MPSP denuncia núcleo do PCC que usava mão de obra de usuários de droga
Núcleo do “ecossistema de crimes” na Cracolândia usava ferros velhos ilegais para explorar dependentes químicos e receptar produtos de roubo
atualizado
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São Paulo — Leonardo Monteiro Moja, o Léo do Moinho, apontado como chefão do Primeiro Comando da Capital (PCC) na Cracolândia, e outras 24 pessoas foram denunciados pelo Ministério Público de São Paulo por organização criminosa, lavagem de dinheiro, receptação qualificada e exercício de atividade sem licença ambiental.
O grupo é acusado de integrar um núcleo da facção responsável por controlar ferros velhos e reciclagens na região central da capital, usando mão de obra de dependentes químicos e dissimulando transações financeiras. Segundo o MPSP, os denunciados ainda recebiam e armazenavam objetos roubados pelos usuários de drogas.
A denúncia, apresentada nesta quarta-feira (30/10), é parte da investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) sobre a existência de um ecossistema de ilegalidades na região central de São Paulo.
Entre os alvos da Promotoria sobre o núcleo dos ferros velhos, há figuras que já foram denunciadas por outros crimes na mesma investigação, como o próprio Léo do Moinho, e seus familiares Jeferson Francisco Moja Teixeira e Alberto Monteiro Moja.
“Os denunciados controlam a exploração dos ferros-velhos e recicladoras na região da ‘Cracolândia’, atuam de forma estruturada e organizada na exploração de atividade econômica ilícita”, dizem os promotores.
“A atuação coordenada e articulada dos denunciados foi operacionalizada por meio de diferentes estabelecimentos comerciais que funcionavam de forma ilegal, sem autorização, sem funcionários registrados, o que lhes permitiu utilizar de forma clandestina a mão de obra dos adictos, dissimular o produto e proveito dos crimes por meio do mesmo padrão de transações financeiras, sem lastro, em espécie, e entre si”, acrescentam os promotores no relatório.
De acordo com a denúncia, foi detectada a presença de crianças em ambientes “extremamente insalubres”, “exercendo atividades laborais”. Além disso, pessoas habitando lugares sem qualquer higiene e em situações de graves violações de direitos humanos.
Os promotores afirmam que os ferros velhos da Cracolândia são majoritariamente de propriedade de uma única família e não possuem autorização da Cetesb para funcionamento.
Favela do Moinho
A investigação do Gaeco sobre o ecossistema de crimes na Cracolândia também deu origem a uma denúncia sobre uma célula do PCC na Favela do Moinho, localizada nos Campos Elísios, sob o viaduto Viaduto Engenheiro Orlando Murgel. De lá, segundo os promotores, a facção controlava todo o tráfico na região.
O “bunker do PCC” contava com uma central de monitoramento que permitia aos criminosos monitorar a movimentação da polícia e garantia a “manutenção da ordem” por meio dos “tribunais do crime”.
O sistema de “antenas” do PCC posiciona vigias, também chamados de olheiros, em pontos estratégicos da favela. Eles também contavam com radiotransmissores programados na frequência usada por policiais.
Léo do Moinho e outras 10 pessoas foram alvos do MPSP na denúncia sobre a Favela do Moinho. por crimes como: organização criminosa, tráfico de drogas, associação com tráfico, violação de comunicação radioelétrica e lavagem de dinheiro.
Milícia
Na investigação, a Promotoria também apontou para a existência de uma milícia formada por guardas civis metropolitanos e policiais militares que vendiam proteção a comerciantes da região central contra a ação de usuários de drogas.
Além da proteção aos lojistas, a milícia formada na região atuava na distribuição de drogas, comércio de peças de carros e motos, receptação de celulares roubados, venda de armas e em redes de hotéis, lojas e ferros velhos.
Quatro guardas civis foram denunciados pelo MPSP por concussão — que consiste em exigir vantagem indevida por meio de cargo público — e lavagem de dinheiro.