Lojas de roupa por quilo atraem “garimpeiros” e fãs de pechincha em SP
Segmento vende peças a preço baixo e lucra com volume de saídas; Metrópoles visitou duas lojas e conversou com clientes dos espaços
atualizado
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São Paulo – No segundo andar de um prédio da Rua 25 de Março, no centro de São Paulo, grandes pilhas de roupas ficam espalhadas no chão de uma loja. Ao lado de cada pilha, um aviso impresso em papel sulfite informa o cliente sobre o preço das peças. Ou melhor, sobre quanto é cobrado por um quilo delas.
Aberto em 2020 na rua de comércio popular mais famosa da capital paulista, o Bazar Hamuche é um dos exemplos de lojas que vendem roupas por peso em São Paulo.
Nesses comércios, o que define o valor pago em cada peça é apenas o peso que ela tem, o que atrai fãs de uma boa pechincha e os chamados “garimpeiros” de brechós.
“Eu vim pela primeira vez para garimpar, porque tem um mundaréu de roupas. Vou garimpar para ver se tem peças boas para levar para o meu público”, conta Camila Ramires, dona de um brechó on-line que falou ao Metrópoles enquanto fazia compras no Bazar.
O espaço da Hamuche é feito majoritariamente com roupas novas, ainda etiquetadas, e que saíram de linha nas lojas tradicionais da marca ou apresentaram algum defeito simples de fabricação.
Além dos itens fabricados pela própria Hamuche, são vendidas ali marcas como Malwee e Piticas.
As irmãs Laís e Elis Suzuki descobriram o bazar por meio de um vídeo no Instagram e, assim como Camila, foram até lá para “garimpar”.
“É a primeira vez que a gente vem. Ela tinha visto um vídeo no Instagram, e aí a gente quis vir conhecer”, disse Elis.
Na pilha de roupas usadas, a única da loja, Laís encontrou um uniforme dos Correios. “Eu achei interessante para uma fantasia”, afirmou a jovem.
A gerente do espaço, Adriana Silva, conta que o público dos brechós foi um dos primeiros a “descobrir” o bazar, mas que em pouco tempo a loja passou a atingir outros clientes.
“Começou com brechó, mas fez sucesso e atingiu dona de casa, blogueira e até médico”, diz ela.
Adriana explica que peças mais antigas e expostas há mais tempo chegam a ser vendidas por R$ 25 o quilo. As mais novas custam até R$ 95 o quilo e ficam separadas em araras.
Na hora de pagar, os clientes levam tudo até o caixa e descobrem o preço final na balança. A gerente diz que, com um quilo de roupa, é possível comprar até quatro bermudas jeans de adulto.
Roupa infantil
Se as roupas forem infantis, o volume é ainda maior, com até 10 itens por um quilo.
A loja Moda & Kilo, no Brás, também no centro de São Paulo, é focada em peças para crianças e vende roupas novas de marcas como Brandili, Fakini e Marisol.
Nesse caso, não há pilhas de roupas, e as peças ficam em araras. O preço do quilo varia de acordo com a marca escolhida e pode ir de R$ 80 a R$ 300.
A empresária Andreia Zaina visitou o espaço pela primeira vez às vésperas do Dia das Crianças e gastou R$ 483,34 para comprar 24 peças. Uma média de R$ 20 por item.
“Como eu tenho netos que são gêmeos, uma menina e um menino, eu procuro coisas assim [mais em conta]. É muito dinheiro para cuidar de dois”, diz a avó, que mora fora de São Paulo e gosta de presentear as crianças quando vai visitá-las, a cada dois meses.
A auxiliar financeira Tamiris Freitas mora em Taboão da Serra, na região metropolitana, e também foi ao local em busca de economia nos presentes do Dia das Crianças. “É por quilo, então eu vou aproveitar e levar para a criançada toda”, afirmou ela, que saiu da loja com quatro presentes. O valor da compra ficou em R$ 155.
Dona da Moda & Kilo, Cristiane Matos explica que o lucro da loja vem do volume de peças vendidas. “A gente ganha no giro, na quantidade”, diz a empresária.
Cristiane diz que o trabalho de vender roupa por quilo mudou sua vida. Ela começou comercializando as peças por peso no atacado para lojistas em São Vicente, na Baixada Santista, litoral de São Paulo. O sucesso fez com que ela decidisse apostar no varejo.
Primeiro, fez alguns eventos vendendo roupa por quilo para o público em geral ainda na Baixada. “Formava fila”, diz ela. Depois, decidiu vir para a capital paulista e alugar o espaço no Brás.
Hoje, Cristiane mora em São Paulo e, além do espaço físico, faz vendas por videochamada para clientes de várias cidades. Ela conta que, atualmente, administra 40 grupos no WhatsApp com o público da loja.
“Foi uma mudança de vida mesmo”, diz a lojista.