“Novo Marcola”: após matança, Rio Claro rejeita homenagem a Derrite
Projeto que dava a Derrite título de cidadão rio-clarense não obteve votos necessários. No fim de semana, houve 4 homicídios na cidade
atualizado
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São Paulo —Após a morte de quatro pessoas atribuída a uma guerra de facções em Rio Claro, no interior de São Paulo, a Câmara de Vereadores da cidade rejeitou, na segunda-feira (25/11), uma homenagem ao secretário estadual da Segurança Pública, Guilherme Derrite. As execuções aconteceram no final de semana, em um intervalo de 12 horas.
A proposta de decreto legislativo foi apresentada durante sessão ordinária pelo vereador Moisés Marques (PL). Ele citou as mortes no fim de semana para justificar o título de cidadão rio-clarense a Derrite.
“Foram 26 homicídios no ano, por isso a importância de ter o secretário de Segurança do Estado perto da nossa cidade, [para] enviar mais policiais militares, a valorização da nossa guarda municipal e vigilantes patrimoniais”, afirmou. “Sempre parabenizo o capitão Derrite, que desde [a época em que era] deputado federal sempre enviou recursos para o nosso município.”
Marques disse, ainda, que Derrite teria dado o aval para a construção do 37º Batalhão da PM em Rio Claro.
A oposição, contudo, discordou do posicionamento do autor da proposta. “É muita hipocrisia votarmos hoje um título de Cidadão Rio-Clarense para um secretário de Segurança Pública, sendo que no fim de semana tivemos quatro homicídios na nossa cidade, foi um recorde”, disse a vereadora Carol Gomes (Podemos).
Para ser aprovado, o projeto precisava de dois terços de votos favoráveis — a Câmara de Rio Claro tem 19 vereadores. No total, a proposta teve 10 votos favoráveis e 8 contrários (veja abaixo), não atingindo o mínimo necessário. Um dos vereadores da Casa não esteve presente à sessão.
Placar da votação que rejeitou homenagem a Guilherme Derrite na Câmara de Rio Claro
O Metrópoles procurou a Secretaria da Segurança Pública (SSP) para comentar a rejeição à homenagem a Derrite, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem. O espaço está aberto.
Guerra de facções em Rio Claro
Rio Claro se tornou palco de uma guerra entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e uma quadrilha local conhecida como Bando do Magrelo. Segundo a polícia, o grupo liderado por Anderson Ricardo de Menezes — o Magrelo — é conhecido pela truculência, com ataques à luz do dia e uso de armamento pesado.
Investigações do Ministério Público de São Paulo (MPSP) apontam que o Bando do Magrelo é responsável pelo assassinato de pelo menos 30 integrantes do PCC. A rivalidade é motivada pela disputa da rota do narcotráfico na região de Rio Claro, que movimenta milhões de reais todos os meses — o MPSP identificou que o bando comercializa drogas em, ao menos, oito cidades.
Magrelo já se intitulou como “o novo Marcola”, referindo-se a Marco Willians Herbas Camacho — o principal líder da maior facção do Brasil. Teria partido dele a ordem para a execução sumária dos integrantes do PCC.
Em uma denúncia obtida pelo Metrópoles, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), órgão do MPSP, afirmou que as execuções promovidas pelo Bando do Magrelo, em via pública, com disparos de fuzil em plena luz do dia, “colocam tristes holofotes na cidade”.
Prisão de Magrelo
Magrelo foi preso em 23 de maio do ano passado, usando documento falso, na cidade de Borborema, a cerca de 210 km de distância de Rio Claro — e a quase 380 km da capital paulista.
A chegada de Magrelo ao sistema carcerário acabou provocando racha dentro de seu próprio grupo, uma vez que antigos aliados acreditaram que poderiam suceder o “novo Marcola”. Um deles seria Murilo Batista Prado, o Irmão Soneca, de 25 anos, que teria promovido matança na região para tentar tomar o lugar do chefão do tráfico.
O racha teria provocado a morte de pelo menos cinco integrantes do bando. A polícia suspeita que o próprio Murilo esteja morto. Seria dele um dos dois corpos encontrados carbonizados dentro de um carro em agosto na cidade de Ipeúna — município onde Magrelo morava, o que foi interpretado pela polícia como um possível “recado a traidores”. A identidade de Irmão Soneca, contudo, ainda não foi confirmada.
Nova onda de mortes
No último fim de semana, uma nova onda de mortes jogou luz sobre a violência em Rio Claro. Quatro homens foram mortos em um intervalo de 12 horas na cidade e, segundo a polícia, o banho de sangue é mais um capítulo da guerra entre o PCC e o Bando do Magrelo.
A primeira vítima foi Daniel de Paula Sobrinho, de 29 anos, executado dentro de seu salão de cabeleireiro no Jardim Palmeiras. Uma câmera de monitoramento (veja abaixo) registrou a chegada de dois pistoleiros, em um Volkswagen Gol branco, às 8h27.
Ligado ao grupo de Magrelo, Daniel foi alvo de ao menos 30 tiros e morreu no local. Toda a ação, incluindo a fuga, durou pouco mais de 20 segundos.
Cerca de 12 horas depois, o Bando do Magrelo vingou a morte de Daniel. Conforme registros policiais, a quadrilha local matou a tiros José Cláudio Martins Nunes, de 50 anos, Gabriel Lima Cardoso, de 26, e Marcelo Henrique Ferreira, de 27, todos apontados como membros do PCC.
Segundo a polícia, os criminosos pretendiam matar quatro membros do PCC. Um deles, porém, sobreviveu ao atentado e foi hospitalizado. Ele poderá ajudar a equipe de investigação a identificar os envolvidos na chacina. Até o momento, ninguém foi preso.