“Lapada” ao vivo: ladrões compartilham furtos de iPhones em SP; veja
Furtos de celular praticados por jovens ciclistas em SP são compartilhados e celebrados em rede social, inclusive com transmissões ao vivo
atualizado
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São Paulo — “Fique rico ou morra tentando”. “Se não for o da maçã, o time nem arrisca”. As descrições de alguns perfis no Instagram não fazem questão de esconder aquilo que está ainda mais explícito em fotos e vídeos: ladrões em bicicletas têm compartilhado nas redes o furto de celulares, em especial iPhones, com direito até a transmissões ao vivo das práticas criminosas.
Um desses vídeos viralizou nessa segunda-feira (11/3), após um assaltante postar o furto do celular de um adolescente de 13 anos em Mongaguá, no litoral paulista (veja abaixo). O segundo vídeo é a transmissão de uma live de um dos assaltos.
O dono do perfil postou o vídeo de Mongaguá acompanhado da legenda “Já era, molequinho”. A postagem, retirada do ar pelo autor após a repercussão, acabou chamando a atenção para dezenas de páginas com o mesmo propósito: ostentar os furtos bem-sucedidos e exaltar o estilo “vida loka” de seus praticantes.
Em comum, os nomes de perfis visitados pelo Metrópoles utilizam as expressões “155” (artigo do Código Penal para furto) e “lapada” (gíria para a prática em que o ladrão, em uma bicicleta, passa rapidamente pela vítima e arranca o celular de suas mãos).
Outra constante nos perfis é a sequência numérica “777”. Rico em interpretações, o numeral costuma ser usado, no submundo do crime, como um lembrete de que “a justiça de Deus prevalece sobre as ações criminosas”.
As imagens revelam crimes cometidos não apenas no litoral, mas na capital e na Grande São Paulo. Em alguns casos, são reproduzidos trechos de telejornais com os flagrantes das “lapadas” realizadas pelos ladrões.
O principal objeto de desejo dos bandidos são os celulares da Apple: o famoso iPhone, conhecido pelos preços elevados e por ser um símbolo de status e ostentação. O emoji de maçã verde também é constantemente utilizado pelos marginais, seja para cobrir o próprio rosto após um assalto ou apenas para marcar a quantidade de aparelhos furtados, por exemplo.
Os crimes são divulgados na internet como se fossem algo normal e ocorrem, majoritariamente, com o uso de bicicletas — elas agilizam a fuga depois que o assaltante “dá o bote” em vítimas que, quase sempre, manuseiam celulares distraidamente nas ruas.
Em outros flagrantes postados, é possível ver também a ação de criminosos a pé, que avançam sobre carros e pegam celulares expostos nos painéis — inclusive, quebrando o vidro de alguns veículos para isso.
“Carro passando, vidro abaixando. Por que que tão me olhando? Por que que tão me visando?”, diz a letra de um funk que toca ao fundo de um post em que o autor ostenta diversos celulares furtados.
Vídeo:
“Tomar de quem tem”
Nas postagens, os donos dos perfis enaltecem e tentam justificar a prática criminosa. “Já que nessa vida loka [sic] só tô de passagem, que Deus me permita o melhor dela. Dá pra quem não tem. Tomar de quem tem”, afirma a legenda da foto do dono do perfil, aparentemente um adolescente.
“Me prometi sucesso, sucesso terei… Se não for pelo talento, vai ser pela força de vontade”, diz outra legenda. “Nessa viagem estamos só de passagem. Em busca de cifrão”, afirma uma terceira.
Ação policial
No fim de fevereiro, policiais civis capturaram 30 suspeitos de furtar celulares, usando bicicletas, no centro e nas zonas norte e sul de São Paulo.
Como agem os receptadores de celulares roubados no centro de SP
Os criminosos, segundo investigações da 4ª Delegacia de Capturas do Departamento de Operações Policiais Estratégicas (Dope), usavam as redes sociais para “se vangloriar” dos crimes. A polícia também investiga a destinação dos aparelhos furtados e roubados.
O que diz o Instagram
A Meta, empresa matriz do Instagram e do Facebook, encaminhou nota ao Metrópoles em que afirma ter como diretriz não permitir, aos usuários, usar os serviços da plataforma “para promover atividades criminosas”.
“Para combater esse tipo de conteúdo, as nossas equipes de segurança usam uma combinação de denúncias da comunidade, tecnologia e revisão humana”, diz a nota.
Também em nota ao Metrópoles, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que a Polícia Civil, por meio da Divisão de Crimes Cibernéticos do Deic, “analisa as imagens e informações do perfil citado pela reportagem para identificar os responsáveis e o seu possível envolvimento em crimes”.