Olheiro disse à Justiça que entrou para igreja e largou as drogas
Kauê do Amaral Coelho foi acusado de tráfico, mas condenado só por porte de drogas. Ele é suspeito de alertar executores de Gritzbach
atualizado
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São Paulo — Alvo de um decreto de prisão sob suspeita de ser sido olheiro dos executores do delator Antonio Vinicius Gritzbach, Kauê do Amaral Coelho disse em um depoimento à Justiça, no início de 2023, que ficou em “choque” após ser preso em flagrante com 477 gramas de entorpecentes e que se apegou à família, à igreja e largou as drogas. Ele chegou a ser acusado de tráfico, mas foi condenado somente por crime de porte.
Como mostrou o Metrópoles, ele foi detido em flagrante, em 2022, com a droga escondida na roupa. Ele foi parado policiais militares quando andava em uma moto. Alegou ter comprado o entorpecente, conhecido como “bala”, por R$ 3 mil para consumo próprio. O MP denunciou Coelho por tráfico de drogas.
O juiz do caso colheu testemunhos de policiais e pessoas indicadas pela defesa, em uma ação penal. Um sócio, a pastora da igreja, um amigo e até o dentista de Coelho confirmaram em depoimento que ele era usuário. Também pesou o que o próprio acusado disse. Ele contou ser sócio de uma adega e que ganhava R$ 15 mil mensais. Além disso, não negou que estava com a droga, e ainda contou que era para uso pessoal.
“Estava viciado e consumia até em dias normais e não só em festas. Na semana, usava grande quantidade de comprimidos. Chegava a usar de quarenta a cinquenta comprimidos em um final de semana. Nunca havia comprado quantidade tão grande, mas como era final de ano, iria consumir quase todo dia”, disse.
Segundo Kauê, antes de conhecer “a pessoa que lhe vendeu essa droga, apenas comprava nas festas que frequentava”. “Depois que conheceu o traficante, passou a comprar em maior quantidade. Ao ser preso nestes autos, sofreu um choque muito grande. Está mais apegado à família e frequentando a igreja. Largou a droga. Não usa mais nada desde que saiu da prisão”, consta em seu termo de depoimento à Justiça.
Uso pessoal
O juiz Marcus Alexandre Manhães Bastos, da 30ª Vara Criminal da Barra Funda, afirmou que os testemunhos mostraram ser “bastante crível que, de fato, naquela ocasião, tenha adquirido a droga para uso pessoal, ao longo de certo espaço de tempo”.
“É dizer, existem depoimentos aparentemente legítimos, autênticos, sem que haja motivos para suspeitar de mendacidade. Claro que são pessoas próximas do acusado e é até possível que ele trafique e elas não saibam. Contudo, estamos diante de primário, sem antecedentes criminais, que tem ganhos substanciais em seu negócio, e que até poderia despender certa quantia para adquirir, de uma vez, material para consumir ao longo de dois a três meses”, anotou.
Medidas educativas
O juiz considerou que “a prova dos autos, colhida no curso da instrução, não é o suficiente a confirmar os termos da denúncia por tráfico”. “Contudo, a posse para consumo próprio foi afirmada pelo acusado. A droga estava em seu poder. Então, como o porte de entorpecentes pelo acusado ficou bem demonstrado e como a materialidade delitiva restou igualmente evidenciada, a absolvição se apresenta inaceitável”, disse.
O magistrado desclassificou a denúncia por tráfico oferecida pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) e condenou Coelho somente por porte de drogas. O crime é de menor potencial lesivo e ele foi condenado a “medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo”. Mesmo assim, o Ministério Público pediu prisão para execução da pena. A Defensoria Pública correu aos autos e disse que a promotora da execução penal não “se atendou que se trata de condenação” por porte de drogas e pediu a extinção da pena em julho de 2024.
Prisão decretada
Kauê do Amaral Coelho teve prisão decretada nessa segunda-feira (18/11) sob suspeita de ter alertado os executores sobre a movimentação de Antonio Vinícius Gritzbach. Ele aparece em câmeras do aeroporto seguindo o delator na área de desembarque.
Segundo o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derritte, o plano para matar Gritzbach partiu do Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele e delegados envolvidos na investigação não deram nomes dos supostos mandantes.
Investigadores anunciaram um prêmio de R$ 50 mil para quem der informações consistentes do paradeiro de Coelho.
Morte de Gritzbach
Antonio Vinícius Gritzbach era jurado de morte por integrantes da maior organização criminosa do Brasil, segundo o Ministério Público de São Paulo (MPSP).
Em delação premiada, ele detalhou como a facção lavava dinheiro, além de relatar extorsões sofridas por policiais civis.
O motivo para ter sua cabeça a prêmio, no entanto, seria o envolvimento de Gritzbach no assassinato de duas figuras da facção em dezembro de 2021: o chefão Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, e o motorista dele, Antônio Corona Neto, o Sem Sangue.