Mulher diz que foi “fantasma” e devolvia salário à família de vereador
Ela estava lotada no gabinete do ex-deputado Jooji Hato, pai do vereador George Hato, mas diz que trabalhava na casa da família em SP
atualizado
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São Paulo – Uma mulher de 61 anos afirma que trabalhou por anos como empregada doméstica na casa da família do vereador da capital George Hato (MDB) enquanto esteve lotada como funcionária “fantasma” nos gabinetes do pai dele, o ex-deputado Jooji Hato (morto em 2019), na Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
Em uma ação trabalhista movida contra a família Hato, Marinai Bispo dos Santos diz ainda que era obrigada a devolver ao ex-deputado 60% do que recebia de salário como assessora parlamentar nas casas legislativas. Agora, ela cobra George e a mãe dele na Justiça para tentar receber os valores que afirma ter devolvido, prática conhecida como rachadinha.
Uma audiência de conciliação ocorreu nessa segunda-feira (25/9), na 1ª Vara do Trabalho de São Paulo, mas terminou sem acordo. George nega que a mulher tenha trabalhado na casa do pai e diz que ela atuava como assessora parlamentar.
Marinai afirmou à Justiça que começou a trabalhar para os Hato em 1991, “lavando, passando, cozinhando e arrumando (a casa) com outros funcionários”. Ela disse também que acompanhava os filhos de Jooji, na época ainda crianças, à escola. Segundo seu relato, ela permaneceu com a família até 2019, mesmo ano de sua exoneração do cargo de assistente parlamentar na Alesp.
Ela declarou ainda que foi registrada na Assembleia Legislativa, mas que mensalmente devolvia a maior parte do salário que era depositado na sua conta entregando envelopes com dinheiro nas mãos do então deputado ou da mulher dele, mãe do vereador.
O trabalho doméstico, segundo Marinai, ocorria de segunda a sexta, com jornada extra de três sábados e dois domingos por mês em duas casas da família: uma no Ipiranga e outra em Moema, ambas na zona sul de São Paulo.
Marinai entrou com a ação contra Jooji na Justiça em 2020, um ano após se desligar do emprego. Como Jooji já havia morrido, o processo prosseguiu tendo como partes o vereador George Hato e sua mãe, Marlene.
Segundo consta em lançamentos da Alesp consultados pelo Metrópoles, Marinai teve dois cargos como assessora no gabinete de Jooji Hato, entre março de 2011 e janeiro de 2019. Do mesmo modo, há registros no Diário Oficial da Cidade de nomeação na Câmara Municipal, de 2002 a 2011, também como assessora de Jooji.
Jooji foi vereador da capital por sete mandatos consecutivos (1982-2010) e eleito duas vezes deputado estadual (2011-2019).
Em seu depoimento à Justiça, o vereador George Hato negou a versão de Marinai e afirmou que a funcionária “fazia mobilização para levar pessoas para conhecer” Jooji, com “casos para serem resolvidos pela equipe”. Disse ainda que ela “somente participava da casa quando havia confraternização e reuniões da equipe política”.
Nesses eventos, ainda segundo as informações do depoimento, ela servia café para os convidados e recepcionava as pessoas, mas nunca trabalhou diretamente para a casa.
Como a audiência de conciliação não resultou em acordo, a juíza Tatiana Maranesi Arroyo marcou um julgamento para o caso, que deve ocorrer no fim de novembro.
O que diz o vereador
Ao Metrópoles, George Hato enviou uma nota na qual afirma que a ação foi proposta contra seu pai, “lamentável e covardemente após o seu falecimento, sem a possibilidade de ele se defender”.
George afirma ainda que confia na Justiça e que “o processo será julgado totalmente improcedente, tendo em vista todas as provas produzidas e juntadas aos autos”.
“Meu pai sempre foi um homem honrado, não tendo em toda sua carreira política de quase 40 anos qualquer envolvimento com escândalos ou irregularidades, motivo que defenderemos a honra dele com todas as forças”, diz o vereador.