Live e post de PMs escancaram crise de suicídios na corporação em SP
Em 2023, 31 PMs da ativa cometeram suicídio, uma alta de 80% em relação a 2022. O número também é maior que mortes de PMs em confronto
atualizado
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São Paulo — Publicações feitas por um capitão da Polícia Militar sobre um soldado que ameaçou tirar a própria vida durante transmissão ao vivo no Instagram escancaram a crise de suicídios que se instalou na corporação em São Paulo.
Em 2023, 31 PMs da ativa cometeram suicídio, segundo dados do anuário do Fórum de Segurança Pública, publicado nessa quinta-feira (18/7). O número representa alta de 80% em relação a 2022, é o maior da série histórica e ultrapassa as mortes de PMs em confronto.
Na noite da última quarta (17), o soldado Vinicius Laurentino, conhecido como Vinicius Galliatto nas redes sociais, onde tem mais de 90 mil seguidores, se trancou na reserva de armas da 3ª Companhia do 34º Batalhão, em Atibaia, e abriu uma live dizendo que iria se matar. Mais de duas mil pessoas assistiram à transmissão ao vivo. O Grupo de Ações Táticas Especiais da Polícia Civil (Gate) foi acionado e, após horas de negociação, conseguiu fazer com que o soldado se entregasse.
No dia seguinte, o capitão Flavio Soares de Sousa, de São Bernardo do Campo, fez uma série de postagens ridicularizando a postura do soldado.
“Sem dignidade até para tirar a própria vida! Quem escolhe um caminho assume as consequências”, disse Soares. “Eu nunca vi algo selvagem ter pena de si mesmo, um pássaro cairá morto de um galho sem jamais ter sentido pena de si mesmo. Olhem que vergonha. Tenhamos pena”, complementou nos stories.
As postagens receberam apoio de outros policiais militares nos comentários. “Fraco, adora um show e no final da novela muda todo o roteiro”, escreveu o sargento da PM Cezar Romano.
Questionada pelo Metrópoles, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que a postagem “será avaliada” nos termos da Diretriz PM3-006/02/21, de 27 de dezembro de 2021, que versa sobre o uso de mídias sociais e aplicativos de mensagens por policiais militares.
Crise de suicídios
Para a pesquisadora Beatriz Borges Brambilla, doutora em psicologia social e professora da PUC-SP, o aumento no número dos suicídios entre policiais militares no estado de São Paulo está ligado à piora na condição de trabalho nos últimos anos.
“É também uma questão de infraestrutura, de baixos salários. Tem uma dimensão de que a atividade policial já é naturalmente estressante, mas tem uma questão de que a gente tá vivendo condições de trabalho muito ruins para os policiais. Hoje a rotina de um policial é trabalhar todos os dias praticamente 16h, 18h por dia”, disse a psicóloga.
Beatriz Borges Brambilla afirma que a estrutura hierárquica que rege o funcionamento da Polícia Militar também é, muitas vezes, violenta.
“Essa relação da hierarquia, do funcionamento interno das instituições, ela quase por si só produz relações de subordinação, assédio”, completou a pesquisadora.
Busque ajuda
Está passando por um período difícil? O Centro de Valorização da Vida (CVV) pode ajudar por meio do número 188. A organização atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio, atendendo, voluntária e gratuitamente, todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, podem buscar ajuda por telefone, e-mail, chat e Skype, 24 horas, todos os dias.
O Núcleo de Saúde Mental (Nusam) do Samu também é responsável por atender demandas relacionadas a transtornos psicológicos. O Núcleo atua tanto de forma presencial, em ambulância, como à distância, por telefone, na Central de Regulação Médica 192.
Na rede pública da saúde, a assistência psicológica pode ser encontrada nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), hospitais e unidades básicas de Saúde.