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Morte de turista paulista na Bahia após picada intriga especialistas

Cid Penha, de 65 anos, foi picado por um inseto; causas da morte são investigadas e especialistas divergem sobre a causa

atualizado

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Reprodução Butantan
Aranha-marrom
1 de 1 Aranha-marrom - Foto: Reprodução Butantan

São Paulo – A morte do turista paulista Cid Penha, no último domingo (14/7), durante viagem a Morro de São Paulo, na Bahia, segue sem respostas. A vítima, de 65 anos, foi picada por um inseto, ainda não identificado.

A principal suspeita é que a vítima, de 65 anos, teria sido picado por um animal peçonhento, no caso uma aranha-marrom, mas as causas da morte ainda são investigadas e especialistas divergem sobre a causa.

Cid viajava com um grupo de seis amigos e, no dia 9 de julho, fez um passeio de lancha e jantou em um restaurante. Ele reclamou de um incômodo causado por uma possível picada na perna e, no dia seguinte, procurou a Unidade Básica de Saúde de Morro de São Paulo. O local da suposta picada, a panturrilha, estava vermelho e inchado.

A equipe de atendimento seguiu os protocolos previstos para picadas de inseto não identificado. Devido à possível necessidade de aplicação de soro, o paciente foi encaminhado para a Santa Casa de Valença, unidade de referência para o soro. Na Santa Casa, apesar de ter sido considerada improvável a picada pela aranha-marrom, devido à ocorrência rara do aracnídeo na região, os médicos realizaram os procedimentos, mas o paciente não melhorou. Cardiopata, Cid foi transferido para o Instituto do Coração (Incar), um hospital particular, no município de Santo Antônio de Jesus, onde ficou internado até o óbito.

Empurra-empurra

A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) foi questionada sobre o caso. A pasta respondeu que não comenta ou fornece informações sobre pacientes da rede de assistência estadual. O Metrópoles questionou novamente se o caso está, ou não, sob investigação e foi informado que “casos como esse são investigados pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde – CIEVS”. O CIEVS respondeu que a Sesab é quem responde pelo caso.

O Ministério da Saúde determina que todos os óbitos por animais peçonhentos sejam investigados. A reportagem solicitou dados atualizados sobre óbitos por aranha-marrom no Brasil. No total, 17 pessoas morreram em 2024 segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan/MS).

“Ressaltamos que estes números são preliminares, e poderão ser alterados. Muitas notificações são incorretamente atribuídas a óbitos, que apenas são corrigidos após investigações realizadas pelos municípios notificadores. Este processo pode demorar alguns meses até ser concluído”. Ao Metrópoles, a pasta respondeu que o advogado não foi contabilizado nos números enviados pois ainda está em investigação. 

Instituto Butantan diz que óbitos são raros

O caso não chegou ao Instituto, referência no desenvolvimento de vacinas de animais peçonhentos. Procurados, preferiram não falar sobre o caso, mas falaram sobre o animal no Brasil. De acordo com Ceila Malaque, médica do Hospital Vital Brazil, do Instituto Butantan, a maioria dos casos envolvendo picadas de aranha-marrom acontece nas regiões Sul e Sudeste, principalmente São Paulo e Minas Gerais. 

“É bem raro que uma picada leve à morte. No caso da aranha-marrom, do gênero Loxosceles, duas formas podem evoluir até o envenenamento. Uma é através da ferida na pele, a lesão cutânea.  E uma outra é quando o paciente evolui com uma anemia, uma hemólise, quando as células vermelhas do corpo podem ser rompidas por ação de veneno, um mecanismo mais complexo. E aí pode acarretar uma insuficiência renal, uma anemia grave, mas é muito raro acontecer um óbito. O que vemos nos casos relatados de uma lesão na pele que evoluiu a óbito, frequentemente, seria por infecção”. 

O Butantan recomenda que, em casos envolvendo suspeita de picadas de aranha, o paciente capture o animal ou tire uma foto que o identifique, e procure o serviço médico. Só 20% das pessoas picadas capturam a aranha. “Isso facilita o diagnóstico pois as vezes o quadro pode não ser tão característico e necessita observação. É importante também o que não fazer, como não mexer e não colocar nada no local”, recomenda. 

