Misturei remédio com cerveja, diz idoso sobre ameaça a padre Julio
Em entrevista ao Metrópoles, idoso de 72 anos afirmou que igreja da Mooca foi doada por sua família e que pretende desfazer doação
atualizado
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São Paulo – O aposentado Wilson Aliano (foto em destaque), de 72 anos, afirmou ao Metrópoles, na manhã desta segunda-feira (28/8), que teria misturado medicação com bebida alcoólica antes de deixar um bilhete com difamações e uma ameaça ao padre Julio Lancellotti, sábado (26/8), na Mooca, zona leste paulistana.
“Estava sozinho em casa, tomando remédio para labirintite. Fui cair na asneira de tomar uma cerveja. Aí fiquei pensando, me deu uma revolta, escrevi [o bilhete]. Aí mandei esse bilhete mesmo, fui de cara limpa lá, para saber quem eu era mesmo. Sabia que tinha câmera, era para me reconhecer mesmo.”
O idoso afirmou que ficou pensando sobre a doação da igreja em que Lancellotti atua, feita pela família de Aliano. Segundo a Arquidiocese de São Paulo, a capela foi de fato doada pela família Aliano à Cúria Metropolitana, em 1960.
“O trabalho do padre com os pobres é elogiável até. Um detalhe é que minha família doou aquela igreja para culto religioso, não para um ambiente de partido político. Famílias de bem frequentavam a igreja e se afastaram.”
O idoso afirmou que, enquanto fazia esse reflexão, misturou cerveja com a medicação e escreveu o bilhete. Segundo registros do 8º DP, onde o padre Julio formalizou o caso em um boletim de ocorrência de injúria e ameaça, o bilhete deixado pelo idoso no local ofendia e ameaçava o religioso.
Leia abaixo o bilhete na íntegra:
“Padreco de merda, pensa que aki [sic] é partido político, defensor dos direitos dos bandidos, petista vagabundo, usa o povo para te favorecer, seu dia de reinado aki [sic] vai acabar, pode esperar FDP.”
Questionado sobre o “fim do reinado” mencionado no bilhete, o idoso afirmou que esse trecho “foi tratado com sensacionalismo”. “Não tem ameaça de morte nenhuma. Sobre o reinado que vai acabar, o que eu quis dizer foi que vou levantar juridicamente como está a finalidade da doação [da igreja], ela é de fruto religioso. Se tiver brecha judicial, vou anular essa doação, é isso que vou fazer.”
Aliano acrescentou que, no momento, está isolado para evitar eventuais represálias ou ameaças que, segundo ele, “ainda não ocorreram”.
Documento de batismo
O padre Julio afirmou ao Metrópoles que conhece o homem e que ele foi à igreja dias antes da ameaça para pedir um documento de batismo anterior à existência do espaço religioso. Ao ser informado que a paróquia não tinha o documento, o idoso teria prometido entrar na Justiça pedindo a anulação da doação.
“Ele esteve lá esses dias pedindo documentação de batismo. Foi informado que, da época que ele pediu, não era paróquia ainda. Ele sabia disso, mas estava implicado com o tratamento que se dá à população de rua e ficou xingando, ofendendo e dizendo que ia entrar na Justiça para anular a doação”, afirmou o padre, acrescentando que o idoso não frequentava a paróquia regularmente.
Conhecido por sua atuação na pastoral do povo de rua, Julio Lancellotti promove trabalhos sociais desde a década de 1980 em São Paulo. Ele é crítico de políticas que tirem moradores de rua de calçadas e praças.