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Mensagens mostram ligação de Milton Leite com suspeitos de elo com PCC

Presidente da Câmara Municipal de SP, Milton Leite nega envolvimento com suspeitos de elo com PCC e rebate mensagens que o ligam a acusados

atualizado

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Câmara Municipal de São Paulo
Imagem colorida mostra Milton Leite, vereador em São Paulo - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra Milton Leite, vereador em São Paulo - Metrópoles - Foto: Câmara Municipal de São Paulo

São Paulo – Mensagens e e-mails interceptados pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) mostram relação de proximidade do vereador Milton Leite (União), presidente da Câmara Municipal da capital paulista, com diretores da empresa de ônibus Transwolff, a TW, que são acusados de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Milton Leite teve os sigilos fiscal e bancário quebrados pela Justiça paulista, em fevereiro de 2023, durante investigação que deu origem à Operação Fim da Linha, do MPSP, responsável por apurar a ocultação de valores do PCC no transporte público de São Paulo. O vereador nega envolvimento em qualquer esquema.

As mensagens (veja abaixo) que ligam os dirigentes da TW ao parlamentar constam em relatório do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), também elaborado no ano passado, ao qual o Metrópoles teve acesso.

Na noite dessa terça-feira (2/7), Milton Leite participou de uma reunião com representantes do sindicato de motoristas e cobradores de ônibus que resultou na suspensão da greve que estava marcada para esta quarta-feira (3/7) no transporte público municipal.

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Assessora pede que funcionários da TW assinem nota fiscal
Cícero diz que vai encontrar com Milton Leite na Câmara e presenteá-lo com um queijo
Segundo investigado, presente já estava prometido
Cícero teria recebido informações de Milton Leite sobre administração pública
Assessora de Milton Leite pede que TW mande representante para reunião de conselho
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Pandora pede votos para Milton Leite

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Assessora pede que funcionários da TW assinem nota fiscal

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Cícero diz que vai encontrar com Milton Leite na Câmara e presenteá-lo com um queijo

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Segundo investigado, presente já estava prometido

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Cícero teria recebido informações de Milton Leite sobre administração pública

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Assessora de Milton Leite pede que TW mande representante para reunião de conselho

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Investigado compartilhou foto de santinhos de filhos de Milton Leite

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No pedido para quebrar os sigilos de Milton Leite, a Promotoria chega a afirmar que o presidente da Câmara teve “um papel juridicamente relevante na execução dos crimes sob apuração”.

Já em abril deste ano, mais de um ano após conseguir autorização para acessar os dados do parlamentar, o MPSP ofereceu denúncia contra 10 pessoas ligadas à TW. Milton Leite, no entanto, não faz parte da lista de acusados e só foi incluído no rol de testemunhas.

Favores

Segundo a Promotoria, a empresa de ônibus recebeu um aporte de R$ 54 milhões da facção criminosa, obtidos com tráfico de drogas e outros delitos, para participar da licitação do transporte público na capital paulista.

A investigação incluiu conversas de WhatsApp entre Cícero de Oliveira, o Té, um dos diretores da TW denunciados pelo MPSP, e a esposa dele. Em uma das trocas de mensagem, registrada em maio de 2017, o acusado avisa que vai se encontrar com Milton Leite na Câmara Municipal.

“Amor, como segunda eu tenho que está às 10 horas na câmera municipal, inclusive já tinha até falado para Cida separar um queijo pra mim leva para o Milton [sic]”, escreve Cícero. “Que eu tinha prometido para ele”, completa, em seguida.

Naquele mesmo ano, a mulher pede em áudio enviado a Cícero para ele tentar conseguir com o vereador alguns ingressos para o desfile de escolas de samba em São Paulo.

“Fala pra ele assim: ‘Ah, Milton, não tem uns ingressos do Carnaval aí sobrando para minha sobrinha? Ela sabe que sou seu amigo, ela passa no seu gabinete e busca’. Só assim, sabe, sem querer nada. Se der, ok. Se não der, tudo bem… É a minha última esperança”, diz a transcrição.

Já em abril de 2020, outra conversa interceptada também indicaria “relação pessoal” entre Cícero e o vereador, segundo o MPSP. “O Milton Leite disse pro Té que as escolas darão férias em maio”, afirma a mensagem, cujo autor não foi identificado. Cícero foi um dos denunciados pelo MPSP no suposto esquema de lavagem de dinheiro do PCC por meio de empresas de ônibus.

Pedido de votos

O principal alvo da Operação Fim da Linha, deflagrada em 9 de abril, era Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora, sócio majoritário da TW e suposto chefe do esquema. Ex-presidente da Cooperpam, cooperativa de transporte que foi sucedida pela empresa de ônibus, o acusado também teria ligações com o presidente da Câmara.

Pandora chegou a ser preso na operação em abril, e conseguiu um habeas corpus para deixar a prisão no início de junho. Em 2006, uma empresa de Milton Leite construiu uma das garagens da Cooperpam. Nos últimos anos, o vereador controla o bilionário setor de transportes da Prefeitura da capital e de subprefeituras da zona sul.

Na investigação, o MPSP incluiu e-mail em que Pandora pede votos para o vereador em 2012. “Estamos juntos nessa luta para colocar um candidato que é o nosso representante no Poder Legislativo, e luta por nossa categoria e principalmente pelos interesses de nossa região”, diz trecho do texto.

“Trabalha pelo povo porque é do povo, uma pessoa que podemos contar sempre e já demonstrou isso diversas vezes. Em meu nome e de toda a família Cooperpam, peço sua ajuda”, finaliza o texto, que traz um santinho de Milton Leite em anexo.

O Gaeco cita, ainda, mensagens de investigados que estariam comentando sobre a importância da vitória eleitoral de filhos do parlamentar, que disputaram as eleições em 2018, para os interesses da empresa. Os comentários foram feitos em grupos de família.

“Queria ver quantos votos tiveram os deputados lá da Transwolff”, diz uma das mensagens. “Aqui só dá Leite”, diz outra, com a foto de diversos santinhos espalhados pelo chão.

Assessores

A investigação também descobriu troca de e-mails entre assessores do vereador e dirigentes da empresa.

“Boa tarde. Segue em anexo convite da 22ª Reunião do Conselho Municipal e Trânsito, o Milton pediu para que enviasse um representante”, diz um dos e-mail, enviado em fevereiro de 2017. É Pandora quem responde: “Obrigado… os representantes estarão lá”.

Já em 2021, outra assessora do parlamentar fala no WhatsApp com Cícero. Segundo o Gaeco, ela pediu a assinatura de recibos “provavelmente se referindo a funcionários da Transwolff que tenham prestado algum serviço para o gabinete de Milton Leite”.

“Bom dia! Eu sou a Solange do DEM, o Milton passou seu celular! Preciso da assinatura do pessoal nos recibos. Tem que declarar no imposto de renda”, diz a mensagem.

O que diz Milton Leite

Procurado pelo Metrópoles, o vereador Milton Leite afirmou, por meio de nota, que desconhece os documentos citados na reportagem e a relação dos investigados com os supostos crimes denunciados pelo MPSP.

“Não tenho essa informação. Mas convém lembrar que as reuniões do Conselho Municipal de Trânsito são públicas e abertas a quem delas quiser participar”, diz a nota.

“Fato é que desconheço qualquer tipo de relação das pessoas mencionadas na reportagem com os crimes que lhes são imputados e a própria Justiça, que já determinou a soltura do presidente da Transwolf, entendeu não haver motivos para mantê-lo preso, conforme”, completa.

O presidente da Câmara diz, ainda, que sempre foi “entusiasta e profundo conhecedor do sistema de transporte público de São Paulo” e que foi uma lei de autoria dele que “possibilitou a legalização das cooperativas em São Paulo”.

“Nesse sentido, sempre conversei com todos os empresários do setor, buscando sempre a troca de informações para o engrandecimento do segmento, independentemente do tamanho de cada empresa, mas não mantenho nenhum relacionamento com nenhum deles”, afirma Leite por meio de nota.

Sobre o pedido de apoio na eleição, o vereador diz que “é de conhecimento público que integrantes do setor de transporte, incluindo trabalhadores da área, me apoiaram em diversos momentos”. “É importante lembrar que todo cidadão é livre para manifestar apoio a quem quer que seja”.

“Como foi noticiado pela própria imprensa, fui arrolado como testemunha neste caso e sequer ainda fui convocado para ser ouvido. Lembro que, por minha livre e espontânea iniciativa, eu já havia aberto meus dados fiscais e bancários ao Ministério Público de São Paulo e após extensa investigação nada foi encontrado. Meus dados bancários são um só e o próprio Ministério Público já os analisou exaustivamente, não havendo nada de novo que possa ser novamente investigado ou levantado pela imprensa. De toda forma, novamente coloco meus dados à disposição do Ministério Público. Após 28 anos de vida pública, não tenho uma única condenação na Justiça”, conclui Leite.

No fim de maio, Milton Leite já havia rebatido acusações de que estaria envolvido no esquema de lavagem de dinheiro do PCC e afirmou que seus dados fiscal e bancário já passaram por “ampla checagem” da Promotoria.

“Chama a atenção o interesse em se tentar assassinar minha reputação em um ano eleitoral, sem base em novos documentos e desconsiderando decisões judiciais já tomadas, o que ocorre justamente quando meu nome se destaca entre possíveis candidatos a vice-prefeito”, disse à época.

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