MDB e PL raiz veem saia-justa a Nunes com ato de Bolsonaro na Paulista
Bolsonaro convocou ato na Avenida Paulista para o dia 25/2 a fim de se defender da investigação da PF sobre suposto plano de golpe de estado
atualizado
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São Paulo — O ato convocado por Jair Bolsonaro (PL) para o dia 25/2, na Avenida Paulista, em São Paulo, em apoio ao ex-presidente diante da investigação da Polícia Federal (PF) sobre o suposto plano de golpe de estado, é visto como uma saia-justa para o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), por integrantes de seu próprio partido e do chamado PL raiz, ala da legenda que não contempla os bolsonaristas.
Aliados de Bolsonaro querem que Nunes compareça ao ato na Paulista como um gesto de retribuição ao apoio que o ex-presidente dará à sua campanha pela reeleição neste ano, selado no fim de 2023 com a ajuda do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Até agora, o prefeito não fez nenhuma manifestação pública em defesa de Bolsonaro após a operação da PF antes do Carnaval, o que incomodou os bolsonaristas mais radicais.
Receio no MDB
Nos bastidores, lideranças do MDB já aconselharam Nunes a não ir ao ato de Bolsonaro. Embora o ex-presidente tenha pedido aos apoiadores, no vídeo de convocação que foi divulgado, para que “não compareçam com qualquer faixa ou cartaz contra quem quer que seja”, os correligionários do prefeito não estão seguros de que não haverá algum tipo de manifestação de cunho golpista entre o público que irá à Paulista.
Caso isso ocorra, ponderam os emedebistas, os adversários do prefeito poderiam usar a participação dele no ato para vinculá-lo à extrema direita, como já tem tentado fazer o deputado federal Guilherme Boulos, pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSol e considerado o principal oponente de Nunes na campanha deste ano.
Foi em um ato na Avenida Paulista, no Sete de Setembro de 2021, que o então presidente Bolsonaro xingou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federa (STF), de “canalha” e disse que jamais seria preso. Moraes é o relator dos inquéritos que investigam Bolsonaro e seus aliados, incluindo o que resultou na operação da semana passada e motivou a convocação da manifestação do ato do dia 25/2.
Visão do PL raiz
O receio de que a ida ao ato bolsonarista possa contaminar a campanha de Nunes também é partilhado pelo PL raiz. Integrantes dos diretórios estadual e municipal do partido de Bolsonaro em São Paulo, que são mais próximos de Nunes, afirmam, em reservado, que o prefeito não tem obrigação de ir ao evento bolsonarista e deveria continuar focando na gestão da cidade em vez de embarcar no conflito político.
Apoio a distância
Pré-candidato à reeleição, Nunes passou o ano de 2023 articulando com Valdemar o apoio do PL na eleição com dois objetivos: garantir na sua coligação o partido que terá o maior tempo de TV na propaganda eleitoral e evitar uma candidatura bolsonarista que ameaçasse sua ida ao segundo turno. Em dezembro, o prefeito recebeu a confirmação de que Bolsonaro havia topado o acordo, com a condição de que ele indicaria o vice da chapa do emedebista.
Na semana passada, quando a PF deflagou a operação que apreendeu o passaporte de Bolsonaro, prendeu ex-assessores dele, um militar e Valdemar — este por porte ilegal de arma —, por suposta participação em um plano de golpe de estado, o prefeito se esquivou do tema. Nas duas ocasiões em que foi questionado sobre o caso, Nunes disse que não tinha informações suficientes a respeito e que seu papel é governar a cidade.
Como mostrou o Metrópoles, outros partidos aliados de Nunes, em especial o União Brasil, viram no cerco da PF aos bolsonaristas uma oportunidade para brigar pela indicação na vaga de vice na chapa do prefeito.
Já o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), afilhado político de Bolsonaro e aliado de Nunes, esteve fora do país durante toda a semana passada, em viagem à Europa, o que o blindou da repercussão sobre a operação da PF. Nesta quarta-feira (14/2), contudo, Tarcísio confirmou que irá ao ato bolsonarista na Paulista, no dia 25/2.