Onda de boatos, ameaças e medo atinge escolas após ataques em SP e SC
Ameaças e boatos de novos ataques começaram a fazer parte do cotidiano de escolas espalhando medo entre alunos e professores
atualizado
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São Paulo – O ataque que matou uma professora na capital paulista e o massacre de crianças e funcionárias de uma creche, em Santa Catarina, deixaram como sequela uma onda de boatos e medo nas escolas. Supostas ameaças de novos atentados têm feito parte do cotidiano de escolas e até mesmo de faculdades, causando insegurança em toda a comunidade. Assustados, alunos têm faltado às aulas, enquanto as instituições também estão acuadas e sem um protocolo padrão para reagir a esses casos.
“Essa disseminação massiva de falsas de ameaças é péssima porque vai criando um clima paranoico em relação a escola. É triste porque a primeira reação é ter um policiamento maior nas escolas, botão de pânico, que já existe nos Estados Unidos, mas essas soluções são paliativas. As pesquisas mostram que nos Estados Unidos incrementar o policiamento não resolveu a questão”, diz Antônio Zuin, professor titular do departamento de educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e autor do livro Fúria narcísica entre alunos e professores: as práticas de cyberbullying e os tabus presentes na profissão de ensinar.
Marian Dias, docente departamento de educação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora do Observatório da educação: violência, inclusão e direitos humanos, afirma que alunos, professores e funcionários se sentem desamparados quando a instituição ignora a apreensão causada pelos boatos.
“Muitas escolas estão negando o sentimento do medo e isso é muito ruim. Então, a primeira coisa é escola admitir que as pessoas estão com medo e que, juntas, podem expressar esse medo e tentar estabelecer o que tem ou não fundamento nesse medo e o que é possível fazer para enfrentar”, diz Marian.
Luciene Tognetta, professora do Departamento de Psicologia da Educação na Universidade Estadual Paulista (Unesp), também defende que é essencial acolher quem estiver se sentindo inseguro. “O que eu não falo não deixa de existir, continua existindo e toma uma proporção cada vez maior. Não falar causa uma piora emocional. Existe uma diferença entre falar para ‘espetacularizar’ e falar para compreender, para resistir, para suportar”, diz Luciene.
“Mais do que nunca tem que se recuperar a função da escola como ambiente socializador. Isso implica estabelecer dentro da escola medidas de exposição e discussão de práticas de violência que fazem parte do cotidiano, como o bullying”, diz o docente da UFSCar. Zuin também indica a criação de comissões com a participação de diversos agentes, como psicólogos, coordenadores pedagógicos e pais.
Os especialistas dizem que os alunos que quiserem faltar das aulas por medo devem ser respeitados em um primeiro momento e que é preciso estabelecer um diálogo para entender os motivos e como lidar com essas questões. Os pais e a escola necessitam adotar o mesmo discurso para amparar os estudantes.
“A sugestão que eu tenho dado às escolas é que façam rodas de conversa com professores, com funcionários, com famílias e, especialmente, com os estudantes. Não é para gente ficar expondo e todo mundo entrar nessa histeria coletiva. Mas é conversar objetivamente: ‘Como você se sente? Por que que você se sente assim? Quais elementos você tem visto no seu dia a dia que te fazem sentir medo?’, diz Marian.
Essa abordagem não deve se restringir apenas a uma palestra por semestre. Os pesquisadores de educação concordam que deve ser um trabalho estrutural, contínuo e de longo prazo, para alcançar resultados.