“Ouvi um trovão, mas foi a terra que se rompeu”, diz morador do Sahy
No local, 39 pessoas morreram e 36 estão desaparecidas. Na tragédia, Luiz Nascimento perdeu o irmão a cunhada e a sobrinha, de 9 anos
atualizado
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O gari Luiz Alberto Nascimento, de 42 anos, é um dos moradores da Vila do Sahy, em São Sebastião (SP), o lugar onde 39 pessoas morreram, mas 36 ainda permanecem desaparecidas, em consequência do temporal que atingiu o litoral paulista neste domingo (19/2). Beto, como é conhecido na região onde reside há cinco anos, participou do resgate de vítimas soterradas após um deslizamento de terra.
Ele lembra que os corpos, não raro, tinham de ser arrancados da lama pelo pescoço. “Foram cenas muito fortes, com gente mutilada e tudo mais”, acrescenta. “Os que estavam vivos eram colocados no canteiro da pista, na Rio-Santos.” Na tragédia, Beto perdeu o irmão a cunhada e a filha dela, de 9 anos, que vivia com o casal. “A primeira casa que desabou foi a dele”, diz o gari “Ela ficava no alto do morro.” Naquele ponto da Vila do Sahy havia cerca de 40 moradias.
Beto conta que tudo começou no início da noite de sábado (18/2), com uma chuva forte, que alagou as ruas. “Foi uma enchente”, diz. “A água atingiu a altura da cintura e muitas casas ficaram alagadas. Mas fomos dormir, não havia muito o que fazer. As pessoas se acomodaram nos locais que não tinham sido invadidos pela água.”
Na madrugada, veio o pior. “Acabamos sendo surpreendidos por volta das 3h30 de domingo. Eu ouvi como se fosse um trovão, mas foi a terra que se rompeu”, recorda. “Aí, começou. Aconteceu o deslizamento e tinha muita gente gritando, pedindo socorro. Mas tivemos de esperar o amanhecer, por volta das 5 horas ou 5h20, para realmente conseguir socorrer o pessoal. Antes disso, estava tudo muito escuro, era muito perigoso e não conseguíamos fazer quase nada.”
De acordo com uma contagem feita na região, 49 pessoas ainda estavam desaparecidas na Vila do Sahy no fim da tarde desta segunda (20/2). O dado oficial é de 36. “Mas eu acredito que não seja isso”, diz Beto. “Pode ter bem mais. Ainda não dá para ter certeza do número.” Além dos mortos, 22 moradores do bairro ficaram feridos e 973, desabrigados.
A Vila do Sahy, até o início da noite de segunda (19/2) permanecia sem água e com energia parcialmente ligada. Boa parte do atendimento aos moradores da região está sendo feito no Instituto Verdescola, uma ONG que atua no bairro e se transformou num ponto de apoio aos desabrigados e feridos. Ela também tem recolhido donativos para os moradores da região (veja no link como doar).