Lula ouve coro com críticas de estudantes em evento no interior de SP
Grupo disse para Lula “prestar atenção” e negociar com a Educação durante agendas públicas em Araraquara, no interior de São Paulo
atualizado
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São Paulo — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi criticado por um coro de estudantes em meio a um ato político do governo federal em Araraquara, no interior de São Paulo, para marcar investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em obras de drenagem e urbanização.
Em grupo, o grupo disse: “Ô Lula, preste atenção, e negocia com a Educação”. Depois, mudou o canto para o questionamento “E o orçamento das federais?”.
Os gritos foram ouvidos entre os discursos da ministra da Saúde, Nísia Trindade, do presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Antônio Vieira Fernandes, e do ministro das Cidades, Jader Filho. A cerimônia foi no Centro de Eventos de Araraquara e Região (CEAR).
O governo Lula vem lidando com uma onda de greves em universidades e institutos federais desde que fez uma proposta de reajuste salarial zero neste ano, com promessa de reajuste de 9% em 2025. O reajuste deve ser assinado na semana que vem.
Em meio ao coro, coube aos ministros e ao presidente da Caixa defenderem o presidente em seus discursos. Jader Filho chamou Lula de “maior presidente da história do país”. Os auxiliares também lembraram que Lula estava em Araraquara quando sofreu a tentativa de golpe praticada por bolsonaristas em 8 de janeiro do ano passado.
A cidade, do prefeito Edinho Silva (PT), é um dos poucos municípios administrados pelo PT em São Paulo e, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), foi um enclave de resistência às posições contrárias às politicas de distanciamento social, realizando uma série de lockdowns.
Discurso
Lula, ao falar, não se dirigiu diretamente ao grupo, mas dedicou parte do discurso para ressaltar feitos da educação. O presidente lembrou de suas 10 campanhas para a Presidência (contabilizando junto as duas de Dilma Rousseff e a de Fernando Haddad, em 2018, quando o presidente estava preso) e disse que teve da amenizar seu discurso para alcançar um público maior.
“Eu não podia falar todas as coisas, tinha que falar as coisas que soavam vem”, disse Lula. “Eu, a vida inteira, fazia discurso dizendo: ‘Eu vou fazer reforma agrária ampla e radical sob controle dos trabalhadores’. Falava com tanta raiva que chegava a espumar o canto da boca”, complementou.
Em seguida, ele afirmou que, após receber uma pesquisa que dizia que abordar o tema de forma “tranquila e pacífica” era mais eficiente, teve de “amoldar o discurso, não falar com tanta raiva, ser mais simpático, criar o ‘Lulinha Paz e Amor'” , e então, chegou à Presidência.
Após isso, Lula passou a falar de suas viagens em campanha e das diferenças de desenvolvimento econômico entre as regiões do País, para só então falar sobre Educação.
“A gente começou a tentar fazer coisas impossíveis de fazer. A gente começou a acreditar que esse país não poderia ir para a frente se as crianças brasileiras não tivessem oportunidade de estudar. Se o filho das pessoas mais humildes não tivesse chance de entrar em uma faculdade”.
O presidente depois passou a falar de investimentos feitos por seu governo na área, como a abertura de universidades federais fora dos maiores centros urbanos e a aprovação do programa Pé de Meia, que faz aplicações em poupança para estudantes de ensino médio.
“Estamos atendendo 4,8 milhões alunos. Não é uma coisa fácil, é uma coisa que precisa de um pouco de dinheiro. Mas o pessoal do dinheiro falou ‘olha, presidente, isso é muito caro, isso vai dar quase R$ 9 bilhões ao ano’. Não! Isso não é caro não. É que se a gente não fizer agora, daqui a 10 anos a gente vai ter que gastar o dinheiro em cadeia”, disse.
“É preciso mudar o discurso, é preciso saber o que é gasto e o que é investimento. ‘Ah, o governo federal não pode dar aumento para seus funcionários porque é gasto. Quando as empresas vão dar aumento para seus funcionários, por que elas dão? Porque elas sabem que o funcionário precisa do aumento para trabalhar mais feliz. Então, não é gasto, é investimento”, afirmou.
Lula disse ainda que, em seu governo, é “proibido falar em gasto para coisa que é investimento”.
O presidente falou por 27 minutos e, nos instantes finais, foi possível ouvir de novo os gritos relacionados à crise das federais. Mas o restante do público passou a aplaudir em pé o presidente, abafando a crítica. Quando Lula parou de falar, os gritos passaram a ser favoráveis ao petista.