Motorista de Porsche tinha “sinais de embriaguez”, afirma testemunha
Segundo depoimento de testemunha, obtido pelo Metrópoles, empresário de 24 anos estaria com “voz pastosa”, além de “cambalear”
atualizado
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São Paulo – O empresário Fernando Sastre Filho, de 24 anos, aparentava “sinais embriaguez”, como “voz pastosa”, além de “cambalear”, afirmou uma testemunha, em depoimento à Polícia Civil, obtido pelo Metrópoles.
Ele foi indiciado por homicídio, após bater o Porsche que dirigia contra a traseira do carro do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, 52, na madrugada de domingo (31/3) na zona leste de São Paulo. A vítima morreu pouco mais de uma hora depois, quando era atendida no Hospital Municipal do Tatuapé.
De acordo com a recepcionista de 36 anos ouvida pela polícia, ela estava no carro de amigos, voltando para casa, na madrugada de domingo.
O veículo onde ela estava seguia pela Avenida Salim Farah Maluf e foi ultrapassado pelo Porsche. A recepcionista acrescentou que ela e os amigos chegaram a comentar “ele vai bater”, por causa da “alta velocidade” do carro de luxo, avaliado em R$ 1,2 milhão.
Alguns metros adiante, eles avistaram o Renault Sandero do motorista de aplicativo batido e, ao lado dele, o Porsche, com a dianteira destruída. Um dos amigos da recepcionista foi ajudar os ocupantes do Porsche, enquanto ela tentava auxiliar o motorista do Sandero, que estava inconsciente.
Suposta namorada
Ela acrescentou que, durante o socorro, um outro carro, cujo modelo não soube especificar, chegou ao local. Dele desembarcaram duas garotas. Uma delas teria afirmado ser namorada de Fernando.
Nesse meio tempo, o celular do empresário tocou, o rapaz que ajudava Fernando atendeu à ligação e conversou com a mãe dele, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, 45, informando-a sobre o acidente com o filho.
Até a chegada de Daniela, a suposta namorada e a outra jovem tentaram tirar do local Fernando e o amigo dele, que também ocupava o Porsche e se feriu. A postura das moças foi contestada por outras testemunhas e pela recepcionista. “Eles só vão sair daqui após o outro motorista [Ornaldo] ser atendido pelo resgate”.
As testemunhas falaram isso porque, nitidamente, o motorista de aplicativo estava em estado mais grave.
Segundo laudo do Instituto Médico Legal (IML), obtido pelo Metrópoles, ele perdeu muito sangue e sofreu um “choque hipovolêmico”, provocando a falência dos órgãos.
Mãe “alterada”
Daniela Cristina chegou “alterada” ao local do acidente, antes dos socorristas, ainda segundo a recepcionista. A testemunha ainda destacou que “em nenhum momento” as duas garotas que chegaram para dar apoio, ou a mãe do empresário, “prestaram qualquer tipo de atenção ao socorro para a vítima do Renault”.
A recepcionista notou, além de outras testemunhas, entre elas um rapaz de 26 anos, que a principal preocupação da familiar e das jovens era ajudar Fernando “a se evadir”.
A mãe do empresário, como mostrado pelo Metrópoles, será indiciada pela Polícia Civil por fraude processual, porque ela inviabilizou que Fernando fosse submetido a exames toxicológicos. A informação foi confirmada na manhã desta quarta-feira (3/4), em sigilo, por fontes policiais que acompanham o caso.
Carine Acardo Garcia, que compõe dupla de defensores do empresário, foi procurada pelo Metrópoles, para saber se ela iria defender também a mãe de seu cliente. Ela afirmou, no início da tarde desta quarta-feira, que irá “aguardar” para se posicionar. “Quando eu tiver a notícia dele [indiciamento] posso te responder”.
Daniela Cristina não foi encontrada para comentar sobre a decisão da polícia. O espaço segue aberto para manifestações.
Sem ir ao hospital
Como mostrado pelo Metrópoles, a mãe de Fernando foi até o local do acidente e disse aos policiais militares que atenderam a ocorrência que ia levar o filho para o Hospital São Luiz no Ibirapuera.
Os PMs liberaram os dois e depois foram à unidade de saúde com o intuito de realizar o exame de bafômetro no empresário. No local, foram informados que ele não havia dado entrada em nenhum hospital da rede.
A conduta dos PMs que liberaram a saída de Fernando Sastre Filho será investigada pela corporação.
Em seu depoimento, o empresário admitiu que, de fato, não foi para nenhum hospital. Ele disse que sua mãe o levou para casa, onde repousou. Depois, ela teria dito que tinha recebido ameaças pelo celular, sem especificar de quem, e que achou melhor não buscar atendimento médico para o filho.
A Polícia Civil e Ministério Público de São Paulo (MPSP) pediram a prisão temporária do empresário, mas a Justiça negou. O delegado Nelson Vinicius Alves, assistente do 30° Distrito Policial (Tatuapé), afirmou que Fernando não demonstrou arrependimento durante seu depoimento. “Ele usou o carro como arma”, disse.
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CNH suspensa
Registros no Departamento Estadual de Trânsito (Detran) mostram que o empresário já teve a habilitação suspensa por estourar pontos em infrações, entre elas excesso de velocidade. Prontuários do Detran, obtidos pelo Metrópoles, mostram que Fernando havia recuperado o direito de dirigir 12 dias antes do acidente.
Em seu depoimento, Fernando também admitiu que dirigia o carro de luxo “um pouco” acima do limite de velocidade da via, que é de 50 km/h.
Os prontuários do departamento de trânsito ainda mostram que a suspensão do direito de dirigir do empresário ocorreu em 5 de outubro de 2023. Entre as multas que estouraram seus pontos na carteira está uma por excesso de velocidade, de 31 de dezembro de 2020, em Cascavel, no Paraná. A infração é punida com sete pontos.
Durante nove dias, em novembro de 2023, Fernando Sastre Filho realizou um curso de reciclagem de condutores e, além disso, ficou com o direito de guiar carros e motos suspenso por cinco meses. Ele conseguiu uma nova CNH em 19 de março deste ano.