Marçal usa tática “Bolsodoria” e tenta pintar Nunes como esquerdista
Apesar de usar Doria para afastar Bolsonaro de Nunes, Pablo Marçal repete tática do ex-tucano para enquadrar adversário como esquerdista
atualizado
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São Paulo – Pré-candidato à Prefeitura da capital, o influenciador Pablo Marçal (PRTB) tem apelado para uma tática usada pelo ex-governador João Doria (sem partido) nas eleições de 2018 para colar ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), a imagem de esquerdista.
“O Nunes é de esquerda, vocês têm que entender o que eu estou falando”, disse Marçal em um vídeo publicado no Instagram nessa segunda-feira (8/7).
Marçal disputa votos da direita com Nunes, em especial do eleitor bolsonarista, e já vinha utilizando a figura de Doria, um dos desafetos de Jair Bolsonaro (PL), para afastar o ex-presidente do prefeito.
O influenciador tem ligado Nunes a Doria pelo fato de o emedebista ter chegado à Prefeitura como vice de Bruno Covas (PSDB), morto em 2021. Covas, por sua vez, foi vice de Doria e assumiu como prefeito em seu lugar quando o ex-governador saiu para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes em 2018.
“Essa campanha dele, do Nunes, é de herdeiro do Bruno Covas e do Doria. O Doria mesmo perguntou por que eu não saio vice do Nunes. Eu não sou homem pra largar uma eleição para entrar com um cara que é de esquerda”, disse Marçal no vídeo.
Sem fornecer exemplos, Marçal também afirmou que o secretariado de Nunes “apoia aborto, apoia a linguagem neutra nas escolas”. A gestão Nunes, ao contrário, tem sido criticada pelo encerramento do serviço de aborto legal em um hospital da zona norte.
Marçal repete Doria
Mesmo utilizando a figura de Doria, Marçal adota a tática similar à do ex-tucano em 2018, quando pregou o voto “Bolsodoria” para atrair eleitores bolsonaristas. Na época, o PSDB, partido de Doria, não quis apoiar nem Jair Bolsonaro nem Fernando Haddad, que disputavam o segundo turno pela Presidência da República.
Durante toda a campanha daquele ano, Doria também tentou colar em seu maior adversário nas urnas, o então governador Márcio França (PSB), a imagem de esquerdista. Durante um debate eleitoral, chegou a chamá-lo de “petista enrustido” – mesmo que França tenha sido vice do ex-tucano Geraldo Alckmin em um período no qual o PSDB polarizava com o PT a nível nacional.
“Vamos disputar e vamos ganhar. Ainda mais de alguém que vem do partido socialista, que é genérico do PT. Será uma honra pra mim disputar e vencer uma eleição de Márcio França, que, para mim, continua sendo Márcio Cuba”, disse Doria ao avançar ao segundo turno das eleições contra França.
A três dias do segundo turno, Doria publicou nas redes sociais que o “socialista Márcio França nomeou o comunista Aldo Rebelo para Secretaria da Casa Civil”. Ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Rebelo é atualmente secretário de Relações Internacionais da gestão Nunes e era o preferido do prefeito para ser o vice da chapa que disputará a reeleição.
Marçal visitou Doria no início de junho e disse ter perguntado a ele quais foram os erros que encerraram a sua trajetória política. Assim como o ex-governador, que foi eleito à Prefeitura da capital em 2016, o influenciador se apresenta como um outsider na política, mas com influência no meio, e exalta, nas redes sociais, sua trajetória enquanto empresário bem-sucedido.
Marçal e Bolsonaro
O influenciador tem minimizado o apoio de Bolsonaro ao prefeito nos vídeos, mesmo após o ex-presidente desautorizar uma reunião de deputados estaduais do PL com Marçal e emplacar o vice da chapa de Nunes, o Coronel Mello Araújo (PL).
“Infelizmente, o Bolsonaro, por conta de apoios políticos, tem que engolir o Nunes”, disse Marçal. “Eu duvido que um bolsonarista vai votar no Nunes”, afirmou em outro momento.
Marçal também fez uma “previsão” nas redes sociais ao dizer que Mello Araújo não será o vice de Nunes nestas eleições. O Metrópoles já publicou que aliados de Nunes traçaram uma estratégia de fritura do coronel para abrir espaço a um novo vice até as convenções partidárias, que serão em 3 de agosto.
A reportagem apurou que o MDB, partido de Nunes, escolheu fazer a convenção perto da data-limite da Justiça Eleitoral, de 5 de agosto, justamente para ganhar tempo no processo e costurar uma nova indicação à vice.