Mesmo com novo Marcola preso, bando mantém clima de terror no interior
Irmão Soneca teria promovido uma matança na região de Rio Claro para tentar assumir o lugar de “novo Marcola” no Bando do Magrelo
atualizado
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São Paulo — Mesmo com a prisão de Anderson Ricardo de Menezes, o Magrelo, chefe da facção conhecida como Bando do Magrelo e que se autointitulou o “novo Marcola”, em maio de 2023, o clima de terror segue na cidade de Rio Claro, no interior de São Paulo.
Ele é o cabeça de uma organização criminosa que movimenta milhões no município e abusa da violência para se impor ao Primeiro Comando da Capital (PCC), maior facção do Brasil.
Magrelo, inclusive, se considera o “novo Marcola”, referindo-se ao líder máximo do PCC, de quem é inimigo.
A ida de Magrelo para o sistema carcerário, no entanto, gerou um racha no bando e insuflou a ganância de antigos aliados. Em especial, de Murilo Batista Prado, de 25 anos, segundo relatório policial obtido pelo Metrópoles.
Murilo, conhecido como Irmão Soneca, teria promovido uma matança na região de Rio Claro para tentar assumir o lugar do chefão encarcerado.
Fontes ligadas à investigação do caso afirmaram, em sigilo, que Irmão Soneca teria tentado se aliar, sem sucesso, ao PCC. Ele, antes disso, fazia parte da quadrilha de Magrelo, com o qual realizou negócios, inclusive viajando com o chefão ao Paraguai – onde teria negociado e transportado cargas de drogas para o interior paulista.
Mas, sem respaldo do PCC e considerado um traidor, Irmão Soneca teria sido julgado e condenado à morte, em agosto, por um “tribunal do crime” promovido por criminosos do bando liderado por Magrelo.
Dois corpos foram encontrados em um veículo incendiado e, um deles, conforme fontes afirmaram sob sigilo, foi reconhecido por familiares como de Irmão Soneca.
“Novo Marcola” e disputa entre facções
A disputa entre o Bando do Magrelo e o Primeiro Comando da Capital (PCC) pelo controle das atividades criminosas na região de Rio Claro, no interior de São Paulo, virou uma guerra entre as facções e culminou com vingança e a morte de quatro pessoas em cerca de 12 horas no último sábado (23/11).
O primeiro a morrer foi Daniel de Paula Sobrinho, de 29 anos, executado dentro no salão de cabeleireiro que é dono, no bairro Jardim Palmeiras. Uma câmera de monitoramento (assista abaixo) registrou a chegada de dois pistoleiros, em um Volkswagen Gol branco, às 8h27. A dupla estaciona em frente ao salão, no qual entra correndo e onde havia clientes.
Daniel, ligado ao Bando do Magrelo, quadrilha local com forte poder de fogo — segundo apurado pelo Metrópoles — foi alvo de ao menos 30 tiros e morreu ainda no local. Toda a ação, incluindo a fuga, durou pouco mais de 20 segundos.
O líder da quadrilha rival do PCC, Anderson Ricardo de Menezes, o Magrelo, foi preso em 23 de maio do ano passado em Borborema, a cerca de 210 quilômetros de distância de Rio Claro. Ele chegou a afirmar ser o “Novo Marcola” — líder máximo da maior facção do Brasil — devido à influência de seu bando na região.
Magrelo foi denunciado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP). A Justiça atribui ao traficante ao menos 30 mortes na região.
Vídeo
Triplo assassinato como vingança
Cerca de 12 horas depois da morte de Daniel, o Bando do Magrelo vingou a morte do seu integrante.
De acordo com registros policiais, obtidos pelo Metrópoles, a quadrilha local matou a tiros: José Cláudio Martins Nunes, de 50 anos, Gabriel Lima Cardoso, 26, e Marcelo Henrique Ferreira, 27, todos membros do PCC.
Marcelo foi morto com um tiro na cabeça e outro na nuca, no meio da rua, no Jardim Rio Claro. A cerca de dez metros de distância, havia um Fiat Mobi, com o motor ainda ligado. Suspeita-se que esse carro foi usado pelos assassinos — que ainda abandonaram no local um carregador prolongado de pistola e munições, intactas, calibre 9 milímetros.
Próximo às munições e ao carregador estava o corpo de José Cláudio, atingido por cinco tiros no peito, um na nuca, e outros dois em cada lado da cabeça.
Ainda vasculhando a região, um policial pulou um muro e, no meio de um terreno, localizou um chinelo. Mais adiante, já no asfalto, estava o corpo de Gabriel Lima, baleado com cinco tiros na cabeça e um no joelho direito. Era o terceiro executado na chacina.
O bando do Magrelo pretendia matar quatro membros do PCC. Um deles, porém, sobreviveu ao atentado e foi hospitalizado. Ele poderá ajudar a polícia a identificar os envolvidos na chacina. Até o momento, ninguém foi preso.