Meta de Tarcísio, Rodoanel faz 25 anos, incompleto, e chega a R$ 34 bi
Maior obra viária do país, Rodoanel atravessou governos tucanos e foi marcado por atrasos e escândalo; leilão do último trecho será em março
atualizado
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São Paulo – Listado como meta dos 100 primeiros dias de gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o projeto do Rodoanel Mário Covas completou nesta semana 25 anos, ainda inacabado, e com um custo total que chega a R$ 34,4 bilhões, quase o triplo do valor previsto no início.
Em 12 de janeiro de 1998, uma segunda-feira, o então governador Mário Covas (1930-2001) convocou a imprensa no Palácio dos Bandeirantes para anunciar o edital de licitação para a construção do primeiro trecho do Rodoanel, um anel viário na Grande São Paulo que foi concebido para desafogar o trânsito na capital.
Também assinaram o edital o então prefeito paulistano, Celso Pitta (1946-2009), e Eliseu Padilha, ministro dos Transportes à época. A obra grandiosa foi dividida em quatro trechos que somam hoje 177 km de extensão e a promessa era entregá-la completa em oito anos, a um custo de R$ 12,5 bilhões, em valores atualizados pela inflação.
De lá para cá, as obras do Rodoanel sofreram inúmeros atrasos, paralisações e foram alvos de escândalos de corrupção envolvendo os governos do PSDB, partido que comandou o estado nos últimos 28 anos, até perder a eleição de 2022, que consagrou a vitória de Tarcísio.
Passadas duas décadas e meia, e oito governadores diferentes, os três trechos em operação — Oeste, Sul e Leste –, já custaram R$ 22,5 bilhões (em valores corrigidos), mas o último deles — Norte — segue paralisado desde 2018. A retomada da obra está prevista para este ano, após leilão de concessão marcado para o dia 14 de março.
Trecho travado
Só o Trecho Norte, objeto do atual leilão, já consumiu R$ 8,4 bilhões (em valores corrigidos). O valor é 50% superior aos R$ 5,6 bilhões previstos originalmente.
As obras foram paralisadas em 2018, faltando 14% do trajeto para ser concluído, segundo uma auditoria do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) que encontrou 1.291 falhas nos serviços já finalizados — 59 delas podem trazer insegurança à rodovia se não forem sanadas.
A paralisação ocorreu por causa da dificuldade financeira das empreiteiras responsáveis pela construção em tocar o projeto, depois que elas foram alvos da Operação Lava Lato.
Uma das fases da operação, a Pedra no Caminho, apontou fraudes, superfaturamentos e desvios de verba por parte das construtoras OAS, Mendes Júnior e Isolux, além de 14 funcionários públicos. Os contratos foram rescindidos.
Em 2019, o então governador João Doria (ex-PSDB) ensaiou a retomada da obra, prometida por ele na campanha, mas a complexidade de elaboração de um novo edital de licitação, e a pandemia de Covid-19 em seguida, frustraram o plano.
Seu sucessor, o ex-governador tucano Rodrigo Garcia, chegou a anunciar que lançaria uma nova licitação para concluir o Trecho Norte por meio de concessão em abril de 2022, mas o edital só foi lançado em agosto do ano passado.
“Tarcisão do asfalto”
A fama de executor de obras viárias que rendeu ao novo governador o apelido de “Tarcisão do Asfalto”, quando ele foi ministro da Infraestrutura do governo de Jair Bolsonaro (PL), será testada a partir deste projeto. Na sexta-feira (13/1), ele disse ao Metrópoles que está confiante de que o leilão para a retomada da obra terá muitos interessados.
“Pelo que nós temos de informação, tudo indica que será um leilão bem sucedido”, afirmou o governador.
O edital de leilão herdado por Tarcísio prevê que um contrato de R$ 3,5 bilhões, dos quais R$ 1,5 bilhão são de contrapartidas do Estado e R$ 2 bilhões são valores que a empresa vencedora terá de gastar para a concluir a obra.
Em troca, a nova concessionária poderá explorar, por 31 anos, os pedágios dos 44 quilômetros da nova rodovia, que passará pelas cidades de Arujá, Guarulhos e São Paulo e conectará as Rodovias, Dutra, Fernão Dias e Hélio Smidt com os três trechos já existentes do Rodoanel.
O edital lançado por Garcia previa que a licitação ocorresse agora em janeiro de 2023. Mas, em novembro, o governo paulista fez nove ajustes no edital e reprogramou o recebimento de envelopes para o dia 14 de março.
“Não pretendemos mudar o edital em nada. A não ser que, daqui até ali (em março), a gente sinta com o mercado a necessidade de fazer alguma alteração. Mas não é o que a gente está sentindo. A sinalização que a gente está tendo do mercado é a melhor possível”, disse Tarcísio ao Metrópoles.