levados a unidades de saúde, como se elas ainda estivessem vivas. Para ele, também é necessário investigar o fato de que as pessoas baleadas em ações policiais estão sendo transportadas em viaturas da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, o que é vedado por uma resolução da SSP.

“As comunidades onde a gente tem ido estão denunciando que as pessoas estão sendo socorridas mortas. Levam o corpo já sem vida para o hospital. Se você considerar que as pessoas estão sendo socorridas mortas, que esse socorro está sendo feito pela própria Polícia Militar, através de viaturas do Corpo de Bombeiros, e que os locais não estão sendo preservados, você conclui que tem alguma ação orquestrada nesse sentido. É uma linha que a apuração do Ministério Público deve considerar na investigação dos fatos”, afirma o ouvidor.

Mudança de nome

Para o ouvidor da polícia, o nome dado pela SSP para a nova operação policial no litoral sul não é pertinente. Claudinho Silva afirma que os métodos adotados pela PM na Baixada Santista desde o início de fevereiro se assemelham aos da Operação Escudo, deflagrada entre julho e setembro do ano passado, após a morte do soldado da Rota Patrick Reis, no Guarujá. No período, 28 pessoas morreram em supostos confrontos.

Desde então, o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, anunciou que toda vez que um policial fosse morto no estado, a polícia deflagraria uma nova Operação Escudo para buscar e prender o autor do crime. Desta vez, contudo, a ação policial foi rebatizada como uma fase da Operação Verão, que é feita todo o ano durante a alta temporada nas cidades do litoral.

“Eu, sinceramente, tenho tratado as operações como Operação Escudo. Porque o modus operandi é o mesmo. A gente tem encontrado situações muito parecidas com as anteriores. Eu não vejo diferença entre uma operação e outra. Não tem atuação de inteligência, você não percebe. Tem casos que estão tendo dispensa de laudos com a informação de que o local oferece risco à integridade dos policiais”, diz Claudinho Silva.

“A Operação Verão é uma operação tradicional da polícia que ocorre todos os anos para reforço da segurança em territórios que vão ser totalmente ocupados por turistas. Eu acho que há alguma estratégia por trás disso [mudança de nome]. Talvez em razão do desgaste em torno do nome Operação Escudo, porque foi muito desgastado”, completa o ouvidor.

Número de mortes

O número de mortes na chamada Operação Verão III, de acordo com a SSP, era de 39 até esse sábado (2/3). A contagem teve início em 3 de fevereiro, após a morte do soldado da Rota Samuel Wesley Cosmo.

No entanto, de acordo com dados do Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp), do Ministério Público, a onda de mortes na Baixada Santista começou antes, após a morte do PM Marcelo Augusto da Silva, em 26 de janeiro.

Entre 28 e 31 daquele mês, foram 10 casos, sendo três deles envolvendo policiais militares fora de serviço, no dia 30/1, no Guarujá.

Considerando todas as nove cidades da Baixada Santista, foram 62 mortes provocadas por policiais militares, dentro ou fora de serviço, nos dois primeiros meses deste ano, praticamente uma morte por dia.

Foram 21 em Santos, 16 em São Vicente, 14 no Guarujá, 7 em Cubatão, 2 na Praia Grande, 1 em Mongaguá e 1 em Itanhaém. Bertioga e Peruíbe não registraram mortes relacionadas a policiais militares neste ano.

O que diz a SSP

Sempre que questionada sobre a operação no litoral, a SSP airma que os casos de morte decorrente de intervenção policial são consequência direta da reação violenta de criminosos à ação da polícia no combate ao crime organizado na Baixada Santista.

A secretaria destaca que três policiais militares foram mortos desde 26 de janeiro e que “a opção pelo confronto é sempre do suspeito, colocando em risco a vida do policial e da população”.

Por fim, a SSP diz que as forças de segurança do estado são instituições legalistas que atuam no estrito cumprimento do seu dever constitucional, e suas corregedorias estão à disposição para o recebimento de denúncias. Ainda segundo a pasta, todos as mortes por intervenção policial são investigadas.

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