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Nunes triplica verba para redutos de Milton Leite, seu fiador político

Ricardo Nunes cedeu R$ 165 milhões a mais do que o previsto para M’Boi Mirim e Parelheiros, redutos do presidente da Câmara, Milton Leite

atualizado

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Afonso Braga/Câmara de SP
milton leite e ricardo nunes
1 de 1 milton leite e ricardo nunes - Foto: Afonso Braga/Câmara de SP

São Paulo — As subprefeituras do M’Boi Mirim e de Parelheiros, na zona sul de São Paulo, aparecem disparadas como as que mais receberam recursos da Prefeitura de São Paulo após a atualização do orçamento da capital. Os dois bairros são redutos eleitorais do presidente da Câmara, Milton Leite (União), que exerce forte influência sobre a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), de quem é fiador político.

As subprefeituras são responsáveis por lidar com questões que interferem diretamente no dia a dia do cidadão, como fiscalização de comércios e os serviços de zeladoria urbana, um guarda-chuva bem amplo que acolhe desde a limpeza de ruas, praças e córregos até a operação tapa-buraco nas vias da cidade.

Os números coletados em abril mostram que, originalmente, o orçamento previa R$ 49 milhões para a Subprefeitura do M’Boi Mirim ao longo de 2023. Como mostrou o Metrópoles em dezembro, esse valor já foi turbinado pela Câmara Municipal quando o orçamento da cidade foi aprovado. Com as atualizações, esse montante passou para cerca de R$ 138 milhões, um aumento de 181,3% —ou quase três vezes o inicial.

A mesma coisa aconteceu com a Subprefeitura de Parelheiros, que viu saltar de R$ 47 milhões para R$ 124 milhões o valor disponível para 2023, um crescimento de 161%. Os dois distritos são redutos eleitorais do vereador Milton Leite, presidente da Câmara e fiador da indicação de Nunes como vice de Bruno Covas (PSDB) na eleição de 2020 — o prefeito assumiu o mandato após a morte do tucnao, em maio de 2021.

As duas subprefeituras só ficam atrás da Sé em recursos recebidos diretamente da administração municipal e lideram, com larga folga, o ranking daquelas que foram mais beneficiadas com remanejamento do orçamento feito por Nunes neste ano. Como comparação, a terceira colocada, Cidade Ademar, também na zona sul, ganhou “apenas” 48% a mais do que o previsto inicialmente pela administração municipal.

O extremo da zona sul também é um reduto eleitoral do prefeito Ricardo Nunes, que mora em Cidade Dutra, situada na área da vizinha Subprefeitura da Capela do Socorro e tem imóveis em Parelheiros.

Subprefeituras mais favorecidas com atualização do orçamento

  1. M’Boi Mirim – 181,3%
  2. Parelheiros – 161%
  3. Cidade Ademar – 47,8%
  4. Mooca – 47,3%
  5. Penha – 40,7%
  6. Pinheiros – 40,4%
  7. Ermelino Matarazzo 38,4%
  8. Butantã – 35,3%
  9. Cidade Tiradentes – 34,7%
  10. Freguesia/Brasilândia – 31,9%

A influência de Milton Leite se faz presente também na casa que preside, onde está há 25 anos. Em dezembro, foi reeleito para um inédito terceiro mandato à frente da presidência da Câmara de São Paulo. Ele obteve 47 votos entre os 55 vereadores, vencendo Silvia Ferraro (PSOL). Na ocasião, recebeu apoio de uma frente tão ampla que reuniu de petistas a bolsonaristas.

“Reparação histórica”

Procurado pelo Metrópoles, o vereador Milton Leite disse que a execução de recursos do orçamento cabe à Prefeitura, mas que, independentemente disso, a aplicação de verbas públicas em seus redutos eleitorais é totalmente compreensível porque são regiões carentes que possuem os menores IDHs da cidade.

“Portanto, as que mais necessitam de investimentos. Trata-se de uma reparação histórica com o povo pobre que vive naquelas áreas e que precisa das obras que estão sendo feitas pela Prefeitura”, explicou Leite.

A “reparação histórica” sobre a qual fala o presidente da Câmara não atinge, por exemplo, a Subprefeitura do Campo Limpo, que conta com o também bairro periférico de Capão Redondo e parte da maior favela de São Paulo, a Paraisópolis. Embora seja mais populosa (cerca de 60 mil habitantes de diferença), Campo Limpo receberá menos da metade dos recursos (R$ 58 milhões) que a vizinha M’Boi Mirim, depois ter seu orçamento reajustado em apenas 16,2%.

Milton Leite disse que não é o único vereador a atuar no extremo sul da capital paulista e que muitos outros batalham por recursos para aquela região. “Mas fico muito honrado em ser lembrado quando se fala em aumento de investimentos para a zona sul, o que significa que estou no caminho certo”, ironizou. “Estranho seria se estivesse sendo questionado por lutar por investimentos para bairros ricos”, completou.

Pediu e recebeu

Em nota, a Prefeitura de São Paulo afirmou que a Lei Orçamentária Anual (LOA) é aprovada após votação na Câmara. Também disse que é prerrogativa dos vereadores sugerir alterações nos valores destinados, inclusive, nas 32 subprefeituras da capital.

Segundo a prefeitura, é possível haver suplementação de recursos para determinadas áreas e iniciativas ao longo do ano, de acordo com planejamento da administração municipal e avaliação da Junta Orçamentário-Financeira, que aprova as cotas.

“Em relação às subprefeituras citadas, foi feito por elas o pedido de suplementação orçamentária e, dada a disponibilidade financeira da Prefeitura e a vulnerabilidade das regiões de atuação, a administração municipal entendeu ser adequada a suplementação”, diz a gestão Nunes, em nota.

A administração municipal também afirma que cabe destacar que o orçamento específico das subprefeituras não engloba todos os recursos aplicados em cada região. A Prefeitura diz que investimentos em áreas sociais, Educação e Saúde, por exemplo, são realizados com aplicação de orçamento destinado a outras secretarias.

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