Droga e queda: amigos relatam morte de menor suspeito de matar família
Polícia ouviu depoimento de jovens vistos com suspeito; eles subiram em um prédio para usar drogas e o adolescente caiu, segundo os relatos
atualizado
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São Paulo — A Polícia Civil ouviu, nessa quarta-feira (29/5), três amigos do adolescente de 15 anos suspeito de matar um casal de vizinhos e o genro deles, em Agudos, no interior de São Paulo. Eles foram vistos juntos momentos antes de o suspeito ser encontrado morto em um prédio abandonado, em Bauru, cidade vizinha ao local do crime. Segundo eles, o adolescente morreu após uma queda acidental.
O trio — um adolescente de 16 anos e dois jovens, de 18 e 20 — foi identificado após policiais da 3ª Delegacia de Homicídios da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) analisarem cerca de 2 mil vídeos e 48 horas de gravações de câmeras de segurança da região. Os jovens também são moradores de Agudos, aponta a investigação.
De acordo com o delegado Cledson Nascimento, as imagens mostram que, na tarde de sábado (25/5), no dia seguinte aos assassinatos, quatro indivíduos entraram no prédio abandonado, na Rua Doutor Adolpho Miraglia. Um deles vestia uma blusa semelhante à encontrada com o corpo do suspeito.
Na sequência, apenas três saíram do prédio, segundo o delegado. Por outras imagens, foi possível ver os três indo em direção ao local onde o cadáver foi encontrado na última segunda-feira (27/5).
Em contato com a Delegacia de Agudos, que investiga o triplo homicídio, a equipe do Deic soube que o adolescente de 16 anos visto nas imagens já havia prestado depoimento sobre o caso. Na ocasião, ele afirmou à polícia que o suspeito dos assassinatos estava “na posse de valores” no dia seguinte ao crime.
Depoimento
Os amigos do suspeito disseram que, na manhã de sábado, após usarem maconha, eles decidiram ir para Bauru. Ao chegar na cidade, compraram tintas spray para pichação e “respingo de solda” para usarem como alucinógeno. Depois, foram a um mercado e compraram salgados, refrigerantes e lanches. De acordo com o trio, todas as compras foram “bancadas” pelo adolescente encontrado morto.
Então, eles foram até o último andar do prédio consumir as drogas e os lanches. Durante a perícia, realizada na segunda-feira, a equipe da 3ª DH encontrou os pacotes de salgados, as latas de tinta e o “respingo de solda”.
Ainda na versão deles, quando saíam do prédio, o suspeito disse que voltaria para pegar “seus chinelos”. Logo em seguida, os três amigos escutaram um “forte estrondo” e, quando foram ver, o adolescente estava caído no vão lateral, com vários ferimentos. Em poucos segundos, ele parou de respirar, de acordo com o relato.
Eles afirmaram que “mexeram” no corpo e retiraram sua bermuda, para pegar o resto do dinheiro que estava com ele — cerca de R$ 30. Os jovens voltaram para Agudos de ônibus e combinaram de não contarem nada a ninguém.
“Questionados o motivo pelo qual não pediram socorro, foram unânimes em dizer que temiam serem responsabilizados pela morte, dizendo que todos estavam bastante alterados pelo uso do alucinógeno”, afirmou o delegado Nascimento.
O delegado disse que, apesar do laudo necroscópico estar em confecção, “mantivemos contato com a legista responsável, informando não ter encontrado lesões de defesa ou algo que indicasse uma agressão anterior da vítima, cujas lesões eram compatíveis com a queda e possível anteparo antes do impacto final”.
“Avistamos um vergalhão da obra ‘torto’ entre o possível ponto de queda e o solo, além de uma fratura no fêmur e na cervical, que foram determinantes na causa da morte”, concluiu o delegado.
Assassinatos
O casal de aposentados Aparecido Roberto Carrasco, de 74 anos, e Joana Fátima Sanches Carrasco, de 70, foram achados mortos na própria casa, ao lado do genro, Valdinei de Souza, de 57, na manhã da última sexta-feira (24/5).
Os corpos das vítimas foram encontrados por Karina Sanches Carrasco, de 46 anos, filha do casal e esposa de Valdinei. Em depoimento à polícia, ela afirmou que o marido saiu para caminhar pela manhã, como de costume. Com o tempo, Karina começou a ficar preocupada e, como o marido não havia levado o celular, ligou para os pais, uma vez que Valdinei costumava passar na casa dos sogros.
A ligação não foi atendida e a mulher foi até a casa dos pais, onde encontrou os três mortos com marcas de faca no pescoço. Aparecido foi encontrado próximo ao fogão, caído na cozinha. Joana também foi encontrada com marcas de golpes de facas no pescoço na parte das costas. Valdinei foi o terceiro achado do mesmo jeito.
Bocais do fogão acesos
A casa onde eles foram achados mortos estava com os bocais do fogão acesos e um botijão de gás em chamas, segundo o boletim de ocorrência obtido pelo Metrópoles.
Equipes do Corpo de Bombeiros foram acionadas e contiveram o incêndio no local do crime. Ambulâncias do Samu também estiveram na residência para prestar socorro e precisaram aguardar o botijão ser retirado da casa. As mortes das vítimas foram confirmadas ainda no local.
Adolescente morto
O adolescente suspeito do crime era vizinho das vítimas. Ele foi encontrado morto em um prédio abandonado no bairro Vila Regina, em Bauru. O Samu chegou a ser acionado e constatou o óbito no local. O corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para exame necroscópico.
A equipe de investigação da Seccional de Polícia da cidade analisa câmeras de monitoramento no entorno de onde as três pessoas da mesma família foram achadas mortas para determinar quem entrou na casa nas horas anteriores. De acordo com o delegado Marcos Jefferson, a hipótese de que o adolescente foi o autor do crime é “a que está ganhando mais vulto”.
“A cidade parou”
Tanto a família de Aparecido e Joana quanto a de Valdinei são moradoras de longa data de Agudos, município no centro-oeste do estado que possui 37.680 habitantes, de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“As duas famílias são tradicionais, descendentes de fazendeiros na região. Eram pessoas muito conhecidas, que tinham a maior estima da população local. A cidade parou por conta disso [os assassinatos]”, disse o advogado Matheus Piotto, que representa a filha e esposa das vítimas, ao Metrópoles.