Operação da PF encontra zoológico macabro em mansão no interior de SP
Operação investiga lavagem de dinheiro proveniente de extração e comércio ilegal de ouro. Coleção de 19 animais empalhados foi descoberta
atualizado
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São Paulo – A Polícia Federal (PF) encontrou um zoológico macabro em uma mansão em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, na última terça-feira (10/9). A corporação estava cumprindo um mandado de busca e apreensão em um condomínio de luxo da cidade quando descobriu uma coleção de 19 animais empalhados.
A ação fez parte da Operação Aqua Fortis, deflagrada nessa terça, que investiga lavagem de dinheiro proveniente da extração e comércio ilegal de ouro em garimpos do Mato Grosso (MT) e Pará (PA). De acordo com a PF, o esquema movimentou aproximadamente R$ 3 bilhões somente nos últimos quatro anos.
Cerca de 60 policiais federais cumpriram nove mandados de busca e apreensão em São José do Rio Preto e um na cidade de São Paulo. Os mandados foram expedidos pela 2ª Vara da Justiça Federal de São Paulo.
A mansão onde foi encontrado o “zoológico macabro” pertence a um empresário de 49 anos, que também é caçador profissional. Segundo a PF, o homem mantinha uma empresa de fachada em Rio Preto, utilizada para comercialização ilegal de ouro. Ele estava ausente no momento da operação.
Animais apreendidos
Uma equipe de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) participou das diligências. O órgão encontrou 12 troféus de caça irregulares – sendo 11 cabeças de animais e uma ave taxidermizados.
Entre os animais encontrados estavam exemplares de espécies como hipopótamo, girafa, búfalo, gnu e leão.
Apenas sete peças possuíam documentação regular de importação. O responsável pela residência ainda foi notificado a explicar a ausência de uma pele de zebra mencionada na documentação, mas que não estava no local.
Alguns dos animais, como o leão, possuíam certificação de importação emitida pela Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Silvestres Ameaçadas de Extinção (Cites), o que legalizaria sua importação e posse no Brasil, afirma o Ibama.
A documentação apontou que o leão foi vítima de “caça enlatada”, prática em que os animais são criados em cativeiro até atingirem a idade adulta, sendo então liberados em áreas controladas para serem abatidos por caçadores.
Uma cabeça de girafa carecia da licença Cites, o que configura importação ilegal. As investigações também buscam esclarecer se o animal foi abatido de forma ilícita no país de origem.
O Ibama declarou em nota que, embora alguns troféus estivessem respaldados por documentação, a maioria das peças não cumpria as exigências legais.
O órgão lembra ainda que o Brasil é signatário da Cites, convenção que regula o comércio de espécies cujo tráfico representa risco à sua sobrevivência. Animais como leões e girafas são protegidos pela convenção, o que exige que sua importação seja devidamente documentada e aprovada pelos países envolvidos.
Ação criminosa em terras indígenas
A Operação Aqua Fortis é um braço da Operação Bruciato, também deflagrada na terça-feira. A ação busca combater o financiamento, a extração e a comercialização ilegal de ouro na região sul do Pará, após a PF identificar uma organização criminosa que opera no interior e arredores da Terra Indígena Kayapó.
As ações ocorreram nos estados do Pará, Amazonas, Roraima e Mato Grosso, resultando no cumprimento de 33 mandados de busca e apreensão, 13 mandados de prisão, além da apreensão de bens e bloqueio de R$ 2,9 bilhões.
Foram apreendidos veículos, motocicletas, joias, ouro in natura e outros bens de elevado valor dos investigados, que ainda estão sendo contabilizados pelas equipes.
Foi determinado ainda o afastamento cautelar de quatro ocupantes de cargos públicos, suspensão de atividade de quatro empresas, suspensão de seis permissões de lavra garimpeira e suspensão de quatro autorizações de posse/porte de armas.
A organização contava com a participação, além de outros investigados, de servidores públicos e indígenas.
De acordo com a PF, a organização criminosa possui vínculos com indivíduos envolvidos nas mesmas atividades ilícitas na Terra Indígena Yanomami, em Roraima.
As investigações apontaram o “esquentamento” de, pelo menos, 3,14 toneladas de ouro extraído ilegalmente, por meio de declarações fraudulentas para mascarar a origem do minério.