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Peeling de fenol: MPSP denuncia influenciadora por morte de paciente

MPSP denunciou Natalia Becker por homicídio doloso com dolo eventual qualificado por motivo torpe ao assumir o risco de matar empresário

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Natália Becker posa, sorridente, para foto de divulgação - Metrópoles
1 de 1 Natália Becker posa, sorridente, para foto de divulgação - Metrópoles - Foto: Reprodução

São Paulo — O Ministério Público de São Paulo (MPSP) denunciou, nesta sexta-feira (30/8), a influenciadora Natalia Becker por homicídio doloso com dolo eventual qualificado por motivo torpe ao assumir o risco de matar o empresário Henrique da Silva Chagas, de 27 anos, durante um peeling de fenol, realizado na clínica da acusada, em São Paulo, em troca de R$ 5 mil pelo serviço.

Na denúncia, o promotor Felipe Eduardo Levit afirma que Natalia “demonstrou absoluto desprezo pela vida humana, assumindo o risco de produzir o resultado morte, que efetivamente ocorreu logo após a realização do aludido procedimento”.

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O empresário que morreu após fazer peeling de fenol morava em Pirassununga
Henrique era apaixonado pela raça schnauzer
Henrique da Silva Chagas
Story do destaque de Henrique
Henrique e seu cachorro
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Henrique tinha 27 anos

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O empresário que morreu após fazer peeling de fenol morava em Pirassununga

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Henrique era apaixonado pela raça schnauzer

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Henrique da Silva Chagas

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Story do destaque de Henrique

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Henrique e seu cachorro

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“O crime foi cometido por motivo torpe, eis que a acusada assim agiu para auferir vantagem econômica no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), preço cobrado pela realização do procedimento supostamente estético realizado de forma totalmente irregular”, acrescentou o promotor.

O pedido do MP é que a influenciadora cumpra medidas cautelares diversas, como proibição de entrar ou frequentar determinados lugares e de sair da cidade, além de suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira.

“Está suficientemente demonstrada nos autos a prática ilícita de ato privativo de médico por parte da ré; sendo imperiosa a necessidade de interrupção do exercício de suas funções em seus estabelecimentos comerciais”, diz a denúncia.

Investigação

A Polícia Civil de São Paulo concluiu que a influenciadora Natalia Becker assumiu o risco de matar o empresário Henrique Chagas, que foi submetido a um procedimento de peeling com fenol na clínica dela, em junho deste ano, na capital paulista.

“Manipular tal substância [fenol] e [nem] sequer procurar saber dos riscos inerentes ou das possíveis medidas de solução em caso de eventuais intercorrências evidencia o dolo eventual da investigada, uma vez que esta assumiu o risco do resultado [morte], mais uma vez, frise-se, provável e possível”, diz o relatório final da investigação.

O documento policial aponta que Natalia omitiu informações ao paciente antes do procedimento quando o descreveu como “minimamente invasivo”. Segundo a polícia, ela sabia da possibilidade do peeling de fenol provocar “intercorrências cardíacas” — intercorrências essas de fácil pesquisa em fonte aberta e contidas na apostila do curso que a influencer realizou, conforme os investigadores.

A polícia destacou que Natalia não tem formação técnica para a realização de procedimento com fenol e que ela e sua equipe não possuem qualquer preparo para atender eventuais intercorrências com pacientes, como foi o caso de Henrique.

Peeling de fenol

Henrique Chagas morreu devido a uma parada cardiorrespiratória em decorrência de “edema pulmonar agudo” ao inalar fenol durante peeling na clínica da influenciadora Natalia Becker. A causa da morte consta no laudo do Instituto Médico Legal (IML) da Polícia Técnico-Científica.

A perícia encontrou vestígios do produto químico na pele do paciente e conseguiu confirmar o que causou o problema nos pulmões dele: “edema pulmonar agudo desencadeado por ação inalatória local do agente químico fenol”, informa o documento assinado pelo médico que fez o exame necroscópico em Henrique.

“As alterações ocasionaram danos na função respiratória, com inibição da hematose, que gerou o escurecimento sanguíneo, a congestão polivisceral e as equimoses (…)”, aponta a perícia no documento.

“Deve-se considerar ainda que a escarificação apresentada em face poderia ter contribuído para um aumento da absorção do produto, embora o mesmo não tenha sido detectado na amostra de sangue estudada”. A escarificação citada é a sequência de cortes feitos no rosto de Henrique antes da aplicação do produto.

Morreu durante procedimento

Henrique Chagas começou a passar mal logo após ser submetido a um peeling de fenol no último dia 3 de junho. O óbito dele foi constatado por uma equipe do Samu cerca de uma hora depois dos primeiros sintomas.

Natália se apresentou na delegacia apenas dois dias após a morte da vítima e prestou depoimento por cerca de 2 horas. “Eu tô muito triste pelo que ocorreu, jamais quis prejudicar ninguém. Sinto muito pela família dele. Acabou com a minha vida isso. Eu jamais tive a intenção de prejudicar ele”, disse a influencer a jornalistas ao sair da unidade policial.

A mulher admitiu não ter solicitado exames prévios de Henrique e disse que aprendeu a aplicar o peeling em um curso on-line.

A clínica dela foi fechada e autuada pela Vigilância Sanitária do município. De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde, o estabelecimento “exercia procedimentos em desacordo com a legislação vigente”.

Avaliação por foto

Troca de mensagens entre a equipe de Natalia Becker e Henrique Chagas da Silva, que morreu após ser submetido a um peeling de fenol, no início do mês, mostra que o jovem recebeu indicação para realizar o procedimento após enviar uma única foto e foi orientado a iniciar “tratamento”, feito com produtos vendidos pela influencer, durante o mês anterior à aplicação.

A negociação para o peeling de fenol, que foi incluída no inquérito da Polícia Civil e obtida pelo Metrópoles, aconteceu pelo Instagram. Natalia Becker, que não possui formação em medicina, foi indiciada por homicídio doloso.

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Os prints (veja acima) mostram que a clínica da influencer, localizada na região do Campo Belo, na zona sul da capital paulista, permitia agendar procedimentos pela rede social. O cliente também tinha opção de agendar uma consulta antes da aplicação.

Ao entrar em contato com o perfil do estabelecimento, Henrique recebeu uma mensagem de boas-vindas, informou a sua cidade e escolheu sobre qual tratamento desejava tratar – entre “melasma”, “peeling de fenol” e “interesse em curso”.

Conversa pelo Instagram

Em seguida, a clínica enviou uma mensagem de apresentação e informava o valor à vista (R$ 4,5 mil) ou parcelado (R$ 5 mil). “Você quer conquistar uma pele mais firme e jovem? Entre em contato e agende uma consulta para saber se é indicado para você”, diz trecho do texto.

A sequência da conversa, no entanto, mostra que essa análise poderia ser feita, na verdade, por meio do próprio chat. “Poderia por favor enviar uma foto de sua pele para uma breve avaliação”, pergunta a clínica. Henrique responde com uma única imagem, do seu rosto de perfil.

“Obrigada pelas fotos! Você tem indicação sim de realizar o peeling de fenol!”, responde o estabelecimento, que se coloca à disposição, em seguida, para tirar dúvidas pelo Instagram.

O jovem prefere agendar uma consulta com Natalia. Ele também avisa que trabalha em um pet shop e pergunta se pode ter contato com calor após o procedimento. “Desde que não jogue o secador em seu rosto”, responde a clínica.

O estabelecimento, então, avisa que Henrique precisaria “iniciar o tratamento” um mês antes. “Como você tem cicatrizes profundas, temos que preparar a pele para o fenol”, diz a mensagem.

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