“Liga no 190”: homem filmado rendendo jovem com arma é policial civil
Homem que aponta arma para jovem negro foi identificado como investigador da Polícia Civil e apuração foi aberta na Corregedoria
atualizado
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São Paulo – A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou nesta quarta-feira (15/11) que o homem filmado apontando uma arma para um jovem negro, na frente de uma estação de metrô de São Paulo, é investigador da Polícia Civil. O rapaz que aparece no vídeo é acusado pelo homem de ter cometido um furto na região. Até a última atualização desta reportagem, as autoridades paulistas ainda não haviam se manifestado sobre a atuação do policial diante do caso.
Segundo a pasta do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), o policial foi identificado pela delegacia responsável por apurar a ocorrência e a Corregedoria da Polícia Civil foi acionada para investigar a sua conduta. O jovem negro acusado de furto não foi identificado ainda pelas autoridades.
No vídeo, o policial civil, que é chamado de Paulo, aparece empunhando uma arma na direção do jovem. A identidade completa dele não foi divulgada, mas o Metrópoles apurou que se trata do investigador Paulo Hyun Bae Kim.
Já a policial militar que afirmou estar de folga e não interveio ao presenciar a cena foi afastada dos serviços operacionais até a conclusão do inquérito policial militar. Pela omissão, ela pode ser presa ou expulsa da PM.
“A atitude é considerada grave, uma vez que não condiz com os procedimentos operacionais e preceitos fundamentais da Instituição”, diz a SSP, em nota. “Todo policial militar deve agir prontamente sempre que presenciar um crime, estando ou não em serviço.”
Ameaça
As imagens (veja abaixo) foram filmadas no último domingo (12/11). É possível ver que o homem aponta a arma para o rapaz e que a PM é avisada sobre a ocorrência, mas ignora: “Liga no 190”, diz a policial para a pessoa que faz a gravação.
O vídeo foi feito em frente à estação Carandiru do metrô, na zona norte paulistana. As imagens mostram pessoas no entorno dizendo que o jovem negro, que acabara de ser imobilizado por outro homem, tinha tentado praticar um assalto. Ele não estava armado.
O rapaz pede desculpas para Paulo. Ao ver a arma, fica assustado e coloca as mãos em frente ao rosto. “Ele quer me matar”, grita. Nesse momento, Paulo guarda momentaneamente a arma na cintura, após perceber que é filmado pela testemunha.
Pouco depois, o jovem negro consegue se desvencilhar do homem que o segura e começa a correr. Paulo tenta lhe aplicar, sem sucesso, uma rasteira e saca novamente a arma da cintura. Ele aponta em direção ao rapaz, que para de correr perto da barraca de um ambulante.
A mulher que acompanha Paulo também corre e se coloca em frente ao jovem, para evitar que o homem atire, pedindo para ele parar. Duas crianças, um menino e uma menina, estão com o casal.
Quando Paulo aponta a arma para o rapaz, ambos entram no campo de visão da PM, que está fardada, perto de uma das saídas do Metrô.
“Liga no 190”
É nesse momento que a testemunha que registra o caso em vídeo informa à policial que o homem está armado. A PM faz um sinal com a mão, como se fosse um telefone, e afirma: “Liga no 190”.
O jovem negro, em seguida, pede para se sentar e é vigiado por Paulo, com a arma em punho. Quando o rapaz se aproxima da policial, ela lhe dá um chute. “Ela está de folga. Sai daí seu tranqueira”, afirma Paulo, após a agressão da PM.
Logo depois, o rapaz negro sai correndo, após ser ajudado por um homem sem camisa. Paulo guarda a arma na cintura e sai caminhando do local.
Interpelada pela pessoa que grava o vídeo, que pergunta por que ela não agiu, a policial feminina se exalta. “Se o senhor falar comigo desse jeito, eu vou te prender.”
A PM diz ainda à testemunha que foi desrespeitada. “Você falou que eu não presto para nada. Quem não presta é você. Eu estou de folga. O procedimento é ligar 190 e pedir viatura.” O vídeo é interrompido quando a policial parte para cima da testemunha.