Muro desaba em retomada de obra de túnel da prefeitura na Vila Mariana
Muro de duas casas desabou durante a retomada das obras do túnel da Vila Mariana, na zona sul, que já é alvo de três inquéritos no MPSP
atualizado
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São Paulo — O muro de duas casas desabou na terça-feira (29/10) durante a retomada das obras do túnel da Rua Sena Madureira, na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo. Junto com a parede de blocos, o aterro desmoronou, soterrando parte dos quintais. A construção já é alvo de três inquéritos no Ministério Público de São Paulo (MPSP) e de protestos de parte dos moradores do bairro.
O incidente aconteceu durante a tarde de terça e não havia ninguém na parte atingida pelos destroços do muro pela terra que deslizou da obra da Prefeitura de São Paulo, que é tocada pela Álya Construtora. Moradores se assustaram com o barulho provocado pelo desmoronamento.
“O impacto para mim foi forte. Vi pela janela de cima. O susto que eu tomei, porque não sabia se tinha alguém embaixo. O coração disparou e não conseguia subir a escada para ver o que tinha acontecido”, afirma o arquiteto e urbanista Roberto Monaco, dono de um dos imóveis que perderam o muro.
Segundo Monaco, a construtora já se comprometeu a reconstruir o muro derrubado durante a obra, mas ainda há risco principalmente para moradores da comunidade da Rua Souza Ramos, que fica no lado oposto. Há outro muro, que divide a construção do túnel de uma viela cercada de casas. “Está rachado, tem criança que brinca ali e a qualquer momento pode cair alguma coisa em cima delas. Aí é que está o grande impacto, o grande risco”, afirma.
O morador diz que vereadores estiveram no local nesta quinta e já alertaram os engenheiros da obra sobre o risco de queda do muro sobre os moradores da comunidade. A reportagem apurou que, desde a terça, pessoas que vivem no local têm evitado deixar seus carros nas proximidades do muro.
A prefeitura pretende remover as famílias que vivem na comunidade, onde deverá desembocar o túnel. Até o momento, mesmo com a obra já em andamento, o destino das pessoas ainda não foi definido e a administração municipal diz que vai procurá-las na semana que vem.
Arquiteto e urbanista, o morador que teve o muro de sua casa derrubado durante a retomada da obra viária já prevê impactos futuros. “A gente não sabe exatamente qual é o projeto. Isso é um problema sério. Não foi discutido com a sociedade”, afirma Monaco.
Inquéritos
O MPSP tem três inquéritos em andamento para apurar eventuais irregularidades na construção do túnel da Sena Madureira.
Uma investigação foi determinada pela Promotoria do Patrimônio Público e Social, que tenta esclarecer denúncias de que foi assinado neste ano contrato a partir de uma licitação fraudada entre 2009 e 2010, na qual várias empresas, inclusive a contratada atualmente, teriam formado cartel para dividir obras municipais. Segundo o MPSP, Álya Construtora é o novo nome da Queiroz Galvão.
Também há um inquérito civil da Promotoria do Meio Ambiente, que apura as denúncias relacionadas à parte ambiental, com o corte de 172 árvores e eventual poluição sonora causada pelas obras.
Na Promotoria de Habitação e Urbanismo, há outra investigação para apurar o impacto da obra na mobilidade urbana e também a retirada de famílias que residem na comunidade da Rua Souza Ramos. O MPSP quer saber se as pessoas serão retiradas do local e, caso isso aconteça, para onde vão. Também pretende investigar o impacto na vizinhança e em estruturas de saneamento básico e esgoto.
O que diz a construtora
A Álya Construtora se manifestou nesta quinta-feira (31/10) a respeito da queda do muro. “O Consórcio Expresso Sena Madureira está executando as obras do complexo viário nos termos do contrato administrativo e de acordo com os projetos de engenharia. A construção do empreendimento envolve diversas etapas construtivas, dentre elas a criação de caminhos de serviço para o acesso às obras”, afirmou.
“Na última terça-feira, durante o deslocamento de um caminhão, um muro de duas unidades habitacionais caiu, sem ocasionar quaisquer danos pessoais. O Consórcio já acordou com os proprietários a reconstrução do muro, sem gerar custos aos moradores. As obras e intervenções estão sendo executadas de acordo com as melhores práticas de engenharia e de segurança”, disse a Álya.