metropoles.com

Menos de 1% da rede: por que é tão difícil enterrar os fios em SP

SP já teve vários planos de enterramento de fios, mas conta atualmente com menos de 1% dos fios enterrados em uma rede de cerca de 20 mil km

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
William Cardoso/Metrópoles
Imagem mostra operários retorcendo fios - Metrópoles
1 de 1 Imagem mostra operários retorcendo fios - Metrópoles - Foto: William Cardoso/Metrópoles

São Paulo — A cidade de São Paulo já teve diversos planos de enterrar fios, metas que foram extintas após ação judicial e toda vez que uma tempestade deixa a população às escuras o tema volta à tona. Em meio às discussões, os projetos avançam lentamente e a capital paulista tem hoje menos de 1% dos fios enterrados em uma rede de cerca de 20 mil km.

Custo elevado para a implantação, transtornos durante a escavação de túneis e obras demoradas, sendo feitas aos poucos, são alguns dos entraves para a expansão das redes subterrâneas, de acordo com especialistas. Também apontam a dificuldade de integração dos vários responsáveis, como a Prefeitura e a Enel, concessionária responsável pelo fornecimento de energia na capital.

8 imagens
Chuvas causam problemas em São Paulo
Chuvas causaram estragos em posto de gasolina
Chuvas causam problemas em São Paulo
Raposo Tavares ficou travada após a queda de uma árvore
Árvore cai em cima de ônibus na Estrada do M’Boi Mirim
1 de 8

Árvore derrubada pelo vento durante temporal na Vila Mariana, em São Paulo

William Cardoso/Metrópoles
2 de 8

Chuvas causam problemas em São Paulo

Bruno Ribeiro/Metrópoles
3 de 8

Chuvas causaram estragos em posto de gasolina

Reprodução
4 de 8

Chuvas causam problemas em São Paulo

Bruno Ribeiro/Metrópoles
5 de 8

Raposo Tavares ficou travada após a queda de uma árvore

CCR ViaOeste
6 de 8

Árvore cai em cima de ônibus na Estrada do M’Boi Mirim

Reprodução/Redes sociais
7 de 8

Árvore caída na Anchieta

Ecovias
8 de 8

Temporal causou queda de árvores em diversos pontos da capital

William Cardoso/Metrópoles

Entre os benefícios da rede subterrânea, os especialistas apontam o menor número de desligamentos, o fato de não colocar a população em risco de contato com cabos energizados e a necessidade apenas de manutenções pontuais, já que o circuito está bem abrigado, não sendo tão afetado pelas tempestades que provocam quedas de árvores.

Segundo a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), há em andamento atualmente o programa SP sem Fios, que prevê o enterramento de somente 65,2 km — desses, só 38,4 km estão em execução ou já foram entregues, de acordo com a administração municipal. Participam do programa a Enel, Ilumina SP, empresas de telecomunicação e a SPTrans, por causa dos trólebus.

Em 2017, o programa Cidade Linda Redes Aéreas, durante a gestão de João Doria (PSDB), previa o enterramento de 52 km de fios em 117 ruas da capital e também avançou muito pouco, tornando-se, por fim, um embrião do SP sem Fios, de Nunes.

Anteriormente, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) já havia proposto uma meta anual de 250 km de redes enterradas à antiga concessionária AES Eletropaulo, mas a portaria caiu após decisão judicial. Não há no contrato de concessão, atualmente com a Enel, obrigação de que enterrem os fios. A empresa afirma que cada quilômetro de rede subterrânea custa de 8 a 10 vezes mais do que o da rede aérea.

Nesta terça-feira (7/11), o promotor Silvio Marques detalhou o próximo novo projeto, que deve ser apresentado em definitivo no dia 21/11. Estima-se entre R$ 100 bilhões e R$ 150 bilhões para enterrar todos os fios da capital paulista ao longo de aproximadamente 20 anos — e quem estiver interessado terá que desembolsar um terço do custo.

Engenheiro elétrico do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), Edval Delbone afirma que a adoção da fiação subterrânea de uma só vez em cidades como São Paulo não é plausível. “O enterramento dos fios em larga escala não é viável. É muito demorado e caro. Tem que fazer um planejamento e ir aos poucos”, diz.

Segundo Delbone, uma meta razoável seria de 2% a 4% da rede sendo enterrada por ano na cidade de São Paulo. “Tenho a informação de que na Avenida Nove de Julho, 2,2 km [de fiação subterrânea] demoraram quase um ano para serem feitos. Não é rápido, a logística é complicada, tem que interditar parte da rua, fazer um túnel”, diz.

Já o professor José Aquiles Baesso Grimoni, da Escola Politécnica da USP, também diz que não seria possível realizar o enterramento em um prazo razoável e cita outro problema. “Levaria anos para fazer e a indústria de equipamentos e materiais não estaria preparada para fazer em prazo curto”, afirma.

Para Grimoni, a melhor estratégia seria definir prioridades na implementação. “Deveria ser feito um planejamento de longo prazo, priorizando regiões mais sensíveis, com em volta de hospitais”, afirma.

O professor da Poli também diz que não parece razoável, do ponto de vista de política pública, a proposta de que os interessados em ter a rede subterrânea paguem um terço do custo de implantação. “Seria injusto para quem não pode arcar com a conta. Teríamos assim redes enterradas só nas regiões nobres da cidade e em bairros ricos”, diz Grimoni.

Para Delbone, em um futuro próximo, o enterramento pode ser mais fácil, rápido e barato do que é hoje. O representante do Instituto Mauá diz que estão sendo desenvolvidas tecnologias para diminuir custos. “Há estudos para não ser necessário fazer o túnel, só enterrar os cabos. São cabos especiais”, afirma.

E agora?

Enquanto a rede subterrânea não vira uma realidade em grande parte da capital paulista, um paliativo pode ser uma rede aérea [fios em postes] mais moderna, segundo Delbone.

“A rede compacta tem quase o mesmo preço e tem um isolamento que minimiza o risco de curto-circuito. Não é definitiva, mas pode minimizar os desligamentos. É pensar nas redes compactas em curto prazo e a rede subterrânea em longo prazo”, afirma.

Diante do caos instalado desde a última sexta e da falta de coordenação no restabelecimento da rede, autoridades e Enel terão que mudar a abordagem em futuras situações de emergência, segundo o professor Grimoni. “As redes de manutenção e suporte de serviços na cidade deverão ser reforçadas e regionalizadas. O uso de monitoramento inteligente da cidade e do clima deve ser implementado e utilizado”, afirma.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comSão Paulo

Você quer ficar por dentro das notícias de São Paulo e receber notificações em tempo real?