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“O cachorro ainda espera por ele”, conta pai de estudante morto por PM

Julio César Acosta é médico e pai de Marco Aurélio Cardenas Acosta, estudante de medicina de 22 anos morto por tiro de PM nessa quarta (20)

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1 de 1 Design sem nome – 2024-11-21T104031.581 - Foto: Reprodução/Redes Sociais

São Paulo — Após a morte de Marco Aurélio Cardenas Acosta, estudante de medicina de 22 anos que foi baleado à queima-roupa por um policial militar dentro de um hotel na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, na madrugada dessa quarta-feira (20/11), o pai dele, Julio César Acosta Navarro, afirmou ao Metrópoles que o cachorro da família ainda aguarda que o jovem chegue em casa.

“Eu já perdi meu filho, não o terei nunca mais. Se você vier aqui, verá que o cachorro ainda está aguardando por ele, as fotos, a lembrança dele”, disse Julio César Acosta. “O único conforto agora seria que alguém viesse pedir perdão pelo que fez.”

Quando soube que o filho havia sido baleado, Julio Cesar disse que foi ao Hotel Flor da Vila Mariana, na Rua Cubatão, para ter mais informações. Ele alegou que todos os policiais lá presentes negaram ajuda. “Eles estavam mostrando uma atitude destemida, segurando armas, não prestando ajuda, não me deram informação da gravidade”, afirmou.

Julio Cesar é médico e, mesmo sem assistência policial, que lhe negou carona na viatura para o Hospital do Ipiranga, ele foi de táxi até lá para poder avaliar a situação de Marco Aurélio. No hospital, encontrou o filho em estado grave, agonizando. Quando viu o orifício da bala no centro do abdômen dele, foi se encontrar com as dezenas de oficiais que estavam em frente ao hospital para algum tipo de informação técnica do que havia acontecido, para eventualmente garantir uma melhor cirurgia. Segundo Julio, ninguém prestou ajuda, e o filho morreu no centro cirúrgico.

“Por que fez? Por que parecia pobre? Por que parecia estrangeiro? A maldade, a crueldade e a covardia desses caras. Não davam informação, como cúmplices. Os superiores dos superiores e chefes que até agora, sabendo de tudo isso, não fizeram nada, eu não sei o que estão esperando”, desabafou o pai.

Julio Cesar e a esposa, mãe de Marco, são de origem peruana e foram naturalizados brasileiros há mais de 30 anos. O estudante de medicina morto pelos PMs era o filho mais novo do casal e nasceu no Brasil.

Marco Aurélio estudava medicina na Faculdade Anhembi Morumbi e, segundo o pai, iria apresentar um trabalho nesta quinta-feira (21/11) no 13° Congresso Paulista de Clínica Médica, da Sociedade Brasileira de Clínica Médica (Regional de São Paulo em Barueri, na região metropolitana). A reportagem entrou em contato com a organização do evento para mais detalhes, mas não obteve retorno.

Entenda o caso

Na madrugada dessa quarta-feira (20), o estudante de medicina foi morto por um tiro à queima-roupa de um policial militar durante uma abordagem. Uma câmera de segurança registrou o momento em que Marco Aurélio entra correndo no hotel. Ele está sem camisa. Um PM também entra, logo em seguida, e puxa o jovem pelo braço, com a arma em punho (assista abaixo).

O estudante consegue se desvencilhar, quando outro policial aparece e lhe dá um chute. O jovem segura o pé do PM, que se desequilibra e cai para trás. Nesse momento, o agente armado dá um tiro em Marco Aurélio.

No boletim de ocorrência (BO), os PMs alegaram que Marco Aurélio Cardenas Acosta estaria “bastante alterado e agressivo” e teria resistido à abordagem policial.

Além disso, o documento aponta que, “em determinado momento, [Marco Aurélio] tentou subtrair a arma de fogo que o soldado [Bruno Carvalho do] Prado portava, quando então o soldado [Guilherme] Augusto efetuou um único disparo, a fim de impedi-lo”.

As imagens do circuito interno do hotel mostram, no entanto, que o PM Augusto atirou após o soldado Prado dar um chute no estudante, ter a perna segurada por ele e cair para trás, desequilibrado. No vídeo (assista acima), não é possível ver Marco Aurélio tentando pegar a arma do agente — ao contrário do que foi narrado na delegacia.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), antes do momento registrado no hotel, o estudante “golpeou a viatura policial e tentou fugir”. A pasta também informou que os PMs prestaram depoimento, foram indiciados em inquérito e permanecerão afastados das atividades operacionais até a conclusão das apurações — as polícias Militar e Civil apuram o caso.

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PM mata estudante de medicina durante abordagem em SP
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Além disso, a SSP afirmou que as imagens registradas pelas câmeras corporais serão anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). No entanto, de acordo com o BO, as câmeras dos PMs Augusto e Prado não estavam ligadas.

Quem era o estudante

Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, estudava medicina na Faculdade Anhembi Morumbi e chegou a gravar músicas com o nome artístico “MC Boy da VM”. No time de futebol da universidade, o estudante era conhecido como “Bilau”.

Em seu perfil no Instagram, Marco Aurélio se descreve como “mestre de cerimônia” e “compositor”. No Spotify, o estudante publicou duas músicas, nos anos de 2022 e 2023. O jovem fez a última publicação cerca de 30 minutos antes de morrer.

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Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, era conhecido como "Bilau"
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Luto

A Associação Atlética Acadêmica de Medicina Anhembi publicou nota de luto pelo estudante: “A Medicina Anhembi manifesta profundo pesar pelo falecimento do nosso querido aluno do internato, Marco Aurélio Cardenas Acosta, apelidado como ‘Bilau’”.

“Neste momento de imensa dor, nos solidarizamos com seus familiares, companheiros de time e colegas, que perderam não apenas um companheiro de jornada, mas também um amigo. Que sua memória seja sempre lembrada com carinho e que sua trajetória inspire a todos nós”, completa o texto.

O time de futebol do curso de medicina também prestou homenagens em seu perfil. “Com grande tristeza viemos comunicar através deste que nosso companheiro de time e amigo, Marco ‘Bilau’ Acosta, veio a nos deixar.”

“Nesse momento de tristeza, a Família Fut Med Anhembi expressa toda a sua solidariedade e carinho por nosso querido amigo e seus familiares. Bilau, sempre nos lembraremos de você com muito amor e carinho”, diz a publicação.

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