metropoles.com

“Não joguei filho no lixo”: médico foragido nega descarte de embriões

Conhecido como Dr. Tosyn, médico nigeriano está foragido da Justiça brasileira, acusado de fraudes em clínica de fertilização

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Reprodução
DR TOSYN LOPES É PROCURADO PELA POLÍCIA POR FRAUDES CONTRA CONVÊNIOS DE SAÚDE - METRÓPOLES
1 de 1 DR TOSYN LOPES É PROCURADO PELA POLÍCIA POR FRAUDES CONTRA CONVÊNIOS DE SAÚDE - METRÓPOLES - Foto: Reprodução

São Paulo — O médico nigeriano Oluwatosin Tolulope Ajidahun, conhecido como Dr. Tosyn, dono de uma clínica de fertilização que funcionava na zona leste de São Paulo, negou as acusações de fraudes em planos de saúde e negligência médica, reveladas pelo Metrópoles. Foragido da Justiça, ele é investigado pela Polícia Civil.

No mês passado, uma operação da polícia encontrou material genético de pacientes na clínica em que ele atuava. A presidente da ONG Gestar, que representa um grupo de pacientes, relatou ter encontrado o imóvel abandonado, “com animais, baratas pelo chão e sem nenhum móvel no andar de baixo”.

No andar superior, foram encontrados três tanques, dois deles com material congelado, incluindo óvulos e embriões. Segundo a investigação, os materiais genéticos pertenciam a 63 das 103 pessoas que estavam na lista de pacientes. Não se sabe onde está o restante.

“Não tenho nada a temer. Não houve sumiço de nenhuma célula sequer, de nenhum embrião, óvulo ou espermatozóide. Não existe nenhuma conduta antiética da minha parte. Eu não iria jogar o filho de ninguém no lixo. Eu tenho responsabilidade”, disse Tosyn, em entrevista à Folha de S. Paulo.

O médico afirmou ao jornal que fechou a clínica por causa do baixo faturamento. “Não estávamos faturando o suficiente para manter. Se eu não tivesse tomado a atitude humilde de fechar, comprometeria toda minha carreira. Várias clínicas de reprodução já fecharam, agora quando eu fecho a minha tem que virar notícia? Não faz sentido”, disse.

Tosyn argumentou que todas as suas operações eram legítimas e que tinha informado o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e a vigilância sanitária sobre o fechamento, além de ter avisado as pacientes.

Foragido

Como mostrou o Metrópoles, a Justiça mandou prender o médico por suspeita de aplicar um golpe milionário na seguradora SulAmérica e de tentar fugir, em meio às investigações, para Angola ou para a Nigéria.

Tosyn está em seu país natal, na cidade de Lagos. Segundo ele, foi para cuidar do pai, que tem 80 anos. “Ele passou por uma cirurgia de próstata. Eu já não o via há quase dez anos, então quis viajar para vê-lo. Tive que passar por quatro continentes para chegar aqui, porque não podia deixar ele sozinho nessa situação, mesmo com passaporte apreendido”, afirmou à Folha.

O médico disse que tentou retornar ao Brasil, mas teve o pedido de passaporte negado pelo Consulado do Brasil, em Lagos. “Eu quis voltar para o Brasil, mas a PF disse que não pode entrar. Se a PF não libera, como consigo voltar? Minha vida inteira está no Brasil e meu passaporte foi apreendido”, afirmou.

Relembre o caso

Naturalizado brasileiro, Tosyn se inscreveu em 2013 no programa Mais Médicos, do governo federal, que traz profissionais estrangeiros para suprir carência de atendimento básico, especialmente em regiões pobres e afastadas das capitais. Revalidou seu diploma no Brasil e foi para o mercado privado.

Após a revelação do caso, o Ministério da Saúde entrou em contato com o Metrópoles para informar que Tosyn se inscreveu no Mais Médicos, mas acabou desistindo das etapas finais de classificação e não atuou pelo programa federal. A defesa do médico confirmou a desistência.

Nesse período, Tosyn virou alvo de processos na Justiça movidos por ao menos três grandes planos de saúde que o acusam de fraude. Em janeiro deste ano, ele teve a prisão decretada em razão de um suposto esquema de pedidos de reembolsos falsos e superfaturados em nome de funcionários, o que causou um prejuízo de R$ 2,9 milhões somente a uma das operadoras.

Até outro médico nigeriano que atendia na clínica de Tosyn denunciou a fraude à polícia. Akindele Nicholas Nicol afirmou ter sido procurado pela ex-mulher de Tosyn, que teria lhe dito que sua assinatura estava sendo falsificada em um esquema de fraudes a convênios médicos.

Ele afirma que sua assinatura foi forjada por Tosyn, ou por terceiros a mando dele, para sustentar o esquema de falsos reembolsos. Ele prestava serviços a uma clínica que está em nome de uma funcionária de Tosyn, mas que, segundo o médico, seria do nigeriano na prática.

O médico foi monitorado duas vezes por policiais quando tentava sair do país e ir à Nigéria em meio às investigações. Não conseguiu e teve passaportes retidos em razão das investigações. Quando a Justiça decretou sua prisão temporária, ele sumiu.

As vítimas

Histórias contadas ao Metrópoles por mulheres que procuraram a clínica com o sonho de ter filhos mostram que as pacientes também eram submetidas ao esquema de fraudes. Esses relatos mostram um lado mais cruel da história.

Elas narram casos de negligência médica que afetaram em cheio a saúde e colocaram suas vidas em risco. Até mesmo o “sumiço” de óvulos que o médico diz ter identificado no corpo dessas mulheres está sob suspeita.

Conhecido como Fertilização In Vitro (Fiv), o procedimento oferecido pela clínica de Tosyn envolve um tratamento com remédios para estimular pacientes a gerar mais óvulos, coletá-los, e fazê-los fecundar com o esperma de parceiros ou doadores em laboratório.

Na clínica de Tosyn, relatam essas mulheres, funcionários tentavam fazer com que esse tratamento, que chega ao valor de R$ 20 mil, fosse pago em dinheiro vivo, ou mesmo com pedidos de reembolsos superfaturados e com informações falsas sobre elas.

Advogada de defesa de Tosyn, Agatha Martins nega que o médico esteja foragido e que quaisquer irregularidades ou esquema de fraudes tenham ocorrido na clínica.

Pacientes vão à polícia

O Metrópoles conversou com pelo menos cinco pacientes desse grupo. Nem todas quiseram se identificar, com receio de retaliações ou por continuarem a ter, no momento, pendências com a clínica.

Pelo menos sete pacientes estão se reunindo para denunciar à Polícia Civil de São Paulo e do Rio de Janeiro o sumiço dos óvulos, a negligência no tratamento – há, inclusive, um caso de perfuração de órgão e hemorragia decorrente dele – e o assédio para que fraudassem pedidos de reembolso em convênios médicos.

O Metrópoles obteve acesso a dois depoimentos de outras pacientes que já procuraram as autoridades para denunciar uma clínica ligada a Tosyn somente pelas fraudes em exames.

Defesa nega fraudes e negligência

À época, a advogada Agatha Dias Martins afirmou que o médico não responde a nenhuma denúncia por negligência médica no Conselho Regional de Medicina (CRM). “Tiveram alguns incidentes, como é comum acontecer incidentes em qualquer parte médica que a gente fala”, disse.

Ela defendeu também que a quantidade de óvulos colhida por Tosyn após pacientes passarem por hiper estímulo está dentro de um padrão razoável. “Tudo bem, ficavam em seis, sete óvulos, não tem problema. É uma quantidade ok. São quantidades boas, não precisa ter tantos”, afirmou.

A advogada também negou que houvesse exigência de dinheiro vivo e troca de planos de saúde e rechaça as acusações de fraude contra planos de saúde.“Pelo menos quando eu estava trabalhando na clínica, tudo o que era pedido para ser pago, foram exames prestados”, disse.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comSão Paulo

Você quer ficar por dentro das notícias de São Paulo e receber notificações em tempo real?