Do estômago a vagina: apreensões de drogas nas cadeias dobram em SP
Mulheres representam 96% dos visitantes flagrados tentando entrar com drogas nas cadeias paulistas, entre janeiro e julho deste ano
atualizado
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São Paulo — A apreensão de drogas com visitantes de presos do sistema carcerário paulista cresceu 123% nos sete primeiros meses deste ano. Foram 1.127 apreensões registradas pela Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) no período em São Paulo, contra 505 feitas entre janeiro e julho de 2022.
As mulheres que visitam detentos são a maioria esmagadora das pessoas flagradas tentando entrar nas unidades prisionais com drogas escondidas, principalmente maconha e cocaína. Elas representam 96% dos 589 flagrantes feitos neste ano. Em 2022, foram 432 ocorrências no mesmo período.
Parentes, namoradas e amigas de presos valem-se de várias estratégias para tentar esconder drogas e celulares das revistas feitas na entrada das cadeias para introduzi-los no sistema carcerário. Há registros de itens escondidos dentro da vagina, em roupas íntimas, na sola de calçados e até no estômago.
Alimentos, como esfirras e potes de margarina, por exemplo, também são usados como esconderijos. Os flagrantes mais recentes divulgados pela SAP ocorreram no último fim de semana.
Roupa íntima
No domingo (17/9), uma idosa tentou entrar na Penitenciária 2 “Nilton Silva” de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, com drogas escondidas em sua roupa íntima.
Os dois tabletes de maconha foram detectados pelo scanner corporal usado pelos agentes penitenciários. O uso do equipamento extinguiu revistas vexatórias, nas quais os parentes de presos precisavam tirar as roupas e, em alguns casos, até se agacharem nus sobre espelhos.
No mesmo fim de semana, a companheira de um detento foi flagrada com drogas também nas roupas íntimas, além de “anotações suspeitas.” A mulher foi encaminhada para uma delegacia.
Droga por correspondência
Agentes penitenciários também interceptam drogas enviadas por correspondência aos presos.
Em 1º de agosto, um par de chuteiras chegou por correio tendo como destinatário um interno do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Campinas, no interior paulista.
Dentro das solas dos calçados foram encontradas porções de maconha e 36 micropontos de droga sintética.
Já no CDP 2 de Belém, na capital paulista, agentes encontraram droga sintética costurada em uma calça, que chegou em uma correspondência destinada a um detento, em 21 de junho.
A SAP também analisa fotos e os papéis usados em cartas enviadas para os presos. Aparentemente inofensivos, os itens podem conter drogas K, que é sintética e borrifada nas folhas. Desta forma, elas são usadas para fumar tabaco, provocando no usuário o chamado “efeito zumbi.”
Por causa disso, folhas de sulfite estão proibidas de entrar nas unidades prisionais de São Paulo.
Dentro do estômago
Não só parentes tentam entrar com drogas e celulares no sistema carcerário. Presos beneficiados com as saídas temporárias também se arriscam.
No último dia 19, seis detentos do Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, foram flagrados com os estômagos cheios de coisas ilícitas.
Um deles expeliu três celulares e os demais drogas.
Eles retornavam de uma saída temporária e foram denunciados pelo scanner corporal.
O Metrópoles mostrou em janeiro que 101 presos foram flagrados com objetos ilícitos no estômago, no estado, após o retorno da saída temporária de fim de ano.
Somente no Centro de Progressão Penitenciária (CPP) II, em Bauru, foram registrados 19 casos do tipo. Em um deles, um reeducando teve de passar por uma endoscopia para a retirada de um mini celular do estômago.
O que diz a Secretaria
Em nota, a SAP afirmou ao Metrópoles que seus presídios contam com aparatos de segurança “de alta tecnologia”, como scanner corporal e raio-x, por exemplo, usados nas revistas.
“Agentes são treinados para a revista mecânica nos objetos levados pelos visitantes aos custodiados, de maneira a coibir qualquer tentativa de entrada de ilícitos, seja via custodiados ou visitantes.”