Irmãos Campana: o que você precisa conhecer sobre a produção da dupla
Além de mobiliário, os irmãos Campana são autores de projetos de interiores e obras de arte; exposição sobre a dupla está em carta em SP
atualizado
Compartilhar notícia
O ano era 1988. Humberto Campana estava fazendo um passeio de bote inflável pelo rio Colorado, nos Estados Unidos, quando a embarcação virou. Ele ficou preso em um redemoinho e quase morreu. O acontecimento inspirou Humberto a desenhar a cadeira “Positivo” em chapas de ferro. Com os restos do material, seu irmão mais novo, Fernando, construiu a cadeira “Negativo”. Na última quarta-feira (16/11), a dupla de criadores ficou sem o “negativo”. Fernando Campana morreu aos 61 anos.
Na juventude, Fernando queria ser ator, mas na hora de escolher a faculdade, optou pela arquitetura. A forma que encontrou de se aproximar das artes cênicas foi trabalhando na criação de cenários. Nos anos 1980, começou a trabalhar com irmão na parte burocrática do ateliê de artesanato que Humberto mantinha. Enquanto o mais velho criava, o mais novo cuidava da contabilidade do negócio.
Depois da criação da dupla de cadeiras “Positivo” e “Negativo”, em 1989, os dois criaram uma série de peças que batizaram de “Desconfortáveis”. Em uma área que preza pelo conforto, a dupla chamou atenção das lojas de design pela provocação que propunham. E nunca deixaram de provocar. Suas criações, feitas com materiais inusitados, como plástico bolha, isopor e pelúcias, questionaram o padrão de bom gosto.
Trabalhando como dois pólos complementares, os irmãos Campana se tornaram sinônimo de design brasileiro na cena internacional. Há peças suas em acervos importantes como do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). O café do Museu D’Orsay, em Paris, é um projeto dos irmãos nascidos em Brotas, no interior de São Paulo.
Ainda que um dos badalos dessa campana (“sino” em italiano) tenha se silenciado, o trabalho da dupla continua a ressoar. Conheça as criações mais icônicas dos irmãos – alguns inclusive você pode visitar na cidade de São Paulo.
Exposição “Polifonia Campana”
O objetivo é mostrar mais do que os móveis pelos quais a dupla de irmãos é internacionalmente conhecida. Mas, claro, não faltam peças de mobiliários. O visitante é recebido pelo sofá “Cratera” (2022), que faz um contraponto com as linhas retas da casa modernista da sede da galeria Luciana Brito. Foram selecionados desenhos de projetos e esculturas de Fernando, que apresentam indícios de seu processo criativo. Uma torre formada de inúmeras miniaturas de Big Bens demonstra o interesse do arquiteto em aglutinar objetos de mesma família. No anexo da galeria, está uma série inédita de mesas e luminárias feitas em terracota. A exposição fica em cartaz até 21 de janeiro de 2023.
Avenida Nove de Julho, 5162 – Jardim Europa. Seg.: 10h/18h; ter./sex.: 10h/19h; sáb.: 11h/17h. Site: lucianabritogaleria.com.br.
Salão Dourado e Salão Nobre do Theatro Municipal
Em contraste à ornamentação rococó do Salão Nobre estende-se o carpete Sushi desenhado pelos irmãos. O padrão da estampa surge a partir de uma série de trabalhos, em que utilizam recortes de eva enrolados meticulosamente. Por uma entrada lateral do Theatro, está o café Salão Dourado, que ostenta um imponente balcão sinuoso e um grande espelho dourado de formas hexagonais, ambos desenhados pela dupla.
Praça Ramos de Azevedo, s/n – Centro. Ter./sex.: 11h/16h; sáb./dom.: 10h/6h. site: bardosarcos.com.br/salao-dos-arcos.
Cadeira Favela (1991)
Inspirados nas construções de madeiras de comunidades brasileiras, a cadeira “Favela” surge da experimentação dos irmãos em preencher espaços vazios com pedaços de madeira. A cadeira trouxe destaque aos artistas no cenário internacional.
Cadeira Vermelha (1993)
Um olhar desatento vai dizer que bastou soltar um rolo de corda sobre a estrutura de metal. “O raciocínio é para parecer casual”, afirma Humberto sobre a Cadeira Vermelha. Embora a construção pareça não ter método, os irmãos passaram um bom tempo criando o padrão de traçado que cobre a estrutura de metal. A peça faz parte do acervo do MoMA.
Cadeira Cartoon (2007)
A cadeira, que faz parte do acervo permanente do Design Museum, em Londres, é composta de bonecos de pelúcia de personagens icônicos da Disney como Mickey e Pluto. A peça, segundo os autores, remete ao mundo onírico e turbulento da infância, em uma mescla de nostalgia e ousadia na construção de novos arquétipos no design de mobiliário.