Multa a quem doar comida: autor de projeto quis investigar Padre Julio
Vereador Rubinho Nunes (União) é o mesmo que propôs instalação de CPI para investigar o padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua
atualizado
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São Paulo — O autor do projeto que prevê multa de até R$ 17.680 para quem doar alimento a um morador de rua da cidade sem licença é o vereador Rubinho Nunes, do União (foto de destaque), — o mesmo que, no ano passado articulou, sem sucesso, a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o padre Julio Lancellotti.
O PL 445/2023 foi aprovado em meio a uma maratona de votações, realizada na Câmara Municipal de São Paulo na quarta-feira (26/6), que aprovou 73 propostas na mesma noite. Na véspera, houve um acordo entre as bases do governo e da oposição para que os projetos dos vereadores fossem votados de forma simbólica.
Rubinho já protocolou dois pedidos de abertura de CPIs na Câmara. Um deles, em dezembro de 2023, tem como objeto uma investigação para apurar ONGs que atuam na Cracolândia.
O outro, apresentado em março deste ano, tem como objetivo investigar abuso e assédio sexual contra pessoas vulneráveis, usuárias de drogas e em situação de rua na capital. Para Rubinho, o religioso lucra com a miséria no centro da capital.
Os pedidos de CPI estão em uma fila na Mesa Diretora e não há previsão de terem sua instalação votada.
Padre Julio
A CPI causou polêmica justamente porque Rubinho tentou direcionar a investigação para o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua da Igreja Católica.
Apesar de Julio Lancellotti não ser citado nominalmente, o vereador disse expressamente que o padre teria motivado os pedidos de CPI. Rubinho Nunes afirma que o religioso é alvo de “denúncias gravíssimas de abuso sexual” e lucra “com a miséria no centro de SP”.
Vereador é investigado
Por causa das denúncias contra o padre Julio, a Polícia Civil de São Paulo decidiu investigar Rubinho Nunes por abuso de autoridade.
A instauração do inquérito foi determinada pela 4ª Promotoria de Justiça Criminal da Capital, atendendo a um pedido do Instituto Padre Ticão. A entidade afirma que Rubinho Nunes tenta “silenciar quem tanto fez — e faz — por seres invisíveis na cidade de São Paulo”.
Na decisão, o promotor Paulo Henrique Castex diz que a narrativa apresentada pelo Instituto Padre Ticão “deve ser mais bem esclarecida, para apurar possível conduta com repercussão criminal”.
Nas redes sociais, Rubinho se manifestou dizendo que o inquérito por abuso de autoridade é uma tentativa de intimidação.
“Tudo isso é uma tentativa bizarra de intimidação para acobertar tanto o Sr. Lancellotti quanto as ONGs que atuam na região central e lucram com a miséria. Isso pode até funcionar com outros políticos, mas comigo apenas serve de motivação para investigar”, diz Rubinho Nunes.