Sobre pacientes com complicações, ela lembra apenas de uma mulher, há cerca de vinte anos. Ela chegou uma semana após ser picada e com quadro de anemia. Foi para a UTI. Casos assim são raros. Em 2023, o Instituto realizou um estudo pioneiro sobre acidentes com aranhas Loxosceles. 

Publicado na revista PLOS Neglected Tropical Diseases, o estudo comprovou que o soro antiaracnídico do Butantan é capaz de reduzir o risco de necrose na pele causada pelo veneno da aranha-marrom (do gênero Loxosceles), principalmente se aplicado nas primeiras 48 horas após o acidente. A necrose no local da picada – morte de parte do tecido da pele – é uma das manifestações mais comuns desse tipo de envenenamento, que acomete cerca de 8 mil pessoas por ano, de acordo com o Ministério da Saúde.

A pesquisa foi feita ao longo de seis anos e incluiu 146 pacientes atendidos no Hospital Vital Brazil que sofreram picada de aranha-marrom. Das pessoas avaliadas, 74 foram tratadas com o antiveneno e 72 não receberam o soro, pois foram admitidas tardiamente. As manifestações cutâneas e sistêmicas foram avaliadas no momento da admissão e semanalmente durante a condução do estudo.

No grupo de pacientes que foram tratados com o soro menos de 48 horas após a picada, a proporção de pessoas que apresentaram necrose foi significativamente menor do que no grupo que não recebeu o antiveneno. A administração do soro foi segura e com baixa taxa de reações adversas.

Além disso, entre aqueles que receberam o soro em até 60 horas depois do acidente, a quantidade de pacientes que desenvolveram úlceras, decorrentes de necrose profunda, foi menor do que naqueles que demoraram mais de 60 horas para serem atendidos.

O estudo foi o primeiro a avaliar, em humanos, a capacidade do soro antiaracnídico de evitar necrose em casos de picada de aranha-marrom. Uma pesquisa anterior com modelos animais havia mostrado que o antiveneno reduzia as lesões necróticas em 30%, mesmo sendo administrado 48 horas após a injeção do veneno.

“O grande desafio em relação à picada da Loxosceles é que a maior parte dos pacientes demora mais de 48 horas para procurar o serviço de saúde. Isso acaba prejudicando a eficácia do tratamento, pois a necrose, muitas vezes, já está estabelecida”, explicou na época a médica Ceila Málaque.

Sintomas e prevenção

As pessoas picadas pela aranha-marrom desenvolvem uma lesão dolorosa e arroxeada que vai escurecendo e pode evoluir para necrose após cerca de três dias. Nas primeiras 24 horas, é comum sentir febre, náusea e mal estar. Após duas a três semanas, alguns pacientes ainda podem apresentar descamação nos pés e nas mãos.

No Brasil, além da aranha-marrom, há outras duas espécies de importância médica: a aranha armadeira (do gênero Phoneutria) e a viúva-flamenguinha (do gênero Latrodectus). Esses animais vivem em buracos no solo, sob cascas e troncos ou em teias.

Para prevenir acidentes, é importante evitar o acúmulo de entulho, folhas secas e lixo, além de combater a proliferação de insetos. Também é recomendado manter ralos de cozinha e banheiro fechados, assim como vedar frestas e buracos em paredes e assoalhos.

Entenda o caso

O turista paulista Cid Penha, morador da cidade de Santos, no litoral paulista, morreu no último domingo (14/7), durante uma viagem para a cidade de Morro de São Paulo, na Bahia. A principal suspeita é que ele teria sido picado por um animal peçonhento, no caso uma aranha-marrom, mas as causas da morte ainda são investigadas e especialistas divergem sobre a causa.

Cid, que tinha 65 anos, viajava com um grupo de seis amigos e, no dia 9 de julho, fez um passeio de lancha e jantou em um restaurante. Ele reclamou de um incômodo causado por uma possível picada na perna e, no dia seguinte, procurou a Unidade Básica de Saúde de Morro de São Paulo. O local da suposta picada, a panturrilha, estava vermelho e inchado.

A gravidade da situação fez com que ele fosse transferido para dois hospitais: primeiro para a Santa Casa de Misericórdia de Valença (unidade filantrópica) e depois foi levado para o Incar, em Santo Antônio de Jesus, onde ele veio a óbito.

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