Nunes estuda colocar vice nos Transportes para “moralizar” os ônibus
Ricardo Nunes avalia repassar a pasta de Transportes, que tem contratos com empresas de ônibus suspeitas de ligação com o PCC, para vice
atualizado
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São Paulo — O prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), estuda repassar ao seu vice, Coronel Mello Araújo (PL), o controle da Secretaria Municipal de Mobilidade e Transporte, responsável pela gestão da frota de ônibus da capital.
Segundo aliados do prefeito, ouvidos pelo Metrópoles neste domingo durante a festa da vitória de Nunes, a nomeação seria uma mensagem de “moralização” do setor, que é alvo investigações da Polícia Civil e do Ministério Público de São Paulo (MPSP) por infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) em empresas de ônibus que operam linhas na cidade e recebem subsídios milionários da Prefeitura.
Na atual gestão, a pasta é controlada pelo presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União), um dos principais aliados políticos de Nunes, mas que foi envolvido nas investigações do MPSP — ele teve o sigilo bancário quebrado a pedido dos promotores.
Leite tem como uma de suas bases eleitorais na zona sul a viação Transwolff, uma das duas empresas que estão sob intervenção da Prefeitura por determinação da Justiça, após a operação deflagrada pelo MPSP em abril, contra um suposto esquema de lavagem de dinheiro do PCC por meio de viações.
Coronel Mello Araújo é uma indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e já manifestou a Nunes, segundo interlocutores, seu interesse em um cargo com mais atribuições, além do papel de vice. Nunes o conheceu apenas neste ano e rapidamente passou a se declarar muito satisfeito com o novo aliado.
Durante a campanha, o prefeito destacou várias vezes feitos atribuídos a Mello Araújo enquanto ele comandava a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), durante o governo Bolsonaro. Policial militar reformado e ex-comandante da Rota, grupo de elite da PM conhecido pela brutalidade, ele teria acabado com um esquema de corrupção dentro da companhia estatal.
As suspeitas de infiltração do PCC nas empresas de ônibus subsidiadas pela Prefeitura foram bastante exploradas pelos principais adversários na campanha: Guilherme Boulos (PSol), Pablo Marçal (PRTB), Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB). Nunes sempre diz que a Prefeitura fez a intervenção nas empresas e que colabora com as investigações.
A nomeação do Coronel Mello Araújo para os Transportes, porém, ainda precisará ser negociada com dirigentes dos 12 partidos que integraram a vitoriosa coligação de Nunes. O PL, partido do vice, já demonstrou interesse em assumir outra pasta de relevância: a da Educação.
Integrantes do diretório paulistano da sigla, contudo, avaliam que, caso Mello Araújo seja de fato nomeado, ele preencherá uma cota pessoal do prefeito, sem ser contabilizado como parte da fatia da Prefeitura destinada ao partido de Bolsonaro e Valdemar Costa Neto.