“Meu filho foi embora”: menino morto em ação da PM de SP é enterrado
Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, foi baleado durante uma ação policial no Morro do São Bento, em Santos, nessa quarta-feira (6/11)
atualizado
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Santos — O corpo do menino Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, foi enterrado na manhã desta quinta-feira (7/11) no cemitério da Areia Branca, na zona noroeste de Santos, no litoral de São Paulo. O garoto, baleado durante uma ação policial no Morro do São Bento na madrugada dessa quarta-feira (6/11), brincava em uma rua perto de casa quando foi atingido. Ele foi socorrido mas não resistiu.
Familiares e moradores da comunidade acompanharam o cortejo fúnebre, que saiu do velório na Santa Casa de Santos. No cemitério, o corpo foi recebido com fogos de artifício e balões brancos.
Ryan foi sepultado diante do choro inconformado de dezenas de pessoas. Até o coveiro responsável por fechar o túmulo chorou.
A mãe de Ryan, Beatriz da Silva Rosa, precisou ser levada em uma cadeira de rodas durante o cortejo e o funeral. Arrasada, a mulher, que teve o marido morto pela PM em fevereiro também no Morro do São Bento, não conseguia falar ou se manter de pé.
“Meu Deus do céu, meu filho foi embora”, dizia a mulher aos prantos enquanto o caixão com o corpo do filho era colocado em uma gaveta no cemitério.
Assista:
Leonel Andrade Santos, marido de Beatriz e pai de Ryan, foi morto por policiais do Comando de Operações Especiais (COE) em 9 de fevereiro. O homem, que tem deficiência, andava de muleta. Apesar disso, segundo os PMs, Leonel teria atirado contra os agentes. Na ocasião, Jefferson Ramos Miranda, amigo de infância do marido de Beatriz, também foi morto.
Durante o enterro de Ryan, Ester, tia do menino, criticou a versão dada por policiais sobre a ocorrência que resultou na morte dele. Segundo a PM, cerca de 10 suspeitos estavam no local e teriam começado a atirar contra agentes da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam), que com o apoio do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) teriam revidado. Dois adolescentes, de 17 e 15 anos, foram baleados. O mais velho morreu.
“A lei está aí para eles serem presos, e não para eles serem mortos. Saem atirando e ainda pega numa criança de quatro anos. Por que eles não pararam os moleques ao invés de atirar? Agora a mãe dele está aqui, é ela que vai sofrer pela perda dele, como todo mundo aqui está sofrendo. Isso tem que acabar”, disse Ester.
Durante o enterro, viaturas da Polícia Militar entraram no cemitério. Do lado de fora, PMs faziam abordagens a motociclistas, o que provocou revolta dos familiares e conhecidos de Ryan.
“Chegaram e mataram”
No velório, na Santa Casa de Santos, Beatriz da Silva Rosa, mãe de Ryan, concedeu uma entrevista coletiva em que negou um suposto confronto entre policiais e suspeitos.
A mulher afirma que viu o filho com um “buraco” na barriga, ficando cada vez mais pálido.
“Ele conseguiu caminhar até a área da casa minha prima. Ele levantou a camisa e quando eu olhei estava com um buraco (na barriga), ficou uns cinco minutos me olhando, ficando roxo e pálido. Eu perdi um pedaço de mim. Meu filho estava brincando na rua, todo alegre. Eu ainda estou em estado de choque. Eu não acredito”, disse Beatriz a jornalistas.
“Mamãe, eu quero morrer”
O Metrópoles esteve no Morro do São Bento em março deste ano e conversou com Beatriz da Silva Rosa sobre a morte do Leonel Andrade Santos. Na ocasião, ela relatou o desespero do filho diante do ocorrido. Segundo ela, Ryan dizia querer morrer para reencontrar o pai.
“Todo dia eu tenho que explicar. Todo dia eles perguntam do pai. Esses dias meu filho mais novo falou: ‘Mamãe, eu quero morrer’. Aí, eu desviei o olhar, tentei conversar de outra coisa para ver se ele se distraía. E ele repetia: ‘Mamãe, olha para mim, eu quero morrer, e tem que ser agora, porque eu quero ver meu pai’. ‘Filho, a gente não pode antecipar isso, Deus vai preparar nossa hora e um dia a gente vai rever o papai, mas, por enquanto, a gente vai ter que caminhar’”.
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