“Meu escravo”: funcionário vítima de piadas racistas será indenizado
Auxiliar de mecânico era alvo de piadas racistas frequentes do superior hierárquico, de acordo com processo que corre na Justiça do Trabalho
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – Um auxiliar mecânico deverá ser indenizado em R$ 10 mil por sofrer racismo recreativo, que se vale do humor para expressar hostilidade às minorias. Ele era alvo de piadas racistas frequentes do superior hierárquico, que utilizava expressões como “mucamo” e “meu escravo” para se referir a ele.
A decisão foi proferida na 1ª Vara do Trabalho de Guarujá-SP e cabe recurso. As informações são do site do Tribunal Regional do Trabalho (TRT).
Em depoimento à Justiça, o profissional afirmou que o chefe até sugeriu que ele fosse ao cartório para ser registrado como “escravo pessoal”. E que jamais considerou os adjetivos como brincadeira.
Já a testemunha da empresa, um posto de gasolina, disse haver liberdade para aquele tipo de tratamento, que não presenciou atitudes racistas e que o trabalhador frequentava eventos na casa do supervisor.
Em sua decisão, o juiz Luiz Evandro Vargas Duplat Filho usou como referência o protocolo para julgamento com perspectiva de gênero do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o qual reconhece a influência do racismo na aplicação e interpretação do direito.
De acordo com ele, muitas vítimas de assédio moral não discordam das piadas racistas por medo de perderem o emprego ou vergonha de serem ridicularizadas. Por isso, tendem a não se insurgir contra os atos violentos, suportando a convivência no ambiente tóxico por medo do ofensor.
Além da penalidade, o magistrado expediu ofícios ao Ministério Público de SP e à Polícia Civil para eventuais providências cabíveis quanto ao crime de injúria racial.