Policial de abordagem polêmica diz que jovem tentou roubar sua mulher
Policial Paulo Kim afirmou que queria prender o jovem que tentou roubar sua mulher e negou que tenha ocorrido agressão ou sido racista
atualizado
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São Paulo — O investigador da Polícia Civil Paulo Hyun Bae Kim, que foi filmado apontado uma arma para um jovem negro suspeito de tentar praticar um assalto no último domingo (12/11), em frente à estação Carandiru do Metrô, na zona norte de São Paulo, negou que tenha ocorrido qualquer tipo de agressão ou ato racista com o rapaz.
Em vídeo publicado no Instagram, nesta sexta-feira (17/11), o policial disse que estava com a mulher e os filhos, na região do Parque da Juventude, quando ela teria tido o celular levado pelo suspeito próximo à estadão do Metrô. Por isso, ele afirmou ter sacado a arma e corrido atrás do jovem para tentar efetuar a prisão do assaltante.
“Passam dois moleques de bicicleta, um deles empurra minha esposa, o outro arrebata o celular da mão dela, e ela grita: ‘pega, pega, meu celular, meu celular’. Imediatamente, eu saco minha pistola, e vou atrás deles. Um deles acaba por perder equilíbrio, e um dos pedestres ali, um dos cidadãos ali, acaba detendo esse menor, o suposto menor”, diz Paulo Kim.
“Ocorre uma aglomeração de pessoas, e uma delas ali grita: ‘solta, solta, solta o moleque, solta o moleque’. Em dado momento, eu vou até essa pessoa, e eu falo, você está defendendo o ladrão? Logo na sequência, esse moleque acaba se soltando desse cara, e eu faço uma nova perseguição para detê-lo”, completa o investigador.
Kim disse ainda que queria efetuar a prisão do bandido, mas achou melhor acompanhar a família, já que muita gente estava no local após o incidente.
“Como já tinha recuperado o celular, as crianças chorando, nervosismo de todos ali, ela [esposa] só queria ir embora para casa. E eu queria fazer a prisão desse vagabundo. Por isso, que eu saco minha pistola e vou abordá-lo. Em momento nenhum eu excedo na minha conduta. Não existe agressão ali. Eu só queria contê-lo e prendê-lo”.
“Eu quero também dar mais uma nota que esse crime não tem cunho. Eu não sou um cara racista. Não tem cunho racial. O cara podia ser um branco, um preto, um amarelo, um vermelho. Não tem cunho racial. Eu não sou um cara racista”, diz.
Pedido de afastamento
O ouvidor das polícias de São Paulo, Claudio Aparecido da Silva, afirmou que vai pedir o afastamento e o desarmamento de Paulo Hyun Bae Kim.
Na abordagem, ele está com a família e não se identifica como policial. Na sequência da abordagem, o jovem, que é acusado de tentar praticar um assalto, pede ajuda a uma policial militar fardada, que testemunha a cena. Ela não faz nenhuma intervenção e ainda chuta o rapaz.
Segundo o ouvidor, o policial civil “já teve problemas sérios e graves no decorrer da carreira”, envolvendo “desequilíbrio emocional”, e já foi acusado de violência doméstica contra mulher. “Uma pessoa com esse tipo de postura recorrente não pode ficar andando por aí armado, especialmente em uma cidade como São Paulo”, disse.
O ouvidor afirmou que abriu procedimento na ouvidoria para apurar a conduta dos dois policiais e que já acionou as corregedorias da Polícia Civil e da Polícia Militar. Para ele, a conduta da PM que se recusou a intervir na abordagem é “absurda, lamentável e estarrecedora”.
“O que a gente presencia naquela situação ali é, primeiro, uma prevaricação, uma vontade de não agir, uma inação de uma autoridade policial que não deixa de ser autoridade policial estando ou não com a farda. Ela é autoridade policial 24h por dia”, diz o ouvidor.
A PM classificou como omissão a conduta da policial militar.
Abordagem polêmica
A abordagem polêmica no último domingo (12/11) foi filmada por um repórter fotográfico. É possível ver que Paulo Kim, que não se identifica como policial no vídeo, aponta a arma para o rapaz e que a PM é avisada sobre a ocorrência, mas ignora: “Liga no 190”, diz a policial para a pessoa que faz a gravação.
As imagens mostram pessoas no entorno dizendo que o jovem negro, que acabara de ser imobilizado por outro homem, tinha tentado praticar um assalto. Ele não estava armado. O rapaz pede desculpas para Paulo. Ao ver a arma, fica assustado e coloca as mãos em frente ao rosto. “Ele quer me matar”, grita.
Pouco depois, o jovem negro consegue se desvencilhar do homem que o segura e começa a correr. Paulo tenta lhe aplicar, sem sucesso, uma rasteira e saca novamente a arma da cintura. Ele aponta em direção ao rapaz, que para de correr perto da barraca de um ambulante.
A mulher de Paulo Kim também corre e se coloca em frente ao jovem, para evitar que o homem atire, pedindo para ele parar. Duas crianças, um menino e uma menina, estão com o casal. Quando kim aponta a arma para o rapaz, ambos entram no campo de visão da PM, que está fardada, perto de uma das saídas do Metrô.
“Liga no 190”
É nesse momento que a testemunha que registra o caso em vídeo informa à policial que o homem está armado. A PM faz um sinal com a mão, como se fosse um telefone, e afirma: “Liga no 190”.
O jovem negro, em seguida, pede para se sentar e é vigiado por Kim, com a arma em punho. Quando o rapaz se aproxima da policial, ela lhe dá um chute. “Ela está de folga. Sai daí seu tranqueira”, afirma Kim, após a agressão da PM.
Logo depois, o rapaz negro sai correndo, após ser ajudado por um homem sem camisa. Paulo Kim guarda a arma na cintura e sai caminhando do local.
Interpelada pela pessoa que grava o vídeo, que pergunta por que ela não agiu, a policial feminina se exalta. “Se o senhor falar comigo desse jeito, eu vou te prender.”
A PM diz ainda à testemunha que foi desrespeitada. “Você falou que eu não presto para nada. Quem não presta é você. Eu estou de folga. O procedimento é ligar 190 e pedir viatura.” O vídeo é interrompido quando a policial parte para cima da testemunha.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que a mulher, identificada como Tamires Borges, vai responder criminal e disciplinarmente pela omissão durante a abordagem. Ela afirma estar sendo crucificada nas redes sociais.
“Eu já fui crucificada, massacrada e ameaçada. Agora vocês querem falar comigo?”, disse a policial à CNN. “Estou sob forte pressão psicológica. Fale com o meu advogado”, completou Tamires.