O desconforto de Nunes com faria limers: “Falo com público mais pobre”
Em discurso a investidores da Faria Lima, Ricardo Nunes ressalta obras em áreas de risco e combate a enchentes e reconhece falta de diálogo
atualizado
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São Paulo — O prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, fez um discurso destacando seu “olhar para as regiões periféricas” diante de um público formado por clientes de fundos de investimento da Avenida Brigadeiro Faria Lima, coração financeiro do país, e reconheceu sua “falta de diálogo” com os gestores desses fundos, os chamados “faria limers”, que, até o início da campanha deste ano, demonstravam sinais de apoio ao rival Pablo Marçal (PRTB).
Nunes, em conversas com interlocutores, costuma admitir que tem dificuldade em se conectar com esse perfil de eleitores. Seus aliados afirmam que o prefeito acredita sofrer preconceito por ser um empresário oriundo da periferia. Para se comunicar com esse público, Nunes estava ao lado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que, por sua vez, tem facilidade em lidar com investidores e conta com a simpatia desse grupo.
No discurso, feito no salão de um edifício de luxo, diante de um público composto quase inteiramente por homens brancos de terno azul, Tarcísio enfatizou os benefícios da privatização da Sabesp e falou sobre parcerias com a Prefeitura em áreas como segurança pública e revitalização do centro.
Nunes, ao falar, tentou ajustar seu discurso para se aproximar dos “faria limers”, começando sua fala ao destacar que a Prefeitura de São Paulo possui uma classificação AAA na agência de risco Fitch (indicando que a cidade tem alta capacidade de honrar suas dívidas). No entanto, os acenos aos investidores logo se transformaram em uma fala sobre sua busca por “garantir o sono” de pessoas que vivem em áreas de risco, além de incluir alguns ataques indiretos a Marçal.
Em conversa com jornalistas, após o discurso, Nunes comentou que já perdeu dinheiro investindo em fundos e afirmou que algumas pessoas tratam esses investimentos como o “jogo do tigrinho”, em que se aposta dinheiro e se acaba perdendo.
Sem diálogo
O prefeito disse que procurou fazer um discurso “de a gente ver aquilo que é resultado, do que estamos fazendo, e do que podemos realizar no futuro”. Ele acrescentou: “Mas, para entender a dinâmica, eu não tenho muito diálogo com esse público aqui. Para mim, é um pouco mais difícil, já que eu falo mais com o público mais pobre. Então, tentei encontrar uma forma de conversar com eles na lógica deles, que é investir onde há uma maior probabilidade de segurança”.
O prefeito e o governador foram convidados para uma palestra pelo fundo Genial, que trouxe alguns de seus investidores para o evento. No local, havia um banner com os brasões da Prefeitura e do governo do Estado. No entanto, a equipe de campanha pediu que as imagens fossem rapidamente removidas, já que as duas autoridades estavam cumprindo uma agenda eleitoral, e não de governo.
Segundo interlocutores, Tarcísio acredita que parte dos “faria limers” que, no início do período eleitoral, demonstravam interesse em Marçal, desconheciam o passado do ex-coach, e agora são um dos grupos responsáveis pela crescente rejeição ao candidato. Em conversas reservadas, Tarcísio costuma alertar que seria “um desastre” se Marçal vencesse a eleição na cidade.