Maçarico, ameaça de estupro e PCC: vítima de influencer descreve tortura
Influencer Vitória Guarizo Demito, de 25 anos, foi presa por suspeita de participar de tortura e roubo de um homem de 46 anos em São Paulo
atualizado
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São Paulo — A sessão de tortura de um homem de 46 anos, que foi roubado após ser atraído para um falso encontro em São Paulo, envolveu ameaças de estupro, queimaduras de maçarico e intimidações de um agressor que dizia ser do Primeiro Comando da Capital (PCC). O caso resultou na prisão da influencer Vitória Guarizo Demito, 25 anos, na terça-feira (25/7). Ela alega inocência.
A tortura foi praticada por três pessoas e durou cerca de 40 minutos, até o homem ficar desacordado. Os detalhes do crime foram relatados pela própria vítima em depoimento no 27º Distrito Policial (Campo Belo), obtido pelo Metrópoles.
Segundo o depoimento, os ladrões levaram R$ 41,5 mil após uma série de transferências bancárias para contas de pelo menos seis titulares. Também roubaram a carteira da vítima, um relógio da marca suíça Tissot, avaliado em R$ 2 mil, e um iPhone 13, que custaria R$ 5 mil.
Na delegacia, o homem apontou Vitória, com quem havia marcado um encontro, como uma das autoras do crime. O outro preso é Gabriel Duarte de Meneses, 29, o namorado da influencer, descrito pela vítima como “o mais violento” do trio. Já o terceiro suspeito, de cabelos encaracolados e muita marca de espinha, está foragido. Ele que alegava ser do PCC.
O crime aconteceu na noite de 18 de maio. Por volta das 18h, o homem pegou o carro do primo emprestado e, sem informar o destino, foi para um apartamento ligado à influencer em Moema, bairro nobre da capital paulista. Ele só acordaria na noite seguinte, entre 22h30 e 23h. Estava sozinho e dentro do veículo, parado em uma esquina a cerca de dois quilômetros do local do crime.
Encontro
No primeiro boletim de ocorrência, registrado em 22 de maio, no plantão do 15º Distrito Policial (Itaim Bibi), o homem relatou ter encontrado Vitória em um site de acompanhantes, o Top Travesti, com o nome falso de “Camilla Flores”. Já em depoimento, prestado no dia seguinte, no 27º DP, ele disse que a conversa começou no Grindr, aplicativo de relacionamento voltado ao público LGBTQIA+, e logo passou para o WhatsApp.
Os dois marcaram de se encontrar em um flat na Avenida Miruna, em Moema, na zona sul da capital paulista, no mesmo dia. De acordo com a vítima, Vitoria disse que morava só e havia acabado de chegar de viagem de Dubai, nos Emirados Árabes.
O apartamento fica no sétimo andar do prédio e tem um quarto, um banheiro e uma sala aberta. No depoimento, o homem diz que foi recebido por Vitória na porta. Alegando que estava triste porque seu ex-namorado havia batido nela, a influencer logo o beijou e o puxou para a cama.
Já deitado, o homem foi surpreendido por outros dois indivíduos que chegaram por trás e puxaram suas pernas e seus braços. Em seguida, um deles lhe desferiu um soco no olho direito.
Tortura
A vítima relata que ficou com os braços cruzados e foi amarrado com lacres plásticos. O homem tentou gritar, mas os bandidos tamparam sua boca com fita crepe e começaram a pedir dados bancários.
Segundo afirma, Gabriel deu chutes no seu peito e nas suas costas. Já o terceiro indivíduo, que “falava mal português”, esquentou uma faca no fogão para queimar o seu pulso. Ele também fazia ameaças de estupro e dizia ser do PCC.
“Vitória só olhava e mandava amarrar a boca do declarante”, diz o depoimento. Foi Gabriel quem teria usado o maçarico para torturá-lo e ainda deu socos no rosto, no pescoço e nos ombros da vítima. Durante toda sessão, ele e o outro suspeito usavam droga, que “parecia com cristal”, de acordo com a vítima.
Em dado momento, a influencer teria mandado a vítima beber quatro comprimidos, diluídos em um suco de uva, e queria que o homem usasse quetamina e metanfetamina. Para não ser dopado, o homem dizia que tinha problema de coração e sofria risco de parada cardíaca se consumisse aquelas drogas.
Influencer
Com mais de 1 milhão de seguidores, Vitória ficou famosa por compartilhar seu processo de transição de gênero, aos 17 anos, e estava prestes a estrear seu próprio reality show. Nas redes sociais, a influencer compartilhava posts sobre estilo de vida, saúde mental e aparições em veículos de imprensa.
Em comprovantes de transações bancárias entregues para os investigadores, a vítima mostra que fez transferências para contas no nome de batismo da influencer, de Gabriel, do terceiro suspeito e de mais três pessoas.
No relatório de investigação, a Polícia Civil concluiu estar “diante de uma associação criminosa” que se vale de “encontros amorosos e sexuais de fachada” para manter a vítima em cárcere privado, realizando “diversos tipos de torturas físicas e psicológicas”.
Já na audiência de custódia, realizada na quarta-feira (26/6) pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), a influencer alegou que trata ansiedade e depressão, com uso contínuo de alprazolam, dormonid, ritalina, zolpidem e clonazepan. A juíza decidiu manter as prisões.
Em comunicado, a assessoria de Vitória afirmou que, “até o momento, a prisão da nossa cliente é apenas temporária por 15 dias”. De acordo com a nota, Vitória está “colaborando com as investigações, esclarecendo os fatos, confiante de que provará sua inocência”.