“Nunca quiseram colocar Christopher na cadeia”, diz irmã de atropelado
Irmã de rapaz atropelado e morto pelo motorista Christopher Gonçalves, que debochou do caso em redes sociais, critica MPSP por arquivamento
atualizado
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São Paulo — A irmã do rapaz que foi atropelado e morto em abril na região central de São Paulo demonstrou decepção com a decisão do Ministério Público Estadual de pedir à Justiça o arquivamento do inquérito contra o motorista de aplicativo Christopher Gonçalves Rodrigues Rocha, de 27 anos. Revelado pelo Metrópoles, o caso ficou conhecido por “menos um fazendo L”, depois que o atropelador debochou do ocorrido em redes sociais.
“Eles nunca quiseram colocar o Christopher na cadeia, essa é a verdade”, diz a atendente Paloma Campos, 29 anos, irmã de Matheus Campos da Silva, de 21, que foi atropelado pelo motorista de aplicativo.
Segundo a investigação da Polícia Civil, há indícios de que Matheus havia furtado um celular de um outro motorista e, ao fugir entre os carros, foi atropelado por Christopher. Nas redes sociais, o atropelador associou o rapaz atropelado a eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O delegado Percival Alcântara indiciou o motorista de aplicativo por homicídio culposo (sem intenção de matar), omissão de socorro e incitação ao crime. Já o promotor Claudio Henrique Bastos Giannini pediu à Justiça o arquivamento das duas primeiras acusações e disse que a terceira deveria ser analisada pelo Juizado Especial Criminal.
O fato de Christopher ter debochado e divulgado imagens do irmão agonizando sob o carro é visto por Paloma como suficientemente grave para que o Ministério Público Estadual tivesse denunciado o motorista.
“Tem vídeo dos bombeiros tentando salvar a vida do meu irmão e ele debochando. Ele debocha das pessoas que tentaram ajudar o meu irmão. Isso não é omitir socorro? Você não querer chamar a ambulância, dizer que ele tinha que morrer mesmo. O que é omissão de socorro, então?”, questiona Paloma.
A irmã de Matheus diz que a família não foi atendida da melhor maneira pelo advogado que assumiu o caso num primeiro momento e que deverá procurar a Defensoria Pública para impedir que a Justiça aceite o pedido de arquivamento feito promotor.
“A morte do meu irmão não será em vão. Christopher vai pagar pelo que fez e vai ser preso, não vai ficar assim”, diz.
Paloma conta que a família se sente desconsolada ao ver que o atropelador está em liberdade. “Faz seis meses que estamos sem o meu irmão e tem seis meses que o Christopher está livre, indo para a faculdade, cuidando da vida dele”, diz. “Como que ele consegue deitar a cabeça no travesseiro e dormir, sabendo que tirou a vida de uma pessoa? Como pode?”, questiona.
Seis meses depois do ocorrido, a atendente também diz ter dúvidas sobre o estado de Christopher no momento em que atropelou Matheus e lamenta o fato de não ter sido realizado um exame para checar se ele havia ingerido álcool ou outra substância.
Paloma também afirma que há também um componente de discriminação no arquivamento do caso. “Não pode matar ninguém do nível social deles, porque aí tem Justiça. Se matar um pobre, não tem Justiça”, afirma. “Quantos casos de atropelamento de morador de rua ocorrem no Brasil e as pessoas não estão nem aí? Em nenhum momento pensam na família da vítima, se tem filho, mãe, se alguém vai procurar.”
Procurada na segunda-feira (30/10) para comentar a decisão do Ministério Público Estadual de pedir o arquivamento do inquérito, a defesa de Christopher disse que aguardará a manifestação da Justiça. Em entrevista durante a fase inicial das investigações, o advogado do motorista disse que os vídeos publicados em redes sociais eram “um desabafo”.