Nona vítima de médico relembra abuso: “Sua palavra contra a minha”
Cirurgião Paulo Augusto Berchielli, de 63 anos, teve a prisão por tempo indeterminado decretada e segue foragido da Justiça
atualizado
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São Paulo – Uma contadora de 45 anos ouvida pelo Metrópoles, na manhã desta terça-feira (31/10), reforça o coro de denúncias de abusos sexuais contra o médico proctologista Paulo Augusto Berchielli, de 63 anos. Ela é a nona vítima a relatar a conduta do cirurgião nas consultas. Berchielli estava foragido da Justiça até a publicação desta reportagem.
A mulher, que pediu para não ter o nome publicado, disse ter ido ao consultório do cirurgião, na zona leste da capital paulista, em 2012.
Quando chegou ao local, ela afirmou que o médico, em um primeiro momento, foi “simpático” e ouviu sobre os problemas que ela tinha. Durante a consulta, porém, ela ficou desconfiada.
“Estranhei porque ele pediu para eu tirar toda a roupa. Ele não ia examinar meu corpo todo, fiquei constrangida. Aí pensei que poderia ser um procedimento dele, porque outros médicos pedem para colocar avental, mas ele não. Pediu para eu deitar sem roupa sobre a maca.”
O exame de toque começou e a mulher afirma ter se incomodado quando o cirurgião iniciou carícias nas costas dela. “Ele começou a fungar, fazer um barulho estranho. Perguntei se estava tudo bem e ele falou: ‘Você está boa’. Achei isso estranho.”
A mulher contou que, então, decidiu se virar, momento em que afirmou ter visto que o rosto do médico estava suado, com o semblante de “excitação”. Nesse instante, ela levantou da maca e começou a se vestir.
Porta trancada
Em seguida, a vítima percebeu que a porta do consultório estava trancada. Ela ameaçou gritar por socorro, caso Berchielli não a deixasse sair. “Aí ele me disse: ‘Não estou fazendo nada. Se você gritar é a sua palavra contra a minha’.”
Por fim, a mulher conseguiu sair do consultório e disse nunca mais voltou ao local. A consulta, segundo ela, foi inútil e os exames que Berchielli havia requisitado eram incompatíveis com o problema de saúde que ela tinha, de acordo com outro proctologista procurado por ela posteriormente.
A vítima nunca procurou a polícia, mas decidiu se manifestar sobre o caso agora, após outras mulheres relatarem situações semelhantes à vivenciada por ela. Há casos mais graves, como estupros, já mostrados pelo Metrópoles.
Ela afirmou que pretende registrar um boletim de ocorrência sobre o caso, como um ato simbólico para reforçar as denúncias. “Não podemos deixar outras mulheres passarem por isso, por esse processo de trauma.”
O relato da contadora se assemelha a outros dados à reportagem. Em todos eles, costuma haver um padrão: as vítimas afirmam terem sido mantidas sozinhas com o cirurgião, que também pedia para elas tirarem as roupas, até mesmo para aferir a pressão arterial (ouça abaixo).
Cinco das nove vítimas se reuniram nessa segunda-feira (30/10). Durante o encontro, algumas se emocionaram ao reviver os traumas provocados pelos abusos atribuídos ao cirurgião.
Defesa, Cremesp e polícia
Procurado nesta terça-feira (31/10), o advogado Daniel Bialski não havia se posicionado de forma atualizada sobre o caso do médico. Na mais recente nota enviada ao Metrópoles, na sexta-feira (27/10), ele refutou e negou as acusações feitas contra o médico. O defensor disse ter firme convicção de que a inocência do cirurgião “será comprovada durante o processo”.
O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), em nota enviada no início da tarde desta terça-feira, afirmou investigar o cirurgião “sob sigilo determinado por lei” e seguindo os prazos processuais determinados pelo Código de Processos Éticos Profissionais do Cremesp. “Qualquer manifestação adicional por parte do conselho poderá resultar na nulidade do processo”, acrescentou.
Por meio da Secretaria da Segurança Pública (SSP), a 5ª DDM afirmou que segue com diligências “para localizar e prender o autor”.