No YouTube, PM que jogou homem de ponte criticou “esculacho” policial
Soldado Luan Felipe Alves Pereira deu declaração durante entrevista a podcast em 2021. Ele era conhecido por vídeos de perseguições
atualizado
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São Paulo — O soldado da Polícia Militar Luan Felipe Alves Pereira, preso por jogar um suspeito de uma ponte durante ocorrência na zona sul da capital, disse em entrevista a um podcast que não havia necessidade de “esculachar” um averiguado sem motivo, ainda que ele fosse “ladrão”. Segundo ele, se o suspeito se entrega e “escolhe ser preso”, ele vai ser preso.
A entrevista foi transmitida em julho de 2021. Luan Felipe, conhecido na internet como “Luan 22M”, foi convidado para o podcast para falar sobre seu canal no YouTube, em que publicava vídeos de perseguições policiais de moto, com uma câmera acoplada ao capacete.
Na época da gravação, ele possuía mais de 300 mil inscritos na plataforma e mais de 50 mil seguidores no Instagram. Seus vídeos chegaram a ultrapassar a marca de 1,3 milhão de visualizações.
“A Polícia Militar é legalista, ela vai tratar a pessoa conforme ela quer. Se a gente está patrulhando, e tromba com caráter geral, que é um carro roubado, e o ladrão se entrega e escolhe ser preso, a gente vai pegar e prender ele. Se ele escolhe trocar tiro, a gente vai trocar tiro com ele. A gente não vai voltar morto para casa. A gente tem treinamento para aquilo lá”, afirmou Luan Felipe ao podcast.
“Tem até um ditado na Polícia Militar que é assim, você chega como gatinho e se for preciso sai como leão. Você não pode chegar como leão e sair como gatinho. A gente chega calmo e ‘coloca a mão para a cima’, revista o cara, vê o que ele tem, troca ideia. Se o cara está normal, trocando ideia na educação, não tem porque esculachar o cara, levantar os panos para o cara. O cara pode ser ladrão, ter artigo. Se o cara está ali, na disciplina, não está devendo mais nada, não tem porque você ficar xingando o cara”, acrescentou.
Assista:
Em depoimento à Corregedoria da Polícia Militar na última terça-feira (3/12), Luan Felipe disse que, no caso em que jogou um homem de uma ponte na madrugada de segunda-feira em Cidade Ademar, sua intenção era somente “levantar do chão” a vítima.
Na decisão pela prisão preventiva, obtida pelo Metrópoles, o juiz substituto da Justiça Militar de São Paulo, Fabrício Alonso Martinez Della Paschoa, menciona o depoimento do soldado Luan Felipe ao órgão fiscalizador da PM.
Questionado sobre a autoria do crime, Luan Felipe admitiu ter “projetado” o rapaz, mas que isso “seria realizado no solo”, sem a intenção de arremessá-lo ponte abaixo. Os argumentos dele, porém, não convenceram a Corregedoria.
“Não há como acolher as declarações apresentadas pelo investigado, pois as imagens largamente difundidas e materializadas no presente feito demonstram conduta errante e inaceitável a quem deveria proteger a integridade de outras pessoas e fazer cumprir a lei”, argumenta o órgão.
Troca de tiro
No mesmo podcast, Luan Felipe deu detalhes sobre uma ocorrência em que um suspeito foi morto em Americanópolis, na zona sul. O soldado descreve o desespero que sentiu durante a perseguição e comemora: “Graças a Deus ele não vai matar mais ninguém”.
“Graças a Deus ele não vai matar mais ninguém. Nesse dia foi foda. No momento que você está tomando tiro, se você tiver a oportunidade de atirar, você atira. Só que em cima da moto, eu sou destro, se eu sacasse a arma para atirar, ia perder o cara de vista. Então eu preferi manter uma distância do cara para que dificultasse a questão do tiro e consegui acompanhar ele”, afirma.
De acordo com a descrição do policial, não fica claro se foi ele o responsável pelo disparo que matou o suspeito.
“A gente trombou com essa moto. Durante o acompanhamento o indivíduo efetuou um disparo. Nessa hora, vou falar para você, só Deus. É um desespero… O cara deu tiro de uma viatura de RPM, roubou para caramba no Jardim Miriam, deu tiro no bombeiro e deu tiro na Rocam. Se o cara está dando tiro na polícia, imagina em um civil se resistir a um assalto. A gente conseguiu deter esse cara”, disse.
11 tiros em “legítima defesa”
Luan Felipe Alves Pereira já foi indiciado por matar um motoqueiro, com 11 tiros, em 26 de março do ano passado.
Na ocorrência, cujo processo foi extinto em janeiro deste ano, a versão de Luan, que alegou legítima defesa, foi aceita pelo Ministério Público (MPSP) e Tribunal de Justiça (TJSP) paulistas.
À época, em depoimento à Polícia Civil, o soldado afirmou que patrulhava o bairro Piraporinha, em Diadema, na Grande São Paulo, juntamente com um parceiro das Rondas com Motocicletas (Rocam), quando se depararam com Maycon Douglas Valério, de 31 anos, que guiava sem capacete e sem camiseta uma moto.
Após ordem de parada que não foi obedecida, Maycon teria desembarcado da moto e seguido fugindo a pé. Luan também deixou a viatura e correu atrás do suspeito.
Em uma viela, segundo registrado pela câmera corporal do soldado, Maycon deixou cair um revólver no chão.
O suspeito tentou pegar a arma e foi alvo de 12 tiros, dos quais 11 o atingiram no peito e na face. Um laudo da Polícia Técnico-Científica mostra que há somente um ferimento, no lado esquerdo do pescoço, resultante de dois tiros, que transfixaram e saíram pelo rosto do suspeito. O próprio soldado Luan afirmou ter dado 12 tiros para revidar a “injusta agressão” de Maycon